1 | O Encontro

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— narrador on

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narrador on

O som estridente do despertador ecoou pelo quarto, tirando Sarah de um sono leve e agitado. Ela abriu os olhos devagar, piscando contra a luz suave que se infiltrava pelas frestas da cortina. Hoje era o primeiro dia na nova escola, e o aperto no peito já estava ali, uma companhia constante desde a noite anterior. Com um suspiro, ela se levantou, os pés tocando o chão frio enquanto sua mente tentava se organizar.

No banheiro, a água gelada ajudou a espantar parte do sono, mas a ansiedade persistia. Enquanto escovava os dentes, Sarah encarava o reflexo no espelho. Como será que vai ser? A pergunta pairava em sua mente. A mochila já estava pronta, encostada no canto do quarto desde a noite anterior.

Rapidamente, vestiu-se com o uniforme escolar, saia xadrez, blusa branca e moletom por cima. O friozinho da manhã exigia mais conforto do que estilo. Do corredor, o cheiro de café recém-passado e pão torrando vinha da cozinha, trazendo um breve alívio ao estômago embrulhado. Lá, sua mãe a aguardava com um sorriso terno, tentando disfarçar a própria preocupação.

— Pronta para o grande dia? – perguntou, empurrando uma xícara de café em sua direção.

Sarah assentiu em silêncio, pegando o café e se sentando à mesa. O pão com manteiga parecia seco, mas ela mastigava devagar, forçando-se a comer, sabendo que sair de casa com o estômago vazio só pioraria as coisas. A conversa com a mãe foi rápida, sobre o caminho até a escola e as matérias novas, nada muito profundo. A cabeça de Sarah já estava a mil, antecipando o desconhecido que a esperava.

Quando o relógio marcou a hora, ela pegou a mochila, agora mais pesada do que nunca. A despedida foi simples: um abraço apertado e um vai dar tudo certo sussurrado em seu ouvido. Ao sair pela porta, o ar fresco da manhã bateu em seu rosto, e ela respirou fundo, tentando acalmar o coração acelerado. Ajustou a alça da mochila no ombro e começou a caminhar, cada passo a aproximando de um novo começo, com o estômago apertado e a mente cheia de perguntas.

Sarah sempre odiou mudanças. Desde pequena, qualquer alteração no seu ambiente trazia ansiedade e medo. Talvez fosse a razão de sua timidez, o medo constante de errar, de não se encaixar. E agora, enfrentava uma das maiores mudanças da sua vida: uma nova escola. O uniforme ainda parecia estranho sobre sua pele, os corredores tão largos e cheios de vozes desconhecidas a faziam sentir um frio na barriga constante. Cada passo que dava parecia pesar, e a mochila que carregava nas costas parecia mais pesada do que realmente era.

Ela abaixou a cabeça, tentando se esconder entre os fios de seu cabelo, evitando ao máximo qualquer contato visual. Já tinha ouvido falar daquela escola antes, um lugar onde as pessoas andavam em grupinhos fechados, e raramente aceitavam novatos. Não que Sarah estivesse interessada em se enturmar, mas isso significava que sua existência seria ignorada por completo, o que, de certa forma, era um alívio.

Sentada no fundo da sala, pegou seu caderno e começou a rabiscar algo sem sentido, apenas para manter as mãos ocupadas. Naquele momento, tudo que desejava era que o dia acabasse rápido e que ela pudesse voltar para o silêncio de seu quarto. Porém, essa paz foi quebrada quando sentiu um par de olhos cravados em si.

Olhou de relance, de soslaio, tentando não parecer óbvia. Lá estava ele. Um garoto alto, de feições duras, mas com um charme inegável. Ele estava sentado algumas carteiras à frente, mas virado para trás, olhando diretamente para ela. Seu olhar não era como os outros. Não era de curiosidade comum ou desinteresse, era intenso. Tão intenso que a fez estremecer e desviar o olhar imediatamente. O coração disparou. Por que ele está me olhando?, pensou.

O intervalo veio como uma fuga. Levantou-se rapidamente, recolhendo suas coisas e indo em direção ao pátio vazio. Caminhou até encontrar um canto mais afastado, longe de todos. Sentou-se em um banco próximo a algumas árvores e respirou fundo, tentando afastar a estranha sensação de ser observada. Estava prestes a pegar seu livro quando uma sombra cobriu sua visão.

