seguir em frente.

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──── todos os meus amigos dizem
que eu deveria seguir em frente

𝐀𝐌𝐀𝐑𝐈
seguir em frente.

Maria Stella tinha apenas dezoito anos quando decidiu sair de casa, com a desculpa de que precisava daquela liberdade para crescer, e não porque ela e a mãe não funcionavam mais debaixo do mesmo teto. Foi uma das melhores decisões que teve na vida. Se mudar antes de destruir completamente aquele relacionamento foi o que tornou possível as noites em família depois do jantar — os irmãos no sofá, a pequena sobrinha no tapete, a mãe organizando algumas roupas que ela tinha esquecido em casa.

Estava de barriga para baixo, ajudando Laura a empilhar blocos coloridos no chão há quase meia hora. A pequena pegou um bloquinho, olhou para Stella e fez uma tentativa desajeitada de encaixá-lo em outro, fazendo-o tombar em um desastroso colapso. O riso contagiante do bebê fez com que Maria Stella não conseguisse conter a risada, que inclinou e plantou um beijo na bochecha gorda da sobrinha.

— Continue tentando, meu amor — disse Stella, acariciando os cabelos cacheados de Laura. Ela sorriu, como se entendesse cada palavra, e tentou pegar outro bloco, determinada a recomeçar a construção.

Do sofá, Ayrton, seu irmão mais velho, interrompeu o momento com uma risada contida. — Ela está obcecada por esses bloquinhos desde que você deu de presente de aniversário.

Sabrina, a mais nova, assentiu com firmeza. — Ela dorme com eles.

Stella sorriu, ajudando Laura a encaixar um bloquinho rosa na lateral da construção.

— Talvez ela se lembre de mim — comentou, baixo, apoiando o rosto no braço de Laura brevemente. — Faz muito tempo desde que a gente se viu, não é, amorzinho?

Laurinha riu, batendo um dos blocos no chão.

— Você não voltou para casa desde janeiro — falou Ayrton, e Stella tentou ignorar o tom amargo na voz dele. — É difícil acompanhar quando você está tão longe.

Sabri, percebendo a tensão no ar, interveio rapidamente. Ela sempre foi a mais perceptiva entre eles. — Você está aqui agora, é isso que importa.

Ayrton cruzou os braços, mas seu olhar suavizou ao ver a pequena Laura novamente tentando empilhar os blocos, que era tão grandes que quase não cabiam nas mãos.

— Além disso — Sabrina continuou, erguendo as sobrancelhas várias vezes. — Vamos para Paris em alguns dias! Vocês querem um cronograma familiar melhor do que esse?

Ayrton olhou atentamente para Stella, sua expressão se tornando mais séria. — Mas Stella ainda não confirmou presença nas Olimpíadas. Está deixando a mídia especular sobre a situação há dias.

Stella não olhou para ele, apenas continuou concentrada na sobrinha, sentindo um nó de irritação na garganta. Ayrton, assim como a mãe deles, era muito bom em ser inconveniente quando a situação não pedia. Ela sabia que ele estava preocupado— o franzir da testa já mostrava isso, só que o irmão era a última pessoa com quem Stella queria ter aquela conversa.

— É óbvio que ela vai estar lá — interrompeu Sabrina, com um olhar afiado. — Stella nunca perderia a oportunidade de ver a Gabi Guimarães de novo, ainda mais agora que ela está solteira.

Stella riu, desacreditada. — Não começa, Sabrina.

— Ah, eu amo encontros dramáticos — ela ignorou a irmã, digitando alguma coisa no celular. — Toda vez que eu vejo um edit de vocês no Tik Tok eu ganho um ano de vida.

(I) 𝐀𝐌𝐀𝐑𝐈, gabi guimarãesOnde histórias criam vida. Descubra agora