Capítulo 2

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O Sussurro nas Sombras

O frio da noite parecia se intensificar à medida que Eloise se forçava a permanecer imóvel, os olhos fixos na figura sombria que se aproximava. O silêncio na cabana era absoluto, exceto pelo som abafado de passos calculados no chão de madeira. Ela segurava sua respiração, o coração martelando no peito enquanto sua mente tentava processar o que fazer. Ali, naquele instante, tudo o que sabia se resumia a uma única certeza: estava em perigo.

A luz fraca da lua que entrava pelas frestas das janelas revelava pouco da figura que se movia em sua direção. Era alguém alto, vestido com um casaco longo que roçava o chão, o rosto escondido sob a sombra de um chapéu de aba larga. Eloise recuou um passo, a lanterna tremendo em sua mão, enquanto tentava calcular a distância entre a porta e a figura à sua frente.

Ela poderia correr. Mas seria rápida o suficiente? Os olhos dela se moveram para a mesa onde estavam as fotos. Seu nome, escrito na imagem, parecia pulsar, uma lembrança de que alguém a estava vigiando há muito tempo.

"Eu sabia que você viria," uma voz rouca e quase calma cortou o ar. Eloise estremeceu, seus dedos apertando o gravador no bolso, uma tábua de salvação frágil. Ela não respondeu, seu corpo rígido em uma postura de alerta.

A figura deu mais um passo à frente, e a luz da lua finalmente revelou parte de seu rosto. Era um homem de meia-idade, com traços duros e cicatrizes que marcavam a pele. Seu olhar estava fixo nela, mas seus lábios mantinham um meio sorriso perturbador, como se estivesse no controle total da situação.

"Você acha que pode fazer algo?" ele murmurou, inclinando a cabeça. "Saint-Croix é muito maior do que você imagina, Eloise."

Seu nome dito naquela voz fez o estômago dela revirar. Como ele sabia tanto? Como todas as peças haviam se encaixado tão rapidamente para trazê-la até ali? Antes que pudesse encontrar uma resposta, o homem deu um último passo à frente, tirando algo do bolso de seu casaco. Eloise não hesitou mais. Em um movimento brusco, ela apagou a lanterna e correu em direção à porta.

O som de seus passos ecoava na cabana enquanto ela disparava para fora, o ar fresco da floresta batendo contra seu rosto. Seus pulmões queimavam de adrenalina enquanto corria entre as árvores, sem se preocupar em olhar para trás. Ela sabia que ele a seguiria, sabia que não havia segurança até estar longe daquele bosque. Mas o caminho parecia infinitamente mais longo agora, e cada som na escuridão parecia amplificar sua paranoia.

As árvores, densas e retorcidas, pareciam apertar o caminho, como se o próprio bosque quisesse impedi-la de sair. Ela mal conseguia enxergar à frente, os galhos arranhando sua pele e a roupa enquanto se forçava a continuar. Por um momento, pensou ter ouvido passos atrás dela, mas não ousou olhar. Correr era a única opção.

Depois de minutos que pareceram horas, ela finalmente avistou a estrada à frente. Eloise tropeçou, quase caindo ao chegar ao asfalto, mas logo se recompôs, correndo até sua bicicleta. Com mãos trêmulas, destravou a corrente e pedalou com toda a força que ainda restava em suas pernas. O vento cortante da madrugada a fazia arfar, mas a sensação de estar viva e longe do perigo imediato lhe deu um lampejo de alívio.

Enquanto pedalava de volta à cidade, sua mente fervilhava com pensamentos confusos. Quem era aquele homem? Como ele sabia seu nome? E mais importante: o que ele sabia sobre Daniel e os outros desaparecidos? As perguntas se misturavam ao medo que ainda pulsava em suas veias.

Quando finalmente alcançou as ruas desertas de Saint-Croix, Eloise parou, ofegante, em uma praça mal iluminada. O peso da situação caía sobre seus ombros com uma intensidade esmagadora. Ela sabia que estava sendo caçada, sabia que havia tocado em algo muito mais profundo do que imaginara. Mas isso só reforçava sua determinação. Aquela cabana, aquele homem, as fotos—tudo apontava para uma conspiração maior que ela podia sequer entender naquele momento.

𝙑𝙤𝙯𝙚𝙨 𝙙𝙤 𝙎𝙞𝙡ê𝙣𝙘𝙞𝙤Onde histórias criam vida. Descubra agora