Uma assistente social obstinada, um caso de mais tratos infantil e uma história de amor que está prestes a florescer em meio ao caos. Como enxergar as coisas boas da vida quando a sua está completamente fudida?
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É difícil saber o que se passa na cabeça de algumas pessoas. Quer dizer, acho que sendo como sou, escolhi a pior profissão do mundo, eu escolhi ser assistente social. "Mas, assistente social ajuda as pessoas, certo? Como assim você acha que está na profissão errada? Como assim quem você é não combina com ajudar pessoas?" não é que eu não seja uma boa pessoa, não é isso, é que eu tendo a tratar os problemas das outras pessoas como se fossem meus e por essa razão já me meti em muitos problemas.
Sei que sou temperamental, sei que sou um tanto quando estourada e posso passar dos limites algumas vezes, mas me diz quem não passaria? O problema não acho que seja eu, mas as pessoas que acham normal uma família completamente disfuncional, pais que não deveriam ter sido pais e acabam descontando todas as suas frustrações nas crianças que nem sequer pediram para nascer.
-Ei, tivemos uma denúncia de uma vizinha a respeito de maus tratos em um parque de trailers na 8 mile. – minha supervisora começa.
-Na 8 mile? – disparo.
-Sim, eu queria que você fosse dar uma olhada.
-Vou sozinha?
-Claro que não, vamos pedir para dois oficiais da polícia irem com você para garantir sua segurança, afinal nós sabemos como aquela região é perigosa.
Não discuto, obviamente não há o que dizer. 8 mile é uma das áreas mais perigosas de Detroit que em si já é uma cidade extremamente violenta por si só.
Dirigimos até o local, enquanto um dos policiais dirige, consigo ver através da janela os habitantes olhando feio em direção a viatura. É óbvio que o estão fazendo, afinal nenhum deles é muito fã da polícia.
Chegamos ao local, não é apenas um parque de trailers, é uma espécie de lixão. De cara já vejo que aquele não é um lugar para se criar uma criança, na verdade vejo que aquele não é um lugar para ninguém.
Desço da viatura e me dirijo ao trailer ao qual fomos chamados, preciso desviar de algumas garrafas de bebida nos degraus até conseguir chegar à porta.
Bato duas vezes e então escuto uma voz feminina embargada.
-JÁ VOU!
Respiro fundo e espero que alguém abra a porta.
No momento em que a porta se abre, acabo dando de cara com uma imagem deprimente. É uma mulher, ela é loira, seus cabelos são lisos, os olhos grandes e azuis e o corpo magro. Pelo que vejo, ela poderia ser uma mulher muito bonita, se não estivesse no estado em que se encontra. Os cabelos estão embaraçados, a pele parece envelhecida, os olhos estão vermelhos e os dentes amarelados. Pela maneira com que ela tenta permanecer de pé de frete a mim consigo ver nitidamente que álcool não é o único problema ali.
-Senhora Deborah R. Nelson-Mathers? – pergunto.
Ela acende um cigarro e se segura no arco da porta.