12 : FALSO SOL

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A memória era como um rio. Às vezes a corrente era lenta e controlável, mas outras vezes ela te varria do chão. Akk sentiu como se estivesse sentado congelado no meio do rio enquanto a água fria batia ao redor dele.

Ele não tinha nenhuma foto de Aye no celular, mas isso não importava. O formato do seu rosto, o som da sua voz e o cheiro do seu corpo estavam fortemente gravados em sua mente. Ele não conseguia esquecê-lo.

Ele se lembrou do dia em que viu Aye do lado de fora dos portões da escola, observando-o.

Ele se lembrou do dia em que o seguiu até o banheiro dos professores e viu suas nádegas lisas e pálidas marcadas por uma tatuagem ilegal. Até hoje, Akk não conseguia deixar de se perguntar como seria o resto dela...

Ele se lembrou dos dias que passaram sentados um ao lado do outro na aula, o dia em que foi forçado a andar pela cidade no carro de Aye, o dia em que tentou queimar os pertences dos manifestantes, mas Aye veio salvá-lo... Ele se lembrou de ser pressionado contra ele no escuro e então desnudar seu coração para ele na praia.

Por que Akk confiava tanto nele?

Ele se lembrou dos dias em que praticavam judô juntos. O dia em que se esconderam debaixo da escada e Akk se enterrou no corpo de Aye, incapaz de resistir a ele por mais tempo...

"A primeira coisa que fiz foi começar a bisbilhotar o departamento de inglês, mas ninguém lá conhecia meu tio bem o suficiente, já que ele tinha sido transferido para o escritório administrativo... Eu sabia o tempo todo que a pessoa mais adequada para responder minhas perguntas era o Mestre Chadok, mas sempre que eu tentava me encontrar com ele, ele estava convenientemente ausente. Era quase como se ele estivesse me evitando."

Era quase engraçado, realmente, o quão certo Akk estava. Aye tinha ido a Suppalo em busca de vingança, mas não pelos motivos que Akk suspeitava. Ele estava mentindo, mas suas mentiras estavam salpicadas com um tipo horrível de verdade. Aye pode ter agido com sinceridade, mas ele estava guardando segredos também; segredos que Akk não conseguia entender.

Aye tinha vindo a Suppalo com um objetivo e tudo o que ele tinha feito estava de acordo com esse objetivo, até mesmo fazer amizade com Akk. Ele tinha ficado em seu caminho, e para movê-lo, Aye primeiro tinha que ganhar sua confiança. 

Ele deve ter ficado muito feliz quando descobriu o segredo de Akk. Finalmente, havia algo que ele poderia usar como alavanca para fazer o Mestre Chadok falar. Não foi porque ele estava preocupado com Akk ou queria protegê-lo.

E mesmo assim, Akk acreditou nele.

"Eu gosto de você, Akk. Eu realmente gosto de você. Quanto mais nos aproximamos, mais tenho certeza disso. Eu sei que você já tem tantas pessoas na sua vida que te amam e eu não sei onde eu estou nessa lista, mas eu preciso que você saiba que para mim, você é meu número um. Você sempre foi. Desde o primeiro dia até hoje."

Lembrando daquele dia no telhado, Akk se sentiu tão estúpido. Ele tinha sido estúpido o suficiente para ter esperança e isso o tornou estúpido o suficiente para ser manipulado. 

Aye o convenceu a deixar de lado tudo em que ele acreditava e agora ele não sabia mais quem ele era. As coisas seriam muito mais fáceis se ele ainda fosse o mesmo Akk que acreditava nas regras.

Mas então, as regras, os professores e até mesmo a escola manipularam Akk também? Para onde quer que olhasse, não havia nada além de mentiras. 

Akk era simplesmente uma ferramenta a ser usada, independentemente de qual lado escolhesse usá-lo. Esse era o único valor que ele tinha.

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