vinte e nove

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esse é meu último poema, meu amor
não darei a você
o gosto de sentir que eu ainda o amo
aqui eu ponho um ponto final
aqui eu ponho meu último verso

eu espero que um dia
você fale a verdade
eu não vou brigar
eu não vou provar que eu
também estava certa
certas guerras não valem lágrimas
eu aprendi isso com você
certas guerras não podemos ganhar
então que você brigue sozinho
nesse campo de batalha que um dia
foi o nós

aqui eu boto um ponto final
no meu amor por você
nosso amor um dia foi lindo de se ver
meu azeite de dendê
ele ficará num museu estampado
no meu âmago
no fundo da minha mente

não vou permitir que você me atinja
não de novo
eu demorei muito pra juntar os cacos
que você quebrou
juntar os pedaços
em que você me deixou

nós dois sabemos da verdade
mesmo que você negue

obrigada por tudo
de verdade
obrigada por me fazer ver
o que eu deveria melhorar

mas aqui em prometo a você,
que eu nunca mais dedicarei um poema
uma carta
não dedicarei nada

você ouvira falar de mim pelos quatro cantos
ouvira detalhes dos meus livros
ouvira que eu estou sendo cuidada
ouvira que eu não me lembro mais da data do seu aniversário

você ouvira detalhes da minha formatura
ouvira que me tornei uma ótima jornalista

mas, você nunca mais
saberá o que habita no meu peito
nunca mais me ouvira falar sobre filosofia
sobre Nietzsche
sobre o feminismo
não me ouvira rir

meu sorriso já não será mais seu
meus olhos já não te olharão com o brilho
que você tanto amou
minha risada não será mais por causa de suas piadas

eu não te quero mais no meu peito
então por favor
bata a porta ao sair
e não volte mais.

— Não sou mais sua, e nem de ninguém.

tudo aquilo que eu não te disse.Onde histórias criam vida. Descubra agora