Capítulo 4

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Ciúmes, que eu nunca tive no meu matrimônio. Sentia por um garoto vislumbrado. Eu me odiava, no bordel procurei me saciar, mas não conseguia ficar de pau duro. Então em afoguei em bebida.

O bastante para ser assaltado, estava descalço cambaleando pela cidade quando me deparei com a igreja, o padre me convidou a passar a noite achando ser um sem-teto. Me deitei nos bancos e sonhei com ele, dançando semi nu apenas de cueca.

Ele era o motivo do meu alcoolismo.

Queimei um pedaço da cruz na vela e esbocei seu contorno nas paredes, eram pequenas demais. Fechadas demais, precisava de algo mais grande, queria vê-lo.

Me lembrei do caminho, cai de cara no bar sendo socorrido mais uma vez por Rafael. Ele ligou para minha mulher me buscar, desgraçado. Cátia não perdeu outra e me cobrou se solavancos e álcool para limpar as feridas.

Corte na sobrancelha. Boca rasgada e joelhos ferrados. Mas ainda poderia sentir o cheiro dele. 

Pierre abaixou a agulha da vitrola. Ele dançava como uma bolha de sabão pelo quarto, leve e desengonçado. Puxou Ricardo para sua valsa.

Meu pai me traduziu essa música toda aos nove anos, ele fala francês tão bem quanto português.É uma música romântica?E melancólica. Ela pede para não ser abandonada, viajaria o mundo todo por seu amor.Você e seus ideais de amor.Não acredita no amor, não acredita em você, não acredita em nada não é mesmo Ricardo?Sou um homem mais cético.Há algo de cético entre o amor de dois homens?

Ricardo, eu me lembro desse garoto jovem correndo com uma latinha de coca cola igual chocalho. Sempre sujo de joelhos ralados. Sua mãe, estressada por natureza estava aos berros na frente do bar.

Seu pai gostava de ver um bom rabo de saia. Garotas jovens que vinham pedir copo de água depois de bater perna a noite toda nas festas. Ricardo gostava de olha-las,também gostava de olhar a maneira que os homens sentavam.

As formas masculinas e silhuetas femininas o esquentavam o ventre. Ele não se lembrava de quando começou a ser perturbado, não mesmo. Mas se lembrava quando fez amizade com Marcelo. O homem culto que morava na casa em frente.

Deixava ele se aventurar na sua biblioteca toda as tardes, tomavam chá e depois viam televisão. Ele apreciava o silêncio, e a maneira como o homem fumava. Tão galante. Tentou imitá-lo acendendo um na boca do fogão mas foi repreendido.

Foi naquele instante a sua epifania. Ele queria ser um homem, amadurecer o mais rápido possível, ser cordial e culto. Alto e forte como se esperavam, bonito para se safar da polícia. Se matriculou num clube, que Marcelo frequentava.

A natação lhe rendeu altura e ombros largos. Foi quando conheceu Dante, o homem mais cafajeste que já viu. Seu andar, a malícia na sua fala. O jeito que via o mundo por seus olhos.

Seu primeiro beijo foi com ele, escondido no vestiário aos catorze anos, já Dante passava dos trinta há muitos anos. Depois disso o mundo veio com novas cores.

Cores que enxergou ao redor de Dante e Marcelo. A maneira enciumada que Dante sempre cobrava Marcelo. Dante gostar da companhia de homens e mulheres, apenas para irritar Marcelo. Ele era viçoso, mas muito bonