Annie falava sobre muitas coisas das quais eu não prestei atenção, a todo momento parecia que eu estava cercada de estranhos, por mais que agora eu conhecia todos muito bem. Inclusive Oliver, o cara brega, aparentemente o avião dessa loucura toda. Lembrar de como eu era antes e que, coincidentemente trabalhava nesta empresa, tudo se torna mais fácil. Porém, é a vida de Billie e seus planos, como vou proceder agora?
- Muito bem, vamos paras as considerações finais. Billie e Sucy, o que acham do projeto e nossas propostas? - Diz Annie, dirigindo seu olhar a nós.
- Devido aos fatos apresentados, creio que nós podemos agregar neste projeto. Porém, do nosso jeito. - Fala Sucy, tirando seu óculos de sol da cabeça e o colocando na mesa.
- Justo. Então, apurem seus dados e a maneira de como vão expor nosso projeto à população. Vocês tem duas semanas. - Diz Oliver, se levantando e indo embora, ao menos sem se despedir.
- Babaca. - Sussurro. Ele continua o mesmo escroto de sempre.
- O que disse? - Pergunta Sucy.
- Bacana. - Dou um riso forçado. Contar à Sucy de que não sou Billie agora, só nos traria mais problemas. Espero que meu segredo esteja bem guardado.
- É muito bom saber que você irá trabalhar conosco, Billie. - Diz Jean, se aproximando com um sorriso.
- E com Sucy também, não?
- Claro! Vocês serão ótimas nesse processo. Tenho que ir, nos vemos por aí. - Diz, mexendo no celular e se retirando.
- Quem é esse maluco? - Pergunta Sucy.
- Ah, eu conheci ele por aí. - Digo pensativa.
Preciso falar com Sucy a sós sobre o projeto, até porque não prestei atenção em nada do que Annie disse. Eu estava tão perdida em relação as minhas memórias que esqueci completamente de cuidar da vida de Billie, se este é um projeto importante para ela, preciso dar o meu melhor. Óbvio que não terei a mesma capacidade que a dela, levando em consideração de que não sou formada em design gráfico. Merda.
Depois de nos despedirmos fomos em direção à um restaurante, onde Sucy disse que adora ir com Kathleen. Eu admiro o relacionamento das duas, independentes, centradas e extremamente lindas. Sucy sempre sai por ai sem dar satisfação à ninguém, ao menos para a namorada. O lugar é aconchegante, luzes baixas, mesas confortáveis, o mínimo para um lugar onde as pessoas comem.
- Tá pensando em que? - Sucy corta meus pensamentos.
- No que eu vou pedir. - Menti.
- Eu recomendo você pedir escargot, que tal? - Sorri.
- Eca, eu odeio. - Arregalo os olhos, até senti uma ânsia.
- Que? É sua comida favorita, Billie. - Sucy me olha incrédula.
Puta que pariu.
- Comi tanto que passei a odiar! - Dou uma risada falsa, a fim de ironizar a merda que eu acabei de fazer.
- Cala boca garota. - Ri Sucy.
Nós fizemos o pedido e cerca de dez minutos já estava na mesa, realmente este restaurante é recomendável. Eu tinha esquecido completamente de que Billie e eu temos paladares diferentes! E entre outras coisas também, como gosto musical, moda, filme favorito, etc. Ao menos a pessoa mais importante para ela já sabe que eu não sou a verdadeira Billie, caso contrário, eu estaria ferrada.
- Deixa eu te contar... Não prestei atenção no projeto. - Confesso.
- Sério? Não te julgo, é uma merda. Mas, são os Kirstein, então vamos dar o nosso melhor. - Diz, se levantando da mesa.
- Claro, pode contar comigo. Depois me diz o que você entendeu. - Me levanto também.
- Sim. Vou dormir em casa hoje, só vou dar uma passadinha na Kathleen para me sentir um pouco amada, se é que você me entende. - Ri Sucy.
- Meu Deus. - Coloco a mão na cabeça, rindo. Sucy me abraça e some na multidão.
A partir de agora, as decisões que eu tomar, podem levar Billie a caminhos diferentes dos quais ela seguiria. Se eu pudesse encontrá-la por aí, seria ótimo para ao menos me localizar nessa tempestade toda. Sabe, é bem esquisito quando você está no corpo de outra pessoa, você não pode simplesmente fazer o que quiser. Eu preciso conversar com Ethan sobre tudo isso, visto que ele já sabe que sou uma impostora. Também preciso conversar com Jean, ele precisa me dar umas explicações.
Volto para casa e me deparo com Ethan no sofá, dormindo. A televisão ligada, passando um documentário sobre a vida e trajetória de uma cantora. O observo, parecia cansado, exausto de um dia difícil. Ele foi a única pessoa até agora a perceber que eu não sou a verdadeira Billie. E, curiosamente, ele pareceu não se importar tanto com isso, o que é, no mínimo, estranho. Talvez ele tenha algo a ganhar mantendo o meu segredo? De qualquer forma, ele é a minha maior chance de navegar por essa vida sem me afundar completamente.
- Você chegou. - Sussurra Ethan.
- Eu te acordei? Desculpa...
- Tudo bem, eu já descansei o que precisava. Como foi a reunião? - Diz, se levantando.
- Para ser sincera... Eu estava tão perdida em meus pensamentos, que acabei não prestando atenção. - Solto um riso frouxo.
- Cuidado Billie, é o seu futuro.
- Zoe.
- Oi? - Ethan me olha confuso.
- Meu nome é Zoe. - Sorrio.
- Zoe... Prazer? - Ethan coça a cabeça com um sorriso.
- Prazer...? - Indago com curiosidade.
- Ethan. - Ele sorri. - Mas, você se lembra de como era antes?
- Sim, me lembro de tudo perfeitamente.
- Será que seu corpo está perambulando por aí? - Diz, dando voltinhas com o indicador.
- Essa é uma boa pergunta. Ei, peço que não conte à Sucy sobre mim. Agora que estamos nesse projeto, ela não pode nem sonhar com algo assim. - Suspiro.
- Não seria melhor ainda contar à ela? Pois assim, Sucy pode te ajudar caso você não saiba algo.
- Eu preciso pensar, de verdade. Essa vida, esse futuro, tudo isso não é meu, Ethan.
- Você tem razão, desculpe. Preciso voltar ao trabalho, ok? Até depois, Zoe. - Ele pisca.
- Certo, se cuide por favor. - Ethan me dá um abraço e sai pela porta que entrei.
Quando recuperei minhas memórias, foi um baque. Eu, Zoe, presa no corpo de outra pessoa. Billie tinha uma vida estruturada, com amigos, uma carreira em crescimento e um futuro claro. Eu, por outro lado, não sabia ao certo como havia parado aqui, e menos ainda, como sair. Por enquanto, sou Billie para todos os outros. Mas eu nunca vou deixar de ser Zoe para mim mesma.
Os flashblacks retornaram novamente, isso me assusta de vez em quando. Depois que eu apaguei, acordei em uma espécie de limbo, o lugar era enorme e todo escuro, só eu estava lá. Corri por todo o espaço em busca de ajuda, mas não consegui. Depois de um tempo, a escuridão e o vazio que havia ali foi preenchido por uma claridade extrema, deixando o ambiente todo branco. Ouvi passos do infinito e fui atacada por pessoas mascaradas, em suas mãos, diversas seringas com um líquido misterioso. Sem entender nada, apenas cedi para o que estava me aguardando. O que? Eu não sei...
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Eu não sei...
General FictionO que você faria se acordasse no corpo de uma outra pessoa? Não sabe? Ela também não...