Seis meses haviam se passado desde que Martin começou seu intenso treinamento com Baldur e Jasmim. Em três meses de treinamento, ele conseguiu despertar o elemento original de seu Éter, que é o elemento da água. A relação entre ele e Jasmim havia se fortalecido significativamente. No momento, Martin estava correndo pela floresta, desviando das árvores e arbustos, ofegante. Ele olhava por cima dos ombros, preocupado, como se estivesse fugindo de algo.
De repente, sem perceber, ele e Jasmim colidiram no meio do caminho. Ela caiu sobre ele, e, por pura coincidência, a mão de Martin pousou diretamente no peito dela.
— Que isso? É macio... — Martin comentou, sem pensar.
Imediatamente, o rosto de Jasmim ficou ruborizado de vergonha e raiva. Ela levantou a mão e deu um soco certeiro no topo da cabeça de Martin.
— Seu idiota! — disse ela, furiosa, enquanto ele segurava a cabeça dolorida.
— Vamos, a gente precisa chegar até a praia, ou o Tio Baldur vai deixar a gente sem jantar por dias! — Ela se levantou rapidamente, ignorando o constrangimento, e começou a puxá-lo pela mão.
Martin, ainda esfregando o galo que começava a crescer em sua testa, resmungou baixinho: — Eu não fiz nada... foi só um acidente...
Mesmo assim, ele seguiu Jasmim, que o puxava pela floresta com determinação. Enquanto corriam, Martin não pôde deixar de pensar nos últimos seis meses e em como eles tinham ficado próximos. Ele se lembrou de várias cenas — os dois dormindo desajeitadamente, com as pernas um sobre o outro após um treino cansativo; momentos em que riam juntos de piadas bobas; os treinos intensos em que sempre apoiavam um ao outro.
Finalmente, chegaram à praia onde Baldur os esperava, impaciente. Ele os observou com uma expressão de leve irritação.
— Vocês estão atrasados! — Baldur resmungou, cruzando os braços.
Martin, ainda um pouco ofegante, respondeu: — Tivemos um... imprevisto no caminho.
Jasmim, lembrando-se da colisão na floresta e ainda sentindo vergonha do incidente, deu outra porrada em Martin, que gritou:
— De novo? O que eu fiz dessa vez?!
Baldur ignorou o tumulto e continuou com o que tinha a dizer. — O treinamento de hoje será diferente. Vamos para o campo de batalha enfrentar monstros. A Passagem dos Monstros será o nosso destino.
Jasmim ficou um pouco preocupada. — Passagem dos Monstros? Mas lá há criaturas de nível 3 e até de nível 4! Isso não é perigoso demais?
— Não se preocupe — Baldur disse, com confiança. — Eu vou estar com vocês. Além disso, está na hora de vocês enfrentarem desafios de verdade.
Martin, por sua vez, ficou pensativo, lembrando-se da última vez que esteve na Passagem dos Monstros. O cocheiro de Daeron o havia deixado para trás, e ele teve que enfrentar um troll, que quase o matou. Foi nessa ocasião que ele precisou usar a espada de Litty pela primeira vez. Mas agora, ele se sentia muito mais preparado do que antes.
— Outra coisa — Baldur acrescentou, interrompendo os pensamentos de Martin —, não dá para você lutar usando espadas de madeira. No caminho, vamos parar em um ferreiro para te comprar uma espada decente. Também vamos recrutar alguns aventureiros para nos acompanhar.
Martin assentiu, sentindo-se animado e confiante. Seis meses de treinamento intenso o haviam moldado. Ele sabia que, desta vez, enfrentaria a Passagem dos Monstros com muito mais habilidade e preparo do que na última vez. Ele olhou para Jasmim, que também parecia determinada, e sorriu. Estavam prontos para o próximo desafio.
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O sol ainda estava se erguendo no horizonte enquanto Baldur, Martin e Jasmim seguiam seu caminho para a cidade. Eles estavam acomodados em uma carroça simples, alugada por Baldur para facilitar a viagem. O som das rodas de madeira chiando contra o caminho de terra era acompanhado pelo farfalhar das árvores ao redor. No entanto, a atmosfera dentro da carroça era bem mais silenciosa, quase tensa.
Jasmim, sentada ao lado de Martin, não conseguia se concentrar. Seu rosto estava vermelho, o que não passou despercebido por Baldur, que lançou um olhar de canto de olho, mas nada comentou. Na mente dela, flashes de uma lembrança recente passavam, do dia em que, por acidente, ela o viu se banhando em um rio da floresta. Ela não sabia por que, mas aquela cena ficava voltando em sua mente. "Por que eu fico pensando nele o tempo todo?", se perguntava. "Será que... estou apaixonada por ele?"
Ela olhou para Martin de relance. Ele estava tranquilo, olhando para a paisagem ao redor, como sempre sereno. Jasmim o observou mais de perto, percebendo os traços que ela considerava misteriosos e cativantes, mas ao mesmo tempo algo parecia diferente nele. "Ele é tão... sereno. Mas sinto que tem algo a mais, algo que ele esconde." Frustrada, ela balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos confusos.
Martin notou o movimento e, com a expressão curiosa, perguntou: — Jasmim, você está bem?
Ela se virou rapidamente, quase irritada com o fato de ele ter percebido. — Estou ótima! Não precisa ficar perguntando essas coisas o tempo todo! — disse, de forma defensiva.
Ele arqueou a sobrancelha, surpreso, e respondeu com uma cara cômica. — Mas... eu só perguntei uma vez.
Ela cruzou os braços e virou o rosto, emburrada. — Rum.
Martin riu levemente e, em um gesto de conforto, pegou a mão dela. O toque foi inesperado, mas reconfortante. — Não se preocupe, Jasmim. Vai ficar tudo bem na Passagem dos Monstros. Eu não entendo por que você está tão preocupada, já que você é uma lutadora incrível.
Ela piscou, surpresa com o elogio. — Você acha mesmo?
— Claro que acho — Martin respondeu, com naturalidade. — Nem eu consigo me aproximar da sua habilidade com a espada. Você é muito boa.
Jasmim sentiu uma onda de calor invadir seu rosto. "Ele está tentando me animar?", pensou. "Ele tem dois elementos e, em poucos meses, já superou tanto nos treinos...". Mas antes que ela pudesse mergulhar mais fundo nesses pensamentos, Martin cortou sua linha de raciocínio.
— Eu também estou com medo. — Ele falou, de repente.
Ela arregalou os olhos. — V-você está com medo? — Perguntou, surpresa.
Martin assentiu, com um olhar sério. — Sim, antes de conhecer você e Baldur, fui largado naquela floresta por um elfo. Ele queria que eu fosse devorado por uma criatura só porque eu sou humano.
Jasmim fechou os punhos e cerrou os dentes ao ouvir aquilo. Ela sabia como os humanos eram frequentemente maltratados por algumas raças, mas ouvir que Martin havia sofrido dessa forma a deixava furiosa.
Martin continuou, o tom um pouco mais sombrio. — Se não fosse pela Litty, eu estaria morto. Eu era fraco. Pior ainda... — Ele parou por um momento, olhando para as próprias mãos. — Eu ainda sou fraco.
Antes que ele pudesse completar o pensamento, Jasmim se moveu rapidamente, abraçando-o com força. Martin ficou surpreso, seu corpo ficou tenso por um segundo, mas logo relaxou. A proximidade dela e o calor do abraço eram confortantes.
— Dessa vez — ela disse, a voz determinada —, eu vou proteger você.
Martin não sabia o que dizer. As palavras dela tocaram algo profundo dentro dele. Ele sorriu suavemente, grato por aquela conexão que havia se formado entre eles.
Antes que o momento pudesse se prolongar, Baldur, sentado à frente, anunciou: — Chegamos na cidade!
Jasmim rapidamente soltou Martin, seu rosto ficando vermelho de novo, enquanto Martin ainda processava o que acabara de acontecer. O clima de proximidade foi abruptamente interrompido pela voz grave de Baldur, mas a conexão entre os dois parecia ainda mais forte.
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Crusade Of Gods
AventuraMartin tem uma nova chance de se tornar uma pessoa melhor quando, à beira da morte, a vida lhe oferece mais uma oportunidade, em um mundo completamente diferente de tudo que ele já conheceu e carregando um fardo que te deixa poderoso. Agora, cabe ap...