Capítulo 1

2 0 0
                                    

 JULHO DE 1955( EM ALGUM LUGAR NO RJ)

Nao me lembro se existia vida antes dele, ou se ele realmente era real, ou um de meus devaneios de velho esclerosado. Mas eu ja o provei, e seu gosto ainda domina minha boca todas as noites. Eu era um jovem bonito, garanhão para quem me conhecia intimamente, eu sempre fui apaixonado por amores rápidos, que deem de dar uma volta na pracinha e acabar entre um par de coxas quentes. Meu deus eu imploro pelo amor juvenil como naquela época. Tão cheio de manias e sensualidade modesta. Menos para ele. O dono daquela varanda, que regava as suas rosas so de cueca, me fazendo bater o carro para aquela deliriosas de persuasão.

O senhor esta bem?-fui sacudido - ja estão chamando a ambulância para você.Nao não - supliquei - eu feri alguém?

Voce entrou numa casa abandona ha anos - percebi ser um homem pela risada grave.

Me ajudou a ficar em pe, uma multidão me cercava mas senti seus olhos na minha nuca, enrolado num roupao me olhava na sua sacada, qual era seu nome? De onde ele veio? Ele tinha um nome? Eu poderia apelida-lo. Mas não éramos íntimos.

E aquele?

Logo o homem notou aonde eu apontava com o queixo. Deu um sorriso meia boca e segurou no cinto - vejo que a peca que tirou sua concentração do volante. Se mudou ontem a noite. Um jovenzinho que não sabe a antiga historia do morador dessa casa.

Qual o nome dele?O nome eu não sei. Mas quem tem presença ele tem. Deve ser estrangeiro.

Ele não me saia da cabeça mesmo como pontos, cinco para ser exato. Andava pelas ruas, tratando e jogando conversa fiada com a vizinhança que nunca fiz questão de conhecer. Eram todos um cagoes para mim, com medo das esposas e com filhos rançosos. Nunca dançavam ou faziam amor fora de hora, era preciso malandragem para fazer o sangue esquentar.

Tem outro bobão por acaso? Não demore, estou morrendo de calor e meu ventilador não liga.

Com sua bebida subia as escadas da sua casa, ele estava secando o cabelo no grande espelho do seu quarto que ocupava todo o segundo andar da casa praticamente.

Demorou viu - pegou a cerveja e deu uma golada - comecei a beber hoje, acredita?Nao me parece um iniciante.Ah - se sentou na cama que ficava no meio do quarto - isso e porque o Juca bebia, me acostumei com o gosto beijando ele.Juca? - pus as mãos no bolso - Seu namorado?Meu noivo, Julio Cesar - estralou os lábios - Alias qual e seu nome? Voce e minha primeira visita. Estou te observando desde ontem quando bateu na minha casa favoritaSou Angelo,e você como se chama?

Ele abriu um sorriso, nossa como eu tinha vontade de lambe-lo - Sou Pierre. Muito prazer.

E por onde seu noivo?No sul da Franca, trabalhando mas shh - ele chegou perto o suficiente para me embriagar com seu hálito - não conte a ninguém, Juca sempre diz que e meu pai para evitar situações desagradáveis. E ele confiou em te deixar sozinho?Consigo amarrar meus próprios cadarços, sabia? E você arruinou a casa de Dante.Dante? Quem e Dante?O amante de Marcelo. Eles moravam aqui, nessa casa, anos atras.

Ele me arrastou pela varanda afora - ali estava pichado PERVERTIDO na porta. Dante e Marcelo se mataram aqui, ha muitos anos dizem que encontraram seu corpo pendurado, bem aonde minha cama esta.

Seu noivo concordou em vir morar aqui, sabendo dessa historia? - disse incrédulo.Ele nunca foi capaz de me negar nada - dizia sorrindo, rodopiando o roupão - Francamente eu espera mais de você. Arrepiado com um simples caso de morte passional. Bobinho. A morte nao te assusta?Tenho medo de morrer sozinho, mas da morte não. Voce não amaria morrer com quem voce ama? Ficariam juntos para sempre. E tão...Morbido - cuspi.Romantico, Angelo.

Olhei bem para seu quarto. Moveis caros e confortáveis, a cama com dossel com um mosquiteiro caindo atras dela. Havia uma mobilia debaixo da janela. Seu noivo devia ser um cara rico.

Onde exatamente ele morreu?Se enforcou no lustre - apontou para cima - o acharam depois de dias. se suicidou após degolar Dante, dizem que ele era ciumento. Batia ate em policia, quem me dera viver um amor assim.

Revirei os olhos.

Sua esposa vai ficar furiosa se chegar tarde em casa senhor Angelo.Como sabe que sou casado? Todo homem que anda essa hora na rua, faz filhos. Juca teve sorte que não engravido- ele agora sorria, mas para o passado - por mais que ele tente.Então ja esta me expulsando?Pode ficar se consertar meu ventilador, estou derretendo.

Com um toque masculino, ajeitei a engenhoca. Olhei para Pierre, que ja dormia na cama. Anos depois eu so descobri como ele mentia bem. ate dormindo ele mentia, pois nem seu nome era Pierre.

A Varanda de PierreOnde histórias criam vida. Descubra agora