O tilintar das campainhas da joalheria soou suave no fundo, mas Clara estava muito perdida em seus pensamentos para notar. Ela observava Rael, que examinava sua aliança sob a luz da vitrine, sua expressão profissional mascarando uma curiosidade silenciosa.
— Então, você vai precisar de um empréstimo ou apenas deseja vender? — ele perguntou, levantando os olhos para Clara.
Ela hesitou, o peso do anel em sua mão parecendo mais pesado do que nunca.
— Eu... preciso apenas penhorar. — respondeu, sua voz quase falhando. — É só por um tempo.
Rael acenou, fazendo anotações em um formulário. Clara se perdeu em suas lembranças, revivendo o momento em que Lucas lhe ofereceu a aliança. As promessas de amor e um futuro juntos ainda estavam frescas em sua memória, mas agora pareciam distantes, como se pertencessem a outra vida.
— Entendo. A maioria das pessoas que vem aqui se sente mal ao fazer isso. — Rael comentou, interrompendo seus pensamentos.
Clara olhou para ele, confusa.
— Você já teve que penhorar algo? — ela questionou, seus olhos se fixando nos dele.
— Não, mas já vi muita gente passar por isso. É sempre uma decisão difícil. — Rael respondeu, com um tom compreensivo.
— É como se você estivesse desistindo de algo que deveria ser valioso, não é? — Clara disse, suas palavras saindo de um lugar profundo dentro dela.
Rael assentiu, sua expressão se suavizando.
— Sim, mas às vezes é a única opção. Você está fazendo isso por uma razão, certo? — ele perguntou, seu olhar sincero.
Clara suspirou, lembrando-se das contas atrasadas, das cobranças incessantes e da pressão constante para manter a casa em ordem. Ela se sentiu vulnerável, compartilhando um pedaço de sua alma com um estranho.
— Estou só tentando cuidar da minha família. — disse ela, forçando um sorriso. — Às vezes, isso significa sacrificar coisas.
Rael olhou para ela, seus olhos brilhando com compreensão.
— Você é forte. — ele disse, sua voz baixa e firme. — Muitas pessoas não têm coragem de fazer isso.
Aquelas palavras ressoaram dentro de Clara. Ela se sentiu vista, como se Rael pudesse entender sua luta.
— Obrigada. Eu só... queria que as coisas fossem diferentes. — Clara respondeu, sentindo um nó na garganta.
Rael pegou a aliança e voltou a olhar para ela.
— Isso vale mais do que você pensa. Não se esqueça disso. — ele disse, entregando o documento de penhor a Clara.
Enquanto ela assinava, um silêncio confortável se estabeleceu entre eles. Clara não sabia como, mas Rael parecia entender a dor e a esperança que a acompanhavam.
Após concluir o processo, Clara saiu da joalheria, sentindo uma mistura de alívio e tristeza. A aliança não estava mais em seu dedo, mas a sensação de liberdade e responsabilidade a cercava. O mundo lá fora estava vibrante, e o sol brilhava intensamente. No entanto, o peso da decisão a acompanhava.
Quando chegou em casa, Lucas a esperava, com um olhar preocupado.
— Clara, onde você esteve? — ele perguntou, notando a expressão em seu rosto.
— Fui à joalheria. — Clara disse, tentando manter a calma. — Precisava resolver algumas coisas.
Lucas franziu o cenho, seu olhar penetrante a avaliando.
— Alguma coisa aconteceu? — ele insistiu, já começando a levantar a voz.
— Nada que você precise se preocupar. — Clara respondeu, decidida a não deixar que a tensão entre eles aumentasse. — Só tive que penhorar a aliança.
— A aliança? — Lucas repetiu, seus olhos se arregalando. — Por que você faria isso?
— Porque precisamos pagar as contas, Lucas! — Clara gritou, a frustração transbordando. — Não posso ficar esperando por você para resolver tudo!
— Você não deveria ter feito isso sem me consultar. — Lucas disse, cruzando os braços em um gesto defensivo.
— E o que você sugere? Que eu simplesmente assista tudo desmoronar? — Clara disparou, sentindo que a conversa estava se tornando mais uma vez um campo de batalha.
A tensão entre eles era palpável, mas Clara se sentia decidida a não se deixar abater.
— Eu estou fazendo o melhor que posso. — Clara disse, sua voz agora mais calma. — Eu quero que nosso filho tenha um futuro melhor.
Lucas a encarou, e por um momento, o silêncio pairou no ar. Ele parecia refletir sobre suas palavras, mas a defensiva ainda estava em sua postura.
— Só estou dizendo que você deveria ter me consultado. — ele insistiu, mas sua voz estava menos agressiva.
— E eu estou dizendo que às vezes precisamos tomar decisões difíceis sozinhos. — Clara respondeu, encarando-o nos olhos.
Finalmente, Lucas soltou um suspiro cansado, como se a batalha estivesse esgotando suas forças.
— Só quero que você saiba que eu me preocupo com você. — ele disse, sua voz suavizando. — É só que... é difícil.
Clara sentiu uma onda de compaixão por ele. Lucas também estava lidando com suas próprias pressões e inseguranças, mas isso não diminuía sua luta.
— Eu sei. E eu me preocupo com você também. — Clara disse, tentando encontrar um caminho de volta à conexão que uma vez tiveram.
Aquele momento de vulnerabilidade trouxe um pouco de paz entre eles, mas Clara sabia que a luta estava longe de terminar. Ela estava determinada a encontrar uma maneira de ser mais do que apenas a mulher que cuida da casa e do filho.
E com Rael em sua mente, uma nova esperança começou a se formar.
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RUPTURA, ROMPE
ChickLit"Não era para ser nada especial. Ela entrou na joalheria sem expectativas, sem grandes planos. Apenas mais um dia comum em uma cidade onde as pessoas mal se olham nos olhos. Até que ele apareceu. O atendente com olhar atento, palavras exatas, e um s...