Embora, Em Boa Hora

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Eu sou feita de idas.

De repente, sem aviso, 
me desfaço do lugar. 
Não é falta de afeto, 
é falta de chão. 

Sinto o impulso de partir 
quando o ar já não me reconhece. 

Sou uma presença inconstante, 
mas não ausente — 
um pássaro pousado por um instante, 
as asas sempre em prontidão. 

Eu me vou porque preciso, 
mas nunca de todo. 
Deixo atrás um rastro invisível, 
um eco do que fui por um breve segundo. 

Há quem diga que é fuga; 
eu digo que é retorno a mim. 

Levo comigo a memória do que ficou, 
um pedaço de sol, a brisa suave do vento, 
mas não posso carregar 
as raízes que não criei. 

Quero florescer na tua presença,
mas não quero contaminar teu jardim.

Por isso, quando meus próprios espinhos me envenenam,
desapareço antes que meus pés toquem seu chão.

Vou em boa hora, digo,
embora meu desejo seja ficar.

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⏰ Última atualização: Oct 25 ⏰

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