Capítulo 1 - Ela não era minha mãe.

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Melinda Hoffmann

Meu coração estava acelerado e a ansiedade me envolvia como um manto pesado. Cada batida ressoava em meu peito e o apertava, e mesmo tentando me acalmar, parecia impossível naquele momento. Assim que eu me sentia antes de visitar a casa que, um dia, fora o melhor lugar do mundo para mim. Encarei meu reflexo no espelho da penteadeira, procurando o brilho nos meus olhos que, em outra época, eram elogiados por sua vivacidade. Agora, eram apenas opacos e sem vida.

As lembranças daquela noite impermeavam na minha cabeça.

Era uma noite fria, que dirá a mais fria do ano, mas sua mão estava quente e molhada devido ao suor, e eu mal conseguia segurá-la.

Mamãe me puxava pelas mãos com tanta força e rapidez que eu, com minhas pernas tão curtas, tinha dificuldade em acompanhar seus passos, muitas vezes tropeçando nos meus próprios pés. Rapidamente ela me reerguia e continuávamos a correr e nos esconder pelos cômodos, sem parar. Não tínhamos tempo para pausas e descansos, e eu não sabia o porquê.

Nossa casa de campo em Ouro Preto possuía três andares, e o último era o meu quarto. Ela me acordou, sinalizando com o dedo indicador na sua boca para me manter em silêncio, e em seguida, começou o esconde-esconde, que, dessa vez, não foi nada divertido.

Descemos em silêncio para o porão, onde papai guardava suas ferramentas de pintura. Ela me escondeu em um armário de madeira com um fundo falso, que eu nem sequer sabia que existia, olhando para trás o tempo todo; ainda ofegante e com seus olhos amendoados arregalados, fez o sinal da cruz em meu rosto, dizendo para não fazer barulho e não sair dali até que ela voltasse. Eu prometi, recebendo em seguida o seu beijo e um Eu te amo.

Mamãe fechou o armário e subiu as escadas cuidadosamente, porém, pouco depois, ouvi dois estrondos que me assustaram.

Com as mãos ainda trêmulas, tapei minha boca e esperei.

Esperei sem saber por quanto tempo mais deveria esperar.

Eu só sei que cumpri minha promessa até o final.

Um policial jovem conseguiu me encontrar dentro do armário. Ao me ver, ele estremeceu e sussurrou um "Cristo, eu sinto muito, pequena" enquanto me abraçava com força. Eu não compreendi suas palavras, e tudo o que eu queria no momento era reencontrar meus pais. Olhei pela fresta da janela e percebi que o sol havia nascido, e fiquei ansiosa para comer os pães de queijo que papai havia prometido fazer naquela manhã. Ele me carregou no colo e pediu que eu não abrisse os olhos por nada neste mundo, até que ele autorizasse.

Comecei a me cansar de toda essa espera, mas como nunca fui desobediente, segui com o prometido.

Instantes se passaram, abri os olhos após sua deixa e percebi que estava em um local repleto de policiais, como aquele que me abraçou. Procurei meus pais entre eles, mas não os vi. Sempre fui muito tímida para perguntar ou conversar com estranhos, então permaneci em silêncio, enquanto aguardava que alguém me explicasse o que estava acontecendo.

O policial me colocou ao chão e me levou até uma sala repleta de computadores e telefones que tocavam periodicamente. Sentei em uma cadeira branca à pedido dele, enquanto o via cochichar no ouvido de uma mulher que, eu não sabia se era policial, pois vestia roupas comuns e salto alto. Ela me lançou um olhar e, em seguida, suspirou, colocando a mão no peito, como se estivesse lamentando algo.

Depois, pediu que o policial saísse e se dirigiu a uma mesa que tinha duas garrafas térmicas, enchendo dois copos. Um deles, preenchido com chocolate quente, foi me entregue. Somente então percebi o quanto estava faminta; não havia comido nada até aquele momento, e ao saborear a bebida, meu estômago começou a revirar, clamando por mais.

Memórias de Novembro - Dark RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora