- Ei, me dê um abraço antes de ir. - Andy diz, sorridente. Era tarde da noite e apenas ela e Miranda estavam no prédio da Elias-Clark.
Com um abraço caloroso e breve, Miranda se despede antes de entrar no carro, sentindo a familiar solidão do fim do dia. Mais um ciclo se encerrava, e, como todos os dias, ela terminava nos braços de Andrea, mesmo que por pouco tempo. Já faziam mais de cinco meses que aquela conexão frágil se estabelecera entre elas. Tudo começou com olhares demorados, toques sutis que pareciam promessas silenciosas, e momentos a mais na revista, onde cada segundo se tornava precioso. Esses gestos, antes inocentes, evoluíram para algo mais intenso: opiniões e perguntas direcionadas a Miranda - um território estritamente proibido. Sorrisos quase imperceptíveis surgiam da editora-chefe, enquanto os toques se tornavam mais demorados, mas carregados de um peso que as duas sabiam que não podiam ignorar. O cuidado mútuo existia, mas oculto nas sombras da rotina. Todos na revista percebiam que a relação entre assistente e chefe era algo mais íntimo, quase como uma amizade, mas tingida de uma melancolia que pairava no ar.
À medida que os sentimentos se intensificavam, a batalha para escondê-los se tornava insuportável. O rubor constante tornava-se seu maior inimigo, revelando o que as palavras não podiam. Quando Andrea sorria, Miranda sentia seu coração afundar; quando Miranda a tocava, Andrea percebia que suas pernas falhavam, quase como se o mundo ao redor desaparecesse. Ocultar o que sentiam parecia uma tarefa impossível. Então, numa noite, durante a entrega de um livro, um beijo selou o início de um romance arrebatador, mas também prenunciava a dor que viria. Não havia espaço para medos quando estavam juntas, mas, ao mesmo tempo, havia um vazio que ecoava entre elas. Não existia Runway ou pais controladores, mas havia a sombra do mundo exterior que ameaçava desmoronar tudo. A mídia nunca poderia saber.
Entretanto, os mais próximos tinham suas suspeitas. Nigel testemunhou o nascimento desse amor, notando cada gesto que fazia os corações de ambas pulsarem intensamente, mas, ao mesmo tempo, temia que esse amor se tornasse uma prisão. Emily, após meses ao lado de Andrea, conhecia bem a amiga e percebia o brilho nos olhos delas, um brilho que, embora radiante, carregava uma tristeza velada. Cassidy e Caroline, por sua vez, observavam a transformação da mãe, notando como o brilho de Andrea poderia iluminar uma cidade inteira. Elas estavam cientes de tudo, desde o início, e apoiavam-nas como nunca.
Embora tudo acontecesse nas sombras e sob os olhares curiosos dos tabloides de Nova York, havia uma tristeza que permeava suas vidas. Não havia um nome para o que viviam, mas existia um acordo silencioso: aquilo era o que ambas queriam, mesmo que a felicidade fosse envolta em incertezas e lágrimas não derramadas. Ou, ao menos, era o que elas acreditavam.
- Andrea, você sabe que não é verdade. Eles adoram inventar essas coisas. Estão sem pauta e criam histórias a partir das migalhas que têm. - Miranda dizia, lutando para manter a calma. Era a segunda vez no mês que discutiam sobre o mesmo assunto.
- Claro, migalhas. - Andy rebateu, a risada amarga em sua voz, como um eco de sua frustração. - Você abraçada com aquele imbecil naquela festa idiota a noite inteira, sorrindo como se estivesse realmente feliz. É disso que você fala?
- Ele é um patrocinador. Você sabe como as coisas funcionam. Ele paga e, em troca, eu passo alguns minutos ao seu lado. - Miranda revirou os olhos, mas sua voz traiu a dor escondida. - Sempre foi assim e vai continuar. Você precisa se controlar, Andrea. Eu durmo com você, não com eles.
- Você dorme comigo, mas não é minha. - Andrea respondeu, a voz cortante como vidro. - Eles te têm como eu não tenho.
- E você me tem como eles nunca terão. - Miranda retrucou, a voz beirando um grito, mas cheia de desespero. - O que você quer que eu faça? Que te beije na frente de todo mundo? Que saia por aí segurando sua mão? Por favor, Andrea. Tenha um pouco de bom senso.
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Me Dê Um Abraço Antes De Ir - Mirandy
FanfictionElas se amavam, mas as vezes o amor não é suficiente.