lost boys.

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O relógio estava prestes a bater quatro da manhã.

E Mark Lee acordava de um pesadelo.

Já fazia um tempo desde a pequena pausa da turnê, e geralmente Mark não costumava ter pesadelos num nível em que mal conseguia captar as coisas ao seu redor ou que o fazia sentar na cama com sua respiração descompassada de susto. Que merda, por que isso o aterroriza ainda?

Pra ser honesto consigo mesmo, fazia tempo em que ele não sonhava com essa situação...

— Melk, deita na cama... Parece que você tá vendo vulto e eu não tô afim de hotel com assombração...

Seu namorado o chamava baixo, com a voz de sono, enquanto o puxava de levinho pela blusa de pijama. Como sempre, o sensor que apitava quando ele estava mal.

— Eu sonhei com uma assombração... Fantasma do passado, na verdade. – Mark esfregou os próprios olhos com as mãos, suspirando cansado.

— ... O que matamos mentalmente num acidente de moto esses dias? Eu tive esses dias também. – Haechan perguntou, se ajeitando na cama.

— Não. Também tive, mas aquele de bem antes...

— ... Aquele?

— Aquele.

Eles não estavam nem citando nomes, mas conseguiam se entender apenas pelo tom de voz. Mark suspirou novamente, se deitando na cama enquanto o namorado acendia o abajur perto da cama, voltando a se deitar também, de frente pra ele.

— Por que ligou o abajur? Vai me fazer perder o resto do sono... – Mark perguntou.

— Eu queria olhar pro seu rosto. – Haechan respondeu.

— Eu não queria te olhar, não. Tá todo feio aí. – Mark quebrou o momento, fazendo o mais novo revirar os olhos.

— Tô tentando ser fofo. Tu também tá péssimo com essa cara de fodido sem lubrificante pelo trabalho.

Os dois riram sem humor, com seus sorrisinhos desfazendo lentamente ao deixar o clima se transformar num silêncio confortável. Se olharem deitados era o passatempo favorito deles, se sentiam como se fosse o dia do primeiro beijo deles, por mais que os sentimentos daquela época tenham se transformado bastante atualmente. Sem nem perceber, Mark deixava suas palavras saírem livremente.

— ... Eu sonhava que ele voltava pra nossa vida, e fazia todas aquelas coisas que ele disse quando me ameaçou. O cenário era desesperador, eu sentia nosso grupo se despedaçando. Eu tenho tanto medo das minhas ações afetarem vocês, ainda mais o Renjun passando por isso agora. Também sempre tive medo de estragar tudo assumindo a gente, eu não queria que nada ruim acontecesse com você... – O mais velho dizia baixinho, evitando o contato visual como se estivesse com vergonha de abrir seu coração, por mais que tivessem tido conversas profundas com bastante frequência.

— Shhh, quieto... Eu tô aqui, não tô? Quase chegando aos 10 anos do seu lado, eu sobrevivi a saída de armário e tô sobrevivendo agora. Você pode fazer até oração, mas nada vai tirar você de mim. – O mais novo se aproximou, arrancando mais um riso alheio.

— Eu lembro de orar pra Deus não me deixar gostar de homem quando eu pensava em você... – Os dois riram, enquanto Haechan acariciava os fios de cabelo do namorado, o olhando atentamente para escutar o que ele tinha pra dizer. — ... Eu sei que ele tá bem longe daqui, mas eu realmente me preocupo com os garotos. Eu sei que já faz tanto tempo e que estamos bem, mas eu... O que eu faço se acontecer de novo? Eu sinto que eu fui tão imaturo resolvendo sozinho e tentando fugir da empresa...

— E você foi. Se acontecer, você deve chamar por mim.

Mark foi silenciado, com o olhar do seu garoto arrancando qualquer letra ou palavra que tinha em sua língua, coreana ou inglês.

— Você não precisa pegar pra si um problema enorme que envolve todo mundo, você é querido pra todo mundo aqui. Assim, chame pelo Doyoung hyung ou o Yuta hyung também, até mesmo o Johnny, quanto mais, melhor. Mas não importa quantos você chame, eu quero estar lá também. Eu quero ser o primeiro a estar lá. Eu não quero nunca mais que você ameace me deixar de novo.

Por incrível que pareça, Mark e Haechan já tiveram seu momento de término em um certo período de suas vidas, assim como Jeno, Jaemin e Renjun. Pelo mesmo motivo, Mark sentia que deveria proteger seu Donghyuck, que o relacionamento poderia trazer muitos danos agora que era público. Porém, ele estava falando de um garoto que esperou 5 anos de sua adolescência inteira por ele, então não demoraram muito para reatar. Claro que foram semanas em discussões e tentativas falhas de afastamento, mas no final, parecia que sempre iriam pertencer aos braços um do outro.

Mark não é alguém que tem coragem de dizer isso em voz alta, mas Lee Donghyuck é uma das coisas mais importantes que existem em sua vida.

Muitos falam sobre como ele é bom demonstrando em público e como ele sempre está enchendo o saco do mais velho, mas sempre esquecem de como ele é valioso para Mark. Ele também entrou em uma negação absurda quando seus sentimentos começaram a surgir na infância, parecia até clichê dizer o quanto ele dizia pra si mesmo que um dia ele iria conhecer uma garota legal que era exatamente como Donghyuck e todo aquele sentimento iria passar, mas ninguém era como ele. Desde a primeira faísca que surgiu em seu coração, sabia que a conexão dos dois era especial e que nada iria desfazer aquilo. Acho que todo o cansaço mental e físico que os dois sentem com bastante frequência não seria tão suportável se não estivessem juntos, viviam o pior e o melhor juntos, e parecia que nos dias atuais estavam tendo o momento "pior", estava até sendo mais afetuoso por conta disso, acho que isso explica muita coisa.

— Você ouviu o que eu disse? É daqui pro túmulo, cabeção! – Haechan chamou a atenção num tom um pouco mais alto pro horário, enquanto o mais velho admirava cada detalhe do rosto alheio. Ele não estava feio que nem tinha dito.

— Eu amo você.

O quarto ficava em silêncio, e a feição do mais novo mudava pra uma de mais preocupação enquanto suspirava fundo, aquilo já expressava bastante.

— ... Esse sonho afetou você bastante, né? – Donghyuck perguntou no mesmo tom que suas feições diziam, fazendo o outro confirmar com a cabeça lentamente. Poderia chorar naquele exato momento se não estivesse se segurando tanto, os dois poderiam.

— Espero que ele nunca mais machuque nenhum dos bebês. Assim, certeza que nos dias atuais o Chenle daria uma surra de volta, ele amadureceu muito...  O Jisung não sei, só não quero ninguém revivendo trauma de adolescência de novo. – O canadense acariciava o rosto alheio, seus dedos desenhando por cima daquelas pintas, arrancando um sorriso apaixonado do outro no meio do assunto.

— ... Também amo você. Vai ficar tudo bem. – O mais novo sorriu, selando os lábios do namorado. — Enquanto você protege os outros, eu protejo você. Eu te amo.

— ... Love you, baby... – Mark murmurou, voltando a fechar os olhos.

— Vish, já trocou de língua. Vou até apagar a luz. – Haechan sacudiu a cabeça em desaprovação enquanto se ajeitava para desligar o abajur. — Vai dormir, pai de família, que amanhã tem mais.

— Boa noite, feio. Come cuddle. – Mark abriu os braços e Haechan deu uma risada debochada para provocar.

— Cuddle... – O mais novo repetiu baixinho como uma forma de provocar, abraçando o outro de forma apertada.

Tinha mais para se preocupar amanhã, os fantasmas do passado teriam que esperar.

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⏰ Última atualização: Oct 14 ⏰

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