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Dois anos se passaram, e foi o suficiente pra eu esquecer o passado — ou pelo menos fingir que esqueci. —

Jackson tem esse jeito de mascarar as coisas, sabe? A rotina vai te engolindo, as pessoas fingem que tá tudo bem, que a gente é uma comunidade, uma família.

No fundo, eu sei que tá todo mundo quebrado de algum jeito, só que aqui é mais fácil empurrar a sujeira pra debaixo do tapete.

Eu me acostumei a viver assim. Acordo cedo, ajudo no que dá — conserto alguma coisa aqui, dou uma mão no estábulo ali. — Ninguém pergunta muito sobre o que eu fazia antes, e eu não dou muita conversa também.

Silêncio é uma bênção, e Jackson tem bastante disso, entre as paredes das casas e os murmúrios dos sobreviventes. Só que... eu não sou feita de pedra.

Tem noites que são mais difíceis. É como se os fantasmas do passado resolvessem fazer uma festa dentro da minha cabeça, dançando com todas as coisas que eu tento enterrar. Nessas horas, eu me pergunto se estou realmente sobrevivendo ou só passando os dias.

Aqui, em Jackson, o frio corta como uma faca, mas é nas sombras que me refugio. Caminhando por entre as ruas silenciosas, os rostos conhecidos se misturam em uma névoa de olhares indiferentes.

Eles não veem o que carrego, o peso das memórias que ainda se agitam em meu peito. Eles não sabem que cada sorriso é uma máscara, cada risada, um eco distante de um passado que insiste em se arrastar como uma sombra.

E, no entanto, há algo libertador em manter essas cicatrizes para mim mesma. A dor, as perdas, os amores impossíveis — tudo isso se entrelaça em um tecido complexo que só eu consigo decifrar. —

Para eles, sou apenas Hazel, a garota que ajuda os outros, mas, na verdade, eu sou um labirinto de sentimentos que eles nunca ousariam explorar.

A verdade é que é mais fácil viver assim. É mais seguro. Quanto menos eles sabem, menos eles me ferem.

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