No final das contas a vida continuou. O bar aos poucos foi voltando ao normal, embora o nome de seu Zé constantemente fosse relembrado. Suas histórias continuavam a ser contadas e o Joca tinha posto um quadro na parede em sua homenagem, ao seu melhor cliente e amigo. Os campeonatos de sinuca ganharam novos campeões e as rodas de samba seguiram com novos anfitriões.
Seu Zé acabou ganhando uma lápide de presente da dona Lídia, ela foi uma vez só visitá-lo, levando flores. A mulher se surpreendeu ao chegar lá e ver tantos copos. Acabou pagando para fazer uma lápide decente para o seu herói, era em mármore branco e tinha os escritos: José Cândido da Silva, nascido em 12 de maio de 1927, falecido em 04 de dezembro de 1992, o herói da Lapa.
Já era 1993 quando um rapaz encontrou o túmulo que procurava. Ficou algumas horas ali, somente parado. Olhava a foto que estava cravada na lápide e ficou surpreso com a semelhança, não lembrava muito da figura que estava ali sob toda aquela camada de pedra, terra e madeira. Já tinha uns 25 anos que não o via e a memória infantil se recordava dele mais jovem, o rosto era mais liso e o cabelo crespo mais escuro, a camisa do flamengo seguia a mesma.
Ao perguntar ao segurança do cemitério qual era aquele monte de copo no túmulo, o homem afirmou que o morto realizava milagres.
— O Seu Zé faz milagre, filho! Esses tempos uma senhora, a dona Cleide, perdeu o dinheiro do aluguel e veio aí com o copo de cachaça pedir para conseguir esse dinheiro de volta. Cê acredita que saindo daqui a mulher encontrou o rolinho de dinheiro certinho?
O rapaz não acreditava na verdade, mas concordou fingindo incredulidade com o segurança.
— Você sabe onde eu posso saber mais sobre ele? — perguntou.
— Qualquer um aqui do Jacarezinho pode te falar, mas acho que o pessoal do Bar do Joca pode te ajudar. Fica subindo aqui a rua, terceira rua à esquerda.
O rapaz agradeceu e fez o caminho informado.
Era por volta das 16 horas, o sol estava forte e ele sentia o suor escorrer pelas suas costas, quando encontrou o bar de paredes azul-piscina com o letreiro mais mal feito que já vira na vida, soube que chegou ao lugar certo.
Quando entrou causou perplexidade. Joca e Marcelão acharam que estavam vendo coisa.
— Ih, caralho, colocasse alguma coisa diferente na bebida, Joca? — perguntou Marcelão ao amigo. — Tá vendo o Zé também?
Joca via, o espanto durou poucos segundos. Quando o garoto abriu a boca souberam que não era uma visita espiritual.
— Aqui que é o bar do Joca, não é? — Perguntou sem jeito, colocando as mãos no bolso do jeans.
— Aqui mesmo, e tu é quem? — Perguntou Joca.
— Eu me chamo Adriano.... é... eu queria saber se vocês poderiam me ajudar com uma coisa. — olhou a foto do Zé na parede e voltou a Joca e Marcelão. — Eu queria conhecer meu pai, me disseram que vocês poderiam me ajudar.
Marcelão, sorrindo e puxando uma cadeira de plástico vermelho ao seu lado para que Adriano sentasse, falou:
— Joca, já abre mais um litrão ai que a história vai ser longa.
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Seu Zé
Short StoryNo Rio de Janeiro dos anos 90, Seu Zé é uma figura lendária da boemia no Morro do Jacarezinho e arredores. Contador de histórias, ele navega entre as noites boêmias e os dias difíceis, vivendo à margem da sociedade. Mas quando uma tentativa de seque...