𝙑𝙤𝙯𝙚𝙨 𝙙𝙤 𝙎𝙞𝙡ê𝙣𝙘𝙞𝙤

Capítulo 1

O relógio da torre da antiga prefeitura de Saint-Croix marcava exatamente cinco horas da tarde, quando a cidade mergulhou em um silêncio ensurdecedor, como se a atmosfera estivesse carregada de presságios. A névoa começava a se acumular nas ruas de paralelepípedos, envolvendo os edifícios centenários e criando um manto de incerteza sobre a comunidade. O último dia de Daniel Ackerman foi um dia como qualquer outro para muitos; no entanto, para a família Ackerman e a pequena cidade, seria um marco sombrio que daria início a uma série de eventos que mudariam Saint-Croix para sempre.

Eloise Harding, uma jovem jornalista de dezenove anos, caminhava pela rua principal com a determinação estampada em seu rosto. Desde a morte misteriosa de seu pai, um ex-policial que se tornara uma lenda na cidade, ela carregava o peso de um legado inacabado. Eloise não era apenas uma estudante de jornalismo; era uma investigadora por natureza, movida pela necessidade de descobrir a verdade e trazer à tona as injustiças que permeavam sua cidade. O desaparecimento de Daniel não era apenas mais um caso para ela, era um chamado à ação.

Assim que chegou à escola onde Daniel estudava, um ar de melancolia a envolveu. Os alunos se reuniam em pequenos grupos, sussurrando sobre o jovem que desaparecera sem deixar vestígios. Eloise sentiu uma pontada de angústia ao olhar para os rostos preocupados, lembrando-se de como a inocência da juventude poderia ser facilmente despojada por forças sombrias. Ela se aproximou de um grupo de estudantes, sua presença passando despercebida entre a massa de emoções contidas.

— O que vocês sabem sobre ele? — perguntou Eloise, decidida a extrair alguma informação que pudesse ajudar em sua investigação.

Os olhares se encontraram, mas as respostas eram hesitantes. Daniel era um garoto amável, alguém que sempre estava disposto a ajudar, mas o que mais intrigava Eloise eram os rumores que cercavam seu desaparecimento. Alguns falavam de um segredo que ele guardava, algo que poderia ter colocado sua vida em risco. Outros mencionavam uma festa na noite anterior ao seu desaparecimento, uma festa que poucos se atreveriam a discutir abertamente.

Com a mente fervilhando de perguntas, Eloise começou a coletar nomes e informações. Um deles chamou sua atenção: Mark, um amigo próximo de Daniel, que parecia particularmente abalado. Sem hesitar, Eloise se aproximou dele, esperando que a dor da perda o tornasse mais receptivo.

— Oi, Mark, eu sou Eloise. Você se importaria de me contar sobre a última vez que viu Daniel? — a voz dela era suave, mas firme.

Mark hesitou, as palavras parecendo pesadas em sua língua. Finalmente, com um suspiro profundo, ele se abriu.

— Ele estava diferente, sabe? Na noite da festa... parecia nervoso, como se soubesse de algo. Ele não queria ir, mas acabamos insistindo. Depois que ele foi, não soubemos mais nada. — Ele olhou para o chão, os olhos cheios de lágrimas não derramadas. — A última mensagem que recebi dele dizia que estava preocupado com algumas coisas, mas não explicou.

A mente de Eloise girava. A festa, as preocupações, a súbita mudança no comportamento de Daniel—tudo isso formava um quebra-cabeça que apenas começava a ser montado. A cidade estava escondendo segredos, e ela estava determinada a descobri-los, mesmo que isso significasse cavar em feridas que muitos prefeririam manter fechadas.

À medida que a noite caía sobre Saint-Croix, Eloise percebeu que o silêncio se tornava mais opressivo. Ela saiu da escola, o ar fresco da noite trazendo uma sensação de urgência. A cada passo que dava, ela sentia as vozes das vítimas desaparecidas ecoando em sua mente, um lembrete constante de que a verdade estava à espera de ser descoberta, escondida nas sombras da cidade que muitos chamavam de lar.

Com a determinação renovada, Eloise decidiu que não pararia até que cada uma dessas vozes fosse ouvida. A cidade de Saint-Croix poderia parecer tranquila, mas por trás de suas paredes antigas e sorrisos disfarçados, um pesadelo se desenrolava, e ela estava prestes a desvendá-lo.