𝖂𝖍𝖎𝖘𝖕𝖊𝖗𝖘 𝖔𝖋 𝖙𝖍𝖊 𝕻𝖆𝖘𝖙

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Angie , point of view
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A porta da minha casa se abriu com um rangido familiar, mas a sensação que me envolveu ao cruzar o limiar não era a mesma de antes. As paredes, outrora cheias de risos e lembranças, agora pareciam frias e distantes. O que Jaden havia revelado sobre meus pais ressoava como um eco persistente na minha mente, transformando cada canto em um lembrete doloroso do que havia sido perdido. O peso da tristeza se acumulava em meu peito, e a solidão parecia uma sombra constante.


Eu precisava de alguém, de uma âncora em meio ao turbilhão de emoções que me afligia. Mesmo sabendo que era um risco, liguei para Vinnie. As minhas mãos tremiam ligeiramente enquanto esperava pela resposta, um misto de esperança e ansiedade. Quando ouvi sua voz, um alívio imediato inundou meu ser.

— Oi, Angie. O que aconteceu? — perguntou ele, a preocupação evidente em cada palavra.

— Nada de mais. Só… não estou bem. Você pode vir? — As palavras saíram em um sussurro, como se eu temesse que alguém ouvisse minha vulnerabilidade.

— Estou a caminho. Onde você mora?

O tempo parecia esticar enquanto aguardava sua chegada. Finalmente, ouvi o som da campainha. Ao abrir a porta, fui recebida pela imagem de Vinnie, que trouxe uma onda de calor e conforto com sua presença. Seu sorriso iluminava a sala de estar, e por um breve instante, tudo parecia menos pesado.

— Oi, — disse ele, com uma leveza que contrastava com meu estado emocional. — E então, posso ver sua mansão?

A maneira como ele brincou me fez soltar um riso nervoso, uma fuga temporária da dor que me oprimia.

— É mais uma casa velha do que uma mansão, mas tudo bem — respondi, tentando não dar muito peso à tristeza.

Conduzi Vinnie pela casa, o silêncio reverberando em cada cômodo que atravessávamos. A sala de estar era um campo de memórias; cada objeto, cada móvel, carregava a essência de momentos que pareciam agora tão distantes. As paredes eram testemunhas de risadas, lágrimas e sonhos compartilhados, mas agora pareciam ecos de um passado perdido.

— Esta era a sala onde todos nós nos reuníamos — falei, minha voz tremendo ao tocar em cada detalhe. — Agora, parece vazia.

Ele se virou para mim, seus olhos capturando a tristeza que eu tentava esconder. Havia uma profundidade neles que me fez sentir que ele realmente se importava.

— Às vezes, o vazio pode ser mais difícil do que a dor, — disse ele, sua voz suave e reconfortante. Ele se aproximou mais, como se quisesse me envolver em seu mundo, um mundo onde eu não estaria sozinha.

Sentei-me no sofá, e Vinnie me acompanhou, sua presença constante e tranquilizadora. Era como se, com ele ali, a escuridão não pudesse se aproximar tanto.

— Então, o que aconteceu com seus pais? — ele perguntou, gentilmente, quebrando o silêncio tenso que pairava entre nós.

Respirei fundo, tentando reunir coragem para compartilhar o que pesava em meu coração. Cada palavra que eu pronunciava parecia carregada de emoção, mas era hora de libertar esse fardo.

— Meus pais . Eles… eles foram assassinados. Jaden me contou que foi uma emboscada. Alguém cometeu esse crime, e eu… não sei como lidar com isso — confessei, as lágrimas ameaçando escorregar pelo meu rosto.

Vinnie ficou em silêncio, absorvendo minhas palavras. Ele não parecia chocado, apenas… solidário. A forma como me olhava fazia com que eu me sentisse vista, como se minhas dores e lutas não fossem em vão.

— Sinto muito, Angie. Não deveria passar por isso sozinha — disse ele, sua voz firme, mas repleta de empatia.

— O mais difícil é saber que Jaden também está lidando com a dor. Ele não ficou comigo depois de me contar. Eu me senti tão sozinha. Esperava que ele estivesse aqui para me apoiar, mas ele estava tão perdido quanto eu — expliquei, a frustração se misturando à tristeza.

— Às vezes, as pessoas não sabem como lidar com a dor dos outros. Não é porque não se importam. — Vinnie fez uma pausa, sua expressão séria. — Eu estou aqui, Angie. Você não está sozinha. Se precisar de alguém, pode contar comigo.

Seu toque na minha mão, firme e protetor, me fez sentir uma onda de segurança que eu não sabia que precisava. Agradeci a ele com um sorriso tímido, um pequeno reflexo de esperança em meio à tempestade.

— Eu só queria que tudo fosse diferente. Queria ter meus pais de volta. Queria que Jaden estivesse aqui comigo — murmurei, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, cada uma carregando um fragmento de dor.

Vinnie se inclinou mais perto, seu olhar fixo em mim, como se estivesse tentando transmitir uma força silenciosa.

— Às vezes, a vida não é justa. Mas você não precisa enfrentar isso sozinha. Eu prometo que estarei ao seu lado — disse ele, e, naquele momento, percebi que havia uma verdade em suas palavras. Ele não estava apenas aqui por obrigação; ele se importava.

Enquanto conversávamos, comecei a sentir que Vinnie era mais do que um amigo. Ele queria entender minha dor, meu passado, e isso me fazia sentir um pouco mais leve. Com cada história que compartilhava, cada lágrima que caía, uma parte de mim se curava lentamente.

O sol começava a se pôr, lançando uma luz dourada pela sala, e eu percebi que, mesmo em meio à dor e à solidão, havia esperança. Havia algo de bom que começava a florescer entre nós, algo que me dava motivos para acreditar que o amanhã poderia ser um pouco mais brilhante.

Naquela noite, enquanto conversávamos e ríamos, mesmo que levemente, uma nova amizade começava a se formar, e eu sabia que, independentemente do que o futuro reservasse, eu tinha alguém ao meu lado.

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I let the world burn , Angie & LiamOnde histórias criam vida. Descubra agora