— Oi.

A voz era grave, firme e soava muito perto. Assustada, ela levantou os olhos devagar. Era ele. O mesmo garoto da sala, agora parado bem na sua frente. Ele era ainda mais imponente de perto, seus olhos azuis escuros cravados nela com uma intensidade assustadora. O silêncio entre os dois foi breve, mas para ela, pareceu uma eternidade.

— Eu sou Rafe. — Disse o garoto, com um sorriso no canto dos lábios, como se estivesse acostumado a controlar as situações.

Ela se limitou a acenar com a cabeça, mal conseguindo manter contato visual.

— Você é nova aqui, né? — Ele continuou, embora parecesse já saber a resposta. Sentou-se ao lado dela, perto demais para alguém que ela mal conhecia. O perfume dele a envolveu, um aroma forte que parecia combinar com sua presença marcante.

— Sou. — Respondeu Sarah em um fio de voz.

— Eu percebi. É difícil não notar você. — Ele disse, sorrindo levemente.

Essa frase a fez ficar ainda mais desconfortável. Sentiu o estômago revirar. Tentou sorrir, mas tudo que conseguiu foi um movimento nervoso dos lábios. A presença dele era opressiva, como se ocupasse todo o espaço ao seu redor.

— Qual o seu nome? — Rafe perguntou, inclinando-se ligeiramente em sua direção, como se estivesse tentando entrar em seu espaço pessoal.

Sarah hesitou por um segundo, mas respondeu baixinho, quase como se tivesse medo de que a simples troca de nomes significasse algo maior.

Rafe repetiu o nome dela suavemente, como se saboreasse cada sílaba. — Bonito. — Comentou, e então, com um brilho estranho nos olhos, acrescentou: — Eu vou me lembrar disso.

Sem esperar que ela dissesse algo, ele se levantou abruptamente, como se aquele curto diálogo tivesse sido suficiente para ele.

— Nos vemos por aí. — Disse, antes de se afastar, lançando um último olhar por cima do ombro.

Sarah observou enquanto ele se afastava, sentindo um alívio imediato ao vê-lo desaparecer entre os outros alunos. Mas o alívio logo deu lugar a uma estranha inquietação. Algo naquele encontro não parecia certo, e o jeito possessivo com que ele a olhava deixava um rastro desconfortável em sua mente. Seria apenas imaginação dela? Talvez ele fosse apenas um garoto simpático tentando ser amigável.

Ainda assim, não conseguia afastar a sensação de que, a partir daquele momento, algo tinha mudado.

Nos dias que se seguiram, o padrão se repetiu. Ele estava sempre por perto. Nos corredores, na biblioteca, até na saída da escola. Sempre com aquele olhar possessivo, sempre observando-a de longe. Não tentava mais puxar conversa, mas sua presença era constante, como uma sombra que a seguia.

Certa vez, ao sair da aula mais cedo, Sarah decidiu cortar caminho por um beco mais deserto, atrás da escola. O lugar era silencioso e tranquilo, o que de certa forma a acalmava. Mas ao chegar na metade do caminho, sentiu novamente aquele olhar. Seu coração disparou e, ao virar-se lentamente, ele estava lá, encostado em uma parede, como se já soubesse que ela passaria por ali.

— Você não devia andar sozinha por aqui. — disse ele, com a voz baixa e autoritária. — É perigoso.

Ela congelou, sem saber o que responder. Suas mãos tremiam levemente, mas ele não parecia perceber ou, se percebesse, não se importava. Ao invés disso, deu alguns passos em sua direção, até ficar a apenas poucos centímetros dela.

— Eu posso me cuidar. — Gaguejou, tentando soar confiante, mas a proximidade dele fazia sua voz falhar.

Ele sorriu de maneira perturbadora.

— Eu sei. Mas não vou deixar que algo aconteça com você. Nunca. — Disse isso de uma forma que não era um consolo, mas uma promessa. Uma promessa assustadora.

E naquele momento, ela soube que ele não estava apenas interessado. Rafe a estava reivindicando, e de uma forma que ela jamais imaginou ser possível.

FIM DO CAPÍTULO 1

Este é apenas o começo da dinâmica entre os personagens!

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⏰ Última atualização: Oct 05, 2024 ⏰

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𝐏 𝐀 𝐍 𝐈 𝐂Onde histórias criam vida. Descubra agora