se não fosse tão tarde.

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──── a gente se perdeu e
não se encontrou mais

𝐀𝐌𝐀𝐑𝐈
se não fosse tão tarde.

"...em poucas semanas antes dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, há uma crescente preocupação entre os membros da Confederação Brasileira de Tênis (CBT) quanto à sua participação nos jogos. Fontes próximas da atleta revelaram que Amari está em um estado de exaustão emocional e que seus treinadores e equipe médica estão monitorando de perto sua condição de saúde."

O silêncio da área VIP e o cheiro do café eram muito agradáveis e estavam alcançando a sala privativa, enquanto Stella tamborilava os dedos na mesa, os olhos em qualquer lugar além da tela do notebook. Estava realmente considerando terminar aquela conversa mais cedo. Não era que não tinha coisas a falar — ela sempre tinha muito a falar — mas o cansaço nos ombros e o sono estavam matando todo seu carisma.

— Você está mais calada hoje — observou Tatiana, psicóloga de Stella há quase seis anos. — Existe alguma coisa que você ainda não se sente confortável em me contar?

Tati estava sondando-a desde o início da sessão, tentando conseguir alguma resposta reativa. Stella sabia o por quê. Todo mundo queria entender se ela estava apta aos Jogos Olímpicos. Nem ela tinha essa resposta.

— Não — respondeu, encostando a coluna na cadeira. — Só estou um pouco exausta.

Esgotada. De todas as maneiras possíveis.

— Você está conseguindo dormir, Stella?

Demorou para responder, fingindo não perceber a preocupação na voz dela, e desviou o olhar para a propaganda colada na parede da sala. — Na maior parte do tempo.

Quando a mulher não respondeu, Stella suspirou, enfiando as mãos nos bolsos da jaqueta.

— Não é pior do que você imagina, acredite em mim — acenou com a cabeça. — Ano Olímpico.

Tatiana assentiu, satisfeita, como se aquele fosse um tema que ela estava esperando Stella mencionar. — Faltam apenas duas semanas para os jogos. Foi uma escolha sua passar alguns dias em casa antes de viajar para Paris? Você não voltou ao Brasil desde que seu pai morreu.

— Minha mãe pediu que eu voltasse.

Depois de cinco meses agindo como estranhas, Stella quase não acreditou quando Sabrina ligou para dizer que ela e a mãe estavam desembarcando em Londres para assistir ao último jogo do campeonato. Era a primeira vez que isso acontecia.

— Vocês conseguiram conversar sobre o que aconteceu?

— Não tivemos a oportunidade. Ela está fingindo que nada aconteceu — contou, soltando o ar pelo nariz. — É típico dela, na verdade. Não sei por que estou surpresa.

Vez ou outra, Stella sentia que a vida era um ciclo infinito de adiar as coisas até elas explodirem em seu rosto.

— As pessoas lidam com o luto de maneiras diferentes — comentou Tatiana, batendo a caneta no caderninho cor-de-rosa. — Ela vai estar em Paris?

— Não tenho certeza... minha irmã quer muito estar lá, mas minha mãe não me deu nenhuma certeza e, sinceramente... não sei como me sinto com ela lá.

— Você me contou que a presença dela em Wimbledon foi importante para você. O que muda com as Olimpíadas?

Stella hesitou antes de responder. — Tem muita coisa acontecendo agora... nos Jogos, é sempre diferente. Eu não estou jogando só por mim dessa vez, sabe? Estou representando o meu país. A expectativa é muito grande.

(I) 𝐀𝐌𝐀𝐑𝐈, gabriela guimarãesOnde histórias criam vida. Descubra agora