Cspitulo 1: O encontro dos dois mundos.

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Soraya suspirou pesadamente, observando as vastas plantações e colinas que se estendiam até onde a vista alcançava. Estava de volta ao Brasil, a uma realidade que não era mais sua. Ou talvez nunca tivesse sido. Suas mãos delicadas, adornadas com anéis finos e um relógio caro, seguravam o celular como se fosse sua única conexão com o mundo civilizado. Ela olhou para o céu claro, sem nuvens, enquanto sentia o vento quente do interior do país brincar com seus cabelos loiros, que agora pareciam fora de lugar naquela paisagem rústica.

Depois de anos vivendo na Europa, entre as cidades mais sofisticadas, festas exclusivas, eventos de moda e jantares em restaurantes estrelados, ela estava ali. "Tem que aprender sobre suas raízes, Soraya", seu pai havia dito pela enésima vez. Ele a forçou a voltar para casa. A fazenda, segundo ele, fazia parte da herança da família, algo que ela precisava conhecer melhor. Mas como isso fazia parte de sua vida? Ela se perguntou, enquanto o carro avançava lentamente pela estrada de terra. Aquilo era outra realidade, completamente distante da sua.

- Você vai gostar, Soraya. A fazenda é mais do que apenas terra e gado. Tem uma beleza que você ainda não viu - disse o motorista, tentando puxar conversa.

Soraya, que até então mantinha os olhos fixos no celular, finalmente levantou o olhar para a paisagem. O verde era impressionante, ela não podia negar. Mas não era o tipo de beleza que a atraía. Faltava sofisticação, faltava o brilho das vitrines parisienses e o charme das ruas de Milão. Ela sabia que seu pai estava tentando forçá-la a se reconectar com algo que, na visão dele, era mais autêntico. Mas Soraya era uma criatura da cidade, do luxo e da arte. Ali, ela se sentia deslocada.

Finalmente, o carro parou em frente à casa principal da fazenda. A construção era bonita, uma mistura de rusticidade com elegância. A varanda larga com cadeiras de madeira, as grandes janelas com cortinas leves balançando ao vento. Era acolhedora, de fato, mas ainda assim, tão longe da grandiosidade dos apartamentos que Soraya costumava frequentar.

- Bem-vinda de volta, senhorita Soraya - o motorista disse, abrindo a porta para ela.

Soraya desceu do carro, sentindo o calor da terra debaixo de seus saltos. Já começou a odiar o local só por isso. A terra vermelha já havia manchado o couro de suas botas caríssimas. Ela suspirou mais uma vez, irritada. Mas foi quando levantou o olhar que algo a pegou de surpresa.

Encostada na caminhonete, uma Fiat Toro preta, estava uma mulher que parecia dominar aquele ambiente com uma confiança inabalável. Simone. Os braços cruzados, o semblante sério, o chapéu de couro levemente inclinado sobre os cabelos castanhos presos em um coque. Ela usava botas sujas de poeira e uma camisa de flanela que deixava seus braços definidos à mostra. A postura relaxada, porém cheia de autoridade, parecia desafiar qualquer um a se aproximar dela sem sua permissão.

Soraya não pôde deixar de notar o quanto aquela mulher era diferente de todas as pessoas que havia conhecido. Simone exalava uma aura de poder bruto, uma força tranquila, mas perigosa. A pele queimada de sol, o olhar afiado, como se estivesse sempre um passo à frente de tudo e todos ao seu redor. Ela parecia parte da terra, dos cavalos, das tempestades. Era uma figura que, de alguma forma, intimidava e intrigava Soraya ao mesmo tempo.

- Não sabia que a princesinha da cidade estava de volta - Simone disse, sua voz rouca, mas firme, carregada de um tom levemente provocativo.

Soraya, sem perder a compostura, ergueu uma sobrancelha em resposta. Princesinha? Quem ela pensava que era? Aquele sarcasmo inicial a incomodou, mas ao mesmo tempo despertou algo dentro dela.

- E eu não sabia que a fazenda virou cenário de novela de boiadeira - retrucou Soraya, sem pestanejar, com um leve sorriso de desdém. Ela não ia permitir que aquela mulher a desafiasse sem dar o troco.

O olhar de Simone estreitou, mas ao invés de se ofender, ela sorriu de canto. Não era um sorriso amigável, era um sorriso de quem adorava uma boa briga, uma boa provocação. E era claro que Soraya acabara de entrar no jogo dela.

- Só tenta não tropeçar com esses saltos na terra, menina da cidade - Simone respondeu, empurrando-se para longe da caminhonete com um movimento lento, mas cheio de propósito. - Eu tô aqui pra ajudar seu pai, não pra ficar de babá.

Soraya bufou, apertando os lábios. Algo naquela mulher a irritava profundamente. Talvez fosse a maneira como ela parecia tão à vontade ali, enquanto Soraya se sentia uma estranha em sua própria casa. Ou talvez fosse o jeito como Simone falava com ela, como se já soubesse tudo sobre sua vida, como se já tivesse a medido e achado que não valia nada.

- Não se preocupe, eu não preciso de babás. - Soraya respondeu com um tom afiado, puxando sua bolsa e caminhando em direção à casa, como se a discussão tivesse acabado ali.

Simone observou Soraya se afastar, os olhos dela acompanhando cada passo, o jeito altivo com que ela andava, como se estivesse desfilando em uma passarela invisível. Uma parte de Simone achava aquilo divertido. Outra parte, no entanto, sentia um leve desconforto. Aquela garota não pertencia àquele lugar, e ambas sabiam disso. Mas ainda assim, havia algo em Soraya que despertava a curiosidade de Simone. Algo que ela ainda não conseguia decifrar.

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Dentro da casa, Soraya foi recebida pelos pais com abraços calorosos. A mãe dela, uma mulher gentil, que sempre tentou manter um equilíbrio entre o campo e a cidade, falava animadamente sobre os novos projetos da fazenda, sobre como tudo estava indo bem, graças à ajuda de Simone.

- Você vai adorar conhecer a Simone, filha - disse sua mãe, enquanto servia chá na mesa da sala. - Ela é incrível. Não sei o que faríamos sem ela. A Simone praticamente salvou a fazenda quando seu pai ficou doente.

Soraya, que até então estava distraída mexendo no celular, ergueu os olhos, intrigada.

- Simone? Aquela mulher com cara de poucos amigos lá fora?

A mãe riu suavemente, como se achasse graça da percepção da filha.

- Ela pode parecer durona, mas tem um coração de ouro. É uma das melhores fazendeiras da região. Donas de terras e muito respeitada pelos vaqueiros.

Soraya apenas assentiu, sem demonstrar muito interesse. Apesar de suas tentativas de ser indiferente, o nome de Simone começava a reverberar em sua mente, como uma presença que ela não conseguia ignorar.

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Naquela noite, Soraya não conseguia dormir. O calor da fazenda, o silêncio quebrado apenas pelo som distante dos animais e o zumbido das cigarras faziam tudo parecer surreal. Ela se levantou da cama, descalça, e foi até a janela. Do alto do quarto, conseguia ver a vastidão da fazenda sob a luz fraca da lua.

E lá, perto do curral, viu uma luz acesa. Era Simone, cuidando dos cavalos. Mesmo àquela hora da noite, ela estava lá, trabalhando como se o tempo nunca parasse. Soraya observou por alguns minutos, fascinada pela imagem daquela mulher tão conectada com o lugar, tão parte dele. Algo dentro dela a incomodava. Talvez fosse a sensação de não pertencer, de ser apenas uma intrusa naquele universo.

Mas, ao mesmo tempo, havia algo a mais. Algo que ela ainda não conseguia entender completamente. E Simone, com sua presença firme e desafiadora, parecia ser a chave para desvendar aquilo.

Soraya se afastou da janela, deitando-se na cama com a cabeça cheia de pensamentos. Mal sabia ela que aquele encontro de dois mundos estava apenas começando.










Oieeee, bom essa fic vai ser uma caixinha de surpresas, pq nem sei oq vai acontecer, mas espero que gostem. Sugiro que leiam a descrição da fic

Entre laços e Esporas - SimorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora