Sete pecados capitais.

87 15 4
                                    

A semana passou voando, hoje é domingo. Uma semana que estou aqui. Depois da noite em que a Madre esteve em meu quarto, toda vez que vou rezar me lembro da sua mão acariciando minhas costas e pescoço. Não entendo até agora do porquê daquele ato, não entendo também o porquê eu gostei. Não sabia que era normal esse tipo de carinho entre as freiras. Ele parecia meio... Íntimo. Depois de ter dado boa noite a ela aquele dia, na madrugada eu acordei novamente com a sensação de estar sendo vigiada. Durante os dias ela apenas desejava a paz de Deus e quando precisávamos ficar no mesmo ambiente, eu vi e sentia ela me olhar com aqueles mesmos olhos escuros da noite em que me viu sair do banheiro. E como estava se tornando costume, a mesma sensação de sempre, depois que acordei nessa madrugada, não consegui dormir mais. Mas eu não via ninguém me vigiando. Será que eu estou ficando louca?

Hoje é a primeira missa que vou participar como noviça. Estou ansiosa.

Quando entrei na igreja, o Padre Nick já estava no altar folheando sua Bíblia. Ele é muito querido, o conheço desde criança. Resolvi que me sentaria no primeiro banco, assim seria melhor para prestar atenção.

Os irmãos e as outras freiras começaram a entrar, junto deles a Madre. Ela não vinha nas missas, disso eu sei porque eu nunca a vi e as outras noviças disseram que ela ia em outra igreja numa cidade vizinha ajudar o padre com os cidadãos mais carentes. Pelo jeito hoje pela primeira vez não é um desses dias.

A irmã Miranda junto com um grupo de outras irmãs, começaram a cantar e assim cada pessoa aqui presente começaram acompanhar. A Madre estava sentada em uma das cadeiras forradas com tecido vermelho no altar atrás do padre, reservadas apenas para quem tem um título importante na igreja, com o olhar direcionado a mim.

O canto cessou e o padre Nick começou a missa.

- Em nome do pai, do filho e do espírito santo, amém. Sejam todos bem vindos à casa do senhor, Deus pai de tudo e todos reúne aqui em sua casa, seus filhos meros pecadores para orar por ele e agradecer o pão de cada dia. Iniciemos a celebração.

A Madre Natasha foi chamada para ir ao púlpito para ler a palavra, o que parece ter a pego de surpresa. Ela disse que hoje a celebração seria voltada ao pecado. Começou a ler a Bíblia no livro de Gálatas, onde fala dos sete pecados capitais, para as noviças se acostumarem com a nova rotina e saberem do certo e o errado.

- Peço um pouco de paciência aos irmãos, o Padre Nick logo vai dar a palavra para vocês. Mas eu, como Madre, preciso ensinar as noviças todos os dias o que está escrito e aconselha-las a seguir na linha. Afinal, ela serão freiras daqui uns dias. Os sete pecados capitais são: Inveja, Orgulho, Avareza, Ira, Luxúria, Gula e Preguiça.

- Quando sentirem inveja, rezem para sentirem caridade. Quando sentirem orgulho, rezem para terem humildade.
Quando começarem a agir com avareza, rezem para alcançar a generosidade.
Quando sentirem ira, rezem para sentirem mansidão.
Quando começarem a sentir luxúria - olhou diretamente nos meus olhos - rezem para continuarem com a castidade. - Voltou a olhar para cada um aqui presente. Quando sentirem gula, rezem para terem mais temperança.
Quando sentirem preguiça, rezem pare terem diligência.
Em todo momento vocês precisarão estar rezando, o nosso corpo material muitas vezes nos implora desejos difíceis de controlar - novamente olhou para mim mas vocês estão se tornando servas do nosso criador, precisam resistir, por mais tentador que seja. - Desviou. - Se vocês estiverem sempre em comunhão, terão forças para resistir a qualquer tentação. - Olhou para o padre que estava sentado. - Por hoje é isto.

Parte daquelas palavras pareciam ser direcionadas a mim. Mas por quê? Eu não cometo o pecado da luxúria, nunca cometi. Eu não entendo. Fiquei tão perdida pensando nisso, que o restante da missa passou muito rápido, quando percebi o padre estava se despedindo dos irmãos e saindo pela porta. Me levantei e saí da igreja também, indo diretamente para o meu quarto. No caminho encontrei a Madre, a cumprimentei e ia passar reto quando ela me chamou:

- Irmã Wanda, mais tarde irei ao seu quarto para rezar com você e fazer um pedido. Se incomoda?

- Não, Madre. Eu preciso lhe fazer umas perguntas mesmo.

Ela ergueu uma sombrancelha e balançou a cabeça, depois saiu.

Mais tarde naquela noite, fiz a mesma rotina de sempre. Tomei banho e li a bíblia. Estava nervosa. Nervosa por não fazer ideia de qual pedido seria. Nervosa pelas perguntas que estava planejando fazer. Nervosa porque não sabia se era normal eu querer que ela passasse ao mãos novamente enquanto rezo nas minhas costas. Enquanto pensava ela entrou, mais uma vez sem bater. Seus olhos na mesma tonalidade, e a expressão mais severa que antes. Percebi durante essa semana que essa cara era direcionada apenas a mim, para as outras noviças e freiras, ela é um pouco simpática. Esboçava até um sorrisinho sem mostrar os dentes, mas não deixava de ser um. E para mim era sempre a mesma cara brava. Ela sabe do meu histórico, não existe motivos para ser assim.

- Boa noite, irmã. Vamos começar rezando, uhm? - Ela se ajoelhou no mesmo lugar daquela noite me esperando.

- Boa noite, Madre. Sim. - Me ajoelhei ao lado dela, abaixei a cabeça, fechei os olhos e comecei. Ela rezou comigo a primeira vez, e pediu para que eu começasse novamente, assim eu fiz. Ela rezou comigo pela segunda vez, só que dessa vez até a metade. Eu senti ela me olhando, mas ainda assim prossegui. Terminei e antes mesmo de abrir os olhos ela falou com a voz rouca para eu começar a rezar novamente. E assim eu fiz, quando estava terminando, sua respiração chegou perto da minha bochecha e fiquei sem ar.

- ... ro-ogai por nós, pecadores, agora e-e na hora de nossa morte. A-a-amém. - Abri meus olhos e ela estava a centímetros do meu rosto, se eu me virasse, tenho certeza que nossos narizes se tocariam. De canto de olho, vi ela olhando para os meus lábios e passando a língua pelos seus. Quando ela voltou a olhar em meus olhos, os seus estavam ferozes. Aquilo me assustou e me levantei depressa, indo em direção a janela que estava aberta. Quando parei em frente a ela, cruzei meus braços embaixo do peito e fiquei de costas para ela. Aquilo me deixou nervosa, porque ela fazia isso?

Escutei ela dando passos e parando perto,
muito perto das minhas costas. Quase conseguia sentir o calor do seu corpo, mesmo que por cima das nossas roupas.

- Por que você foge de mim, Wanda? - Ela sussurou.

- Co-como? - Não fiz questão de me virar, estava nervosa demais para se mexer.

- Eu só cheguei perto, e você praticamente
fugiu. O que acha que eu vou fazer? Força-lá a se deitar comigo? Roubar-lhe um beijo? Você sabe que nos dias em que vivemos é proíbido homossexualismo. Além do mais, eu sou a Madre. Eu não irei fazer nada.

- Por que me chamou pelo primeiro nome, Madre Natasha?

- Estamos em seu quarto, no momento você não é noviça. Achei que não teria problemas. Dá mesma forma que quando estivermos aqui, você pode me chamar assim desse jeito que acabou de me chamar, gostei de ouvi-la falar meu nome.

- Isso é meio estranho, não acha?

- O que?

- Eu sei que a senhora não visita o quarto das outras irmãs, sei que não permite que elas lhe chamem pelo nome, mesmo que tenha o madre na frente. Por que comigo?

Ela ficou em silêncio um momento, eu conseguia escutar sua respiração forte e pesada.

- Porque quero que você seja uma freira perfeita. Já falei pra você que se continuar assim, será um exemplo a ser seguido. Quero me assegurar disso. E o nome, é porque eu gostei de ouvi-la o pronunciar.

- Por que que quando me olha, sua expressão é severa e para as outras irmãs, você suaviza e até sorri? Me desculpe, mas eu percebi isso. Eu fiz algo?

Ela se aproximou mais, dessa vez eu conseguia com toda a certeza do mundo sentir o seu calor. Suas mãos pousaram em meus braços e ela respirou fundo. Na mesma hora senti meu corpo se enrijecer. Senti meu corpo arrepiar. E algo abaixo do meu umbigo esquentou e pulsou. Nunca senti isso antes.

- Fez, irmã. Por isso lhe coloquei nesse quarto.

Sua voz estava numa rouquidão que me fez arrepiar mais ainda, e novamente, abaixo do meu umbigo esquentou e pulsou, mas também senti uma certa umidade.

- O que posso fazer para mudar isso? Ela respirou fundo e colou seu corpo ao meu, o ar que saía do seu nariz batia em meus cabelos, então ela pronunciou num sussurro:

Madre Superiora | WantashaOnde histórias criam vida. Descubra agora