𝕿𝖍𝖊 𝕽𝖎𝖘𝖊 𝖔𝖋 𝕳𝖔𝖘𝖘𝖑𝖊𝖗

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Angie , point of view

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Despedi-me de Vinnie. O primeiro dia finalmente havia chegado ao fim, e, por mais que o ambiente fosse hostil, ao menos conheci um pouco mais dele.
Vinnie é surpreendentemente carinhoso, alguém que parece ver além das aparências. E isso foi um alívio em meio a todos os olhares reprovadores que me lançaram ao longo do dia.

Eu realmente não entendo por que as pessoas são tão cruéis quando você se atreve a ser diferente, a se afastar um pouco do padrão. E, ironicamente, mesmo se você se encaixa nesse padrão, acaba tendo que lidar com pessoas superficiais, interessadas apenas no que você pode oferecer em termos de status ou bens materiais. Foi assim que vivi minha antiga escola, e acho que o trauma disso ainda se esconde nas minhas atitudes.

Talvez seja por isso que escolhi tentar ser mais simples , uma tentativa de me camuflar para não chamar atenção. Mas ser alguém que não sou... isso custa caro.

Cheguei até meu carro, meu querido e desgastado Twingo, que eu carinhosamente apelidei de "lata velha". Não era nada glamoroso, mas tinha um valor sentimental inestimável.

No entanto, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ouvi risadas maldosas atrás de mim. O grupo de Madison se aproximava, com aqueles sorrisos cínicos que eu já conhecia bem. Um dos caras segurava uma lata de tinta nas mãos e não demorou a abrir a boca para disparar o comentário venenoso:

- Acho que você precisa se atualizar. Quem ainda dirige um Twingo em pleno 2024? E ainda por cima amarelo? - zombou, fazendo os outros rirem alto.

O som de risadas em coro se tornou uma trilha sonora insuportável enquanto ele despejava tinta azul sobre o carro, e outro logo completava com tinta roxa, pintando o que restava de dignidade daquele meu pequeno refúgio.

Senti o sangue ferver nas veias, e, mesmo com a voz trêmula, consegui gritar:

- Parem com isso, seus idiotas! - Empurrei um deles, meus olhos ardendo de raiva e frustração. - Vocês não sabem com quem estão mexendo. Meu irmão tem dinheiro suficiente para colocar todos vocês no lugar um dia. - As lágrimas ameaçavam me trair, mas eu segurei firme. Não podia mostrar fraqueza.

Um ruivo com sardas deu um passo à frente, com um sorriso de escárnio no rosto:

- Calma, morena, só estamos dando as boas-vindas.

Engoli o nó na garganta, sabendo que jamais deixaria que rissem de mim outra vez. Entrei no carro, liguei o motor e saí dali antes que a tempestade de emoções que me invadia me fizesse agir e acidentalmente atropelar alguem por "acidente" .

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Assim que cheguei em casa, senti minhas pernas tremerem, exaustas e frustradas. Subi as escadas em disparada, lutando contra o impulso de desmoronar ali mesmo. Quando quase alcancei meu quarto, encontrei Jaden bloqueando o caminho, os braços cruzados, o olhar inexpressivo como uma muralha.

- Achei que nossos pais tivessem te ensinado boas maneiras - disse ele, a voz fria como aço, mas algo em seus olhos suavizou quando viu meu estado - meus olhos inchados, as lágrimas escorrendo pelo rosto.

- Estou cansada, Jaden. Cansada de tudo. - Minha voz saiu baixa, mas cheia de frustração. - Sou obrigada a mudar de escola e nem o meu próprio irmão está do meu lado. Eu só quero voltar para casa, nunca mais colocar os pés em uma escola.

Fui tentar passar por ele, mas Jaden fez algo que me pegou completamente de surpresa. Ele me puxou para um abraço apertado, e, dessa vez, não resisti. Afundei no calor do abraço dele, como se aquela fosse a primeira demonstração de afeto que recebi desde que chegamos aqui. Por um instante, toda a raiva e o orgulho foram embora, deixando apenas o cansaço.

- O que aconteceu, Angie? - ele sussurrou, mas eu não tinha forças para responder.

Nesse momento, Clara apareceu, sua expressão preocupada ao olhar para nós.

- Desculpem interromper, mas o que aconteceu com o carro da menina Angie?

Jaden se afastou, seus olhos fixos nos meus. Baixei a cabeça, sentindo uma vergonha profunda por ter permitido que estragassem algo que ele me dera.

- Um grupo de idiotas jogou tinta no carro. Eu tentei... eu realmente tentei impedir, mas... Bem , você bem que poderia dar - lhes uma pequena lição

- Não há desculpas. - Jaden interrompeu, ajeitando a postura. Seus olhos endureceram, e seus punhos se fecharam. - Eu adoraria dar a eles uma lição, mas usar meu poder contra eles não é uma opção. No entanto, podemos garantir que ninguém mexa com a minha irmã novamente.

Ele olhou para mim, sua expressão séria suavizando um pouco, mas ainda carregada de determinação. - Vamos, eu quero te levar a um lugar.

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Jaden me levou até uma concessionária, o tipo de lugar onde até o cheiro do couro dos bancos parece custar uma fortuna. Sem uma palavra, ele me guiou até um modelo impressionante - um Mustang preto fosco, com detalhes em vermelho sangue, elegante e brutal. Ele me entregou as chaves, seu olhar fixo nos meus como se estivesse fazendo uma promessa.

- Considere isso um novo começo , lembre se de não ameaçar as pessoas com processos só por causa do seu sobrenome - ele disse, a voz baixa e controlada , dando um leve sorriso . - Você é uma Hossler, Angie. Tem de se comportar como uma .

Segurei as chaves e senti que minha vida estava mudando naquele exato momento. Aquele carro era mais do que um presente; era uma declaração de guerra. Uma declaração de que eu jamais voltaria a ser o alvo de ninguém.

Eles escolheram anunciar guerra .

E como eu odeio perder , com certeza, desta vez, eu sairei vitoriosa.

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I let the world burn , Angie & LiamOnde histórias criam vida. Descubra agora