Mentiras Perigosas

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Escuto gritos e portas batendo, sabia que mais uma vez eles estavam brigando ou, como eles preferem chamar, estamos apenas "conversando". Eu tenho apenas 14 anos, mas sei que um casal não deve conversar assim, o relacionamento dos meus pais sempre foi abusivo. Escuto um barulho alto de algo caindo, decido então sair do meu quarto para olhar o que estava acontecendo quando chego na ponta da escada, olho para baixo, minhas pernas falham, se não estivesse apoiada no corrimão da escada, eu teria caído, minha boca fica seca, meu corpo estava paralisado como uma rocha. E foi ali que tive meu primeiro contato com a morte. Vejo minha mãe olhar para mim, seu olhar era de desespero, medo e angústia, ela estava segurando os pés do meu pai, tentando arrastá-lo para algum lugar que eu nunca soube onde era. Escuto-a gritar comigo:

- Vá para o seu quarto e fique quieta.

Estava com medo, então foi correndo, sentei-me na cama e fiquei olhando para a porta. A imagem do corpo do meu pai estirado no chão saindo sangue da sua cabeça era terrível. Sinto minha barriga embrulhar, fui correndo ao banheiro do meu quarto e vomitei. Sinto alguém segurando  o meu cabelo, olho para trás e era minha mãe, me afastei assustada.

- fique calma, eu vou te explicar tudo.

- VOCÊ MATOU ELE!

- Calma! sei que você está com medo.

- Tome um banho e me espere no seu quarto, vou te explicar tudo.

Então ela saiu, deixando-me sozinha, me levanto, tiro a minha roupa e vou até o chuveiro. Sinto a água quente passar por todo o meu corpo, fecho os olhos e vem novamente aquela imagem horrível do meu pai, seu corpo estirado no chão, sangue por todo lado. Saí do chuveiro, me enrolei na toalha e fui até o meu quarto. Vejo minha mãe sentada na cama ao lado dela, tinha um vestido meu, vou até ela e me visto. Me sento ao lado dela, ela só olhava para a janela que tinha do outro lado do quarto.

- Mãe.
Ela olha para mim, seus olhos estavam vazios e escuros.

- Eu tive que matar ele.

- Por quê?

- Ele aí me matar e matar você também! eu tive que fazer isso.

-  Onde ele está?

- Você não precisa saber, se eles vierem atrás de mim, quero que você fuja para bem longe.

-  Mãe, eles quem? Eu não estou entendendo a senhora.

- Quanto menos você souber, melhor é.

- É da minha vida e do meu pai que estamos falando, eu tenho o direito de saber!

- Ele não é seu pai!
Meu mundo caiu nada, mas fazia sentido.

- Quando me casei com ele, eu já estava grávida de outro homem, ele só descobriu quando você fez dois anos. Ele fez um exame de paternidade escondido.

Agora, a forma como ele me tratava fazia sentido, ele sempre me tratou com indiferença como uma intrusa.

- Por que nunca me contou?

- Eu implorei para ele não fazer isso, então ele só aceitou com uma condição. Se, quando você tivesse 15 anos, ele pudesse vender você para a máfia. Ele sempre teve muitas dívidas com a máfia e o crime. Então, eu concordei, mas nunca deixaria que ele fizesse isso com você.

- Então, você matou ele.

- Sim.

Eu não sabia o que fazer ou falar, meu mundo inteiro estava sendo sugado, tudo que achei ser verdade foi uma mentira.

- Agora você sabe tudo que eu tentei esconder de você por anos.

- O que a gente vai fazer?

- Vamos fugir.

VITTORIO HERDEIRO DO CAOS Onde histórias criam vida. Descubra agora