Capítulo 2

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Dylan Wolf

Sou um dos últimos Lycans da minha espécie, um alfa genuíno, descendente dos mais fortes lobos que já caminharam nessa terra. Formamos um clã pequeno nessa cidade, onde os poucos habitantes conhecem as lendas, acreditam nelas, no entanto, nunca nos viram em nossa forma feral. Não muito longe do centro de Nortéon há também uma pequena aldeia onde os lobos anciãos residem, é lá que as grandes decisões são tomadas e acontecem as celebrações. Há alguns anos, não tínhamos incidentes na cidade, e eu gostava de como tudo se mantinha organizado por aqui. E comigo, e com meu lobo.

Até essa noite, até a chegada dessa pequena garota de olhos azuis e lábios vermelhos, um corpo curvilíneo que fez o lobo dentro de mim uivar assim que coloquei meus olhos sobre ela, naquele jardim escuro.

Algo naquela menina fez o lobo negro em mim se agitar, algo que não acontecia há mais de cem anos, já estávamos convencidos a vivermos sozinhos.

Todos nós temos uma companheira, que em algum momento de nossa vida aparecerá para cumprir o seu destino, produzir descendentes puros para que nossa linhagem não seja extinta. Alguns de nós enlouqueceram buscando por suas fêmeas; eu apenas segui vivendo, sem procurar pensar muito sobre o assunto e no fardo que eu carregava juntamente com o sobrenome Wolf, quebrar a maldição dos lobos, mas agora algo estava diferente. O lobo se fazia mais presente; ele estava agitado e curioso.

Os minutos tornaram-se inquietos desde a chegada da garota a minha casa. Meu lobo interior, normalmente calmo e sob controle, agora parecia nervoso, ansioso para conhecer aquela menina, desvendar seus mistérios, ver-se refletido naqueles grandes olhos azuis.

Eu me pego vagando pela floresta, captando os novos odores que flutuam no ar. O cheiro dela é único, uma mistura de fragrâncias que atiçam meus instintos mais profundos. A proximidade dela é palpável, uma presença que sinto mesmo à distância. O cheiro dela parece estar impregnado por todos os lados.

Corro o perímetro até a cabana onde ela e a avó moravam, os soldados ainda estão por ali, procurando por ela, posso ouvir suas vozes, suas risadas, um deles diz que a quer foder bem fundo e depois matá-la, isso faz meu lobo ficar furioso.

Um rosnado incontrolável escapa entre meus dentes enquanto permaneço oculto entre as sombras das árvores. Um dos soldados, desconfiado, se aproxima em busca de uma visão melhor. Sem hesitar, golpeio-o com a pata, observando sua cabeça deslizar pelo chão até os pés de seus companheiros.

— É a besta! — grita um deles, erguendo seu arco. Avanço sobre eles, aniquilando a todos. O sangue jorra, satisfazendo o furor do meu lobo, faminto por vingança. A carnificina é inevitável.

Contemplo os corpos inertes espalhados pelo solo e sinto o gosto do sangue e da satisfação em minha boca. Pagaram pelo mal que intentavam. Queriam matá-la, profanar seu corpo, e ninguém além de mim faria isso.

O silêncio se instala na floresta após o confronto brutal. Meu lobo interior se acalma lentamente, saciado pela justiça selvagem que infligimos aos que ameaçavam aquela garota, a nossa garota. Entre os destroços humanos, sinto uma mistura de alívio e pesar, pois a linha que separa o humano do animal em mim fica cada vez mais tênue, e eu sabia que isso não era nada bom, controlar o lobo demanda tempo, e eu ainda consigo me lembrar das vidas que meu lobo ceifou nos arredores de Nortéon, e o quão difícil foi mantê-lo calmo.

Durante anos consegui controlar meu instinto lupino, apenas libertando meu lobo, em ocasiões esporádicas, para que ele corresse pela floresta, mas desde que a vi naquele dia quando sua avó foi queimada em praça pública acusada de bruxaria, que algo mudou, meu lobo a quer, ele quer seu sangue, e quer se afundar dentro dela, e como uma maldição, ela chegou até mim, até o lobo.

Volto para casa quando o dia começa a clarear, observo a janela de seu quarto, sinto o sangue ferver em minhas veias.

Ouço passos e vejo Piter se aproximar de mim, meu fiel servo, um lobo assim como eu, ele tem sido meu conselheiro desde o dia em que nasci, mesmo sendo apenas alguns anos mais velho que eu.

— Dylan...

— Sim Piter.

— Sobre a jovem que está na mansão, ela é a neta da bruxa?

— Sim — olho para ele — isso te causa medo?

— Não, mas uma bruxa que lançou a maldição sobre nós, é ao menos desconfortável.

— E talvez uma bruxa possa retirá-la, não acha?

Ele me olha e sorri.

— O sacrifício para a deusa Luna?

— Sim, essa jovem será nosso sacrifício, ela ficará exposta para o lobo, essa noite e ele a matará, isso nos dará mais alguns anos sem transformações — digo me afastando dele e entrando na casa.

Sigo para o meu quarto, e sento-me na beira da cama, o gosto metálico do sangue daqueles homens ainda está na minha boca.

Uma batida na porta me faz interromper meus pensamentos, levanto-me e abro, lá está ela, Scarlett.

— Desculpe-me senhor, eu só vim agradecer a hospitalidade, estou indo embora — ela diz com os olhos baixos.

— E para onde vai? — pergunto.

— Eu não sei, vou seguir para o norte, eu acho — vejo-a torcer as mãos.

Caminhei para dentro do quarto e parei olhando para ela, que ainda se mantinha ali na porta de cabeça baixa.

— Estive pensando, você pode ficar, como você mesma disse a casa é grande, deve ter algo que possa fazer, com isso pagará pelo teto e a comida.

Ela me olha e sorri, Scarlett tinha um sorriso lindo.

— Muito obrigada senhor, é desculpe não sei seu nome.

— Dylan Wolf — digo.

— Senhor Wolf, eu prometo que não vou decepcioná-lo — ela me encara.

— Acredito que não, pode começar me preparando um banho, os outros criados já deixaram os baldes com água, encha a banheira.

— Sim, senhor — ela diz começando a pegar os baldes, posso ver seus seios pelo decote do vestido, a única coisa que atrapalha a minha visão é aquela maldita capa.

— Por que não tira a capa?

— A capa? — ela me olha — Foi um presente da minha avó, é como se ela estivesse comigo enquanto a uso.

— Certo — digo e começo a tirar minhas roupas, quando estou completamente nu, Scarlett olha em minha direção.

— Ai ! — ela leva a mão aos olhos.

— O que foi? — pergunto.

— Eu nunca, nunca vi um homem nu — ela diz ainda de olhos fechados.

Uma virgem.

O lobo adoraria o sangue de uma virgem.

— Pode tirar as mãos dos olhos, já estou na banheira — digo e ela faz o que falo, encaro seu rosto corado, ela era bonita, uma pena que meu lobo a quisesse matar.

— Me desculpe — ela diz caminhando em direção a porta.

— Scarlett — chamo e ela para — A noite teremos uma celebração no pátio norte da mansão, perto da floresta, quero que esteja lá.

— É, eu, eu ... — ela começa a falar.

— É uma ordem — digo.

— Sim, senhor — ela diz e sai do quarto, fecho meus olhos e me permito relaxar, flashes da noite anterior invadem a minha mente, mesmo na forma humana, eu podia me lembrar do que o lobo fez, eu vejo através dos seus olhos.


Nas Garras do LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora