3 - A BABÁ

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I

A noite caía como um véu de escuridão pesada, engolindo o mundo em um silêncio inquietante. O céu estava coberto de nuvens espessas e negras, que pareciam descer lentamente, quase sufocando a terra.

Relâmpagos cortavam o horizonte em rajadas rápidas, iluminando, por breves instantes, as árvores retorcidas e as sombras que dançavam lá fora. Da janela, Isadora observava com atenção a movimentação dos carros, dos ventos e a vida que seguia. Ah, como gostaria de ser ela a pessoa que sairia aquela noite, jantaria no melhor restaurante da cidade ao lado de uma boa companhia.

Teve de acordar desse sonho febril, abrir os olhos e voltar para a sala de estar, cuidar das crianças que estavam assistindo à TV já há um bom tempo. Detestava ter de fazer isso, mas era o único emprego em que conseguia ganhar uma grana. Anteriormente, fizera coisas das quais não se orgulhava e, pensando nisso, afastou de sua mente toda essa confusão, você pode mudar de vida, pode tentar fazer o que bem entender, Isadora, mas no fundo você sempre será uma garota de programa imunda, aquela voz, estranha e familiar sussurrava na mente. A conhecia tão bem e era a única que sabia de seus segredos.

A vida se fantasia de doce para esconder as amarguras que residem no nosso interior. Limpou uma lágrima que estava prestes a escorrer e engoliu o choro que prendia a garganta num nó. As crianças estavam pulando de um canto ao outro no sofá, rindo e gritando coisas de crianças que apenas elas entendiam. Rapidamente ela pegou o controle remoto e desligou o aparelho. Os dois pirralhos pararam de imediato e a encararam.

— Nós estávamos assistindo — disse o mais velho, fazendo uma cara emburrada.

— Sim — concordou o mais novo.

Isadora lhes ofereceu um sorriso triste e pousou o controle remoto na mesinha.

— Desculpa, crianças, mas já está tarde e vocês precisam dormir. Seus pais vão chegar logo e não vão gostar de vê-los acordados ainda. Já se passou meia-hora da hora de dormir.

Os dois irmãos se entreolharam, depois, como que de pirraça, cruzaram os braços em sintonia e se recusaram a sair de cima do sofá, encarando a televisão desligada. Ela sorriu para eles, entendendo que sua autoridade estava sendo testada. Lá fora um relâmpago explodiu e o mundo voltou a ficar claro por poucos segundos. Isso os fez perder a estabilidade da birra, assustando-os.

Ela compreendeu de imediato. Olhou para a janela e depois se voltou para as crianças. Do bolso de trás de sua calça, Isadora retirou o celular, mostrou-lhes a hora: 21h32.

— Essa não, pessoal. Já está muito tarde. Isso é terrível, o que vamos fazer? — Isa se voltou para a porta da cozinha, um barulho ressoante vinha de lá, enquanto os ventos da chuva se aproximavam, balançando as janelas de lá da cozinha.

— Do que está falando? — Uma das crianças perguntou, segurando o braço da outra.

Isa pousou um dedo sobre os lábios para que fizessem silêncio.

— Da criatura que vem à noite. — Seus olhos ainda estavam voltados para a cozinha. — Ela vem tarde da noite procurar por crianças que permanecem acordadas.

O vento fez as árvores lá fora balançarem mais um pouco, as luzes piscaram e depois se apagaram rapidamente. Os dois pestinhas soltaram um grito estridente que ecoou pela casa e fez os ouvidos da babá doerem. Depois, quando a energia retornou, eles o viram: alto, coberto de folhas e matos, a cara retorcida num sorriso macabro.

Eles gritaram mais ainda e a criatura avançou sobre os três, caminhando com dificuldade, mas, mesmo assim, vindo com vigor até eles. Resmungava, sussurrava, grunhia.

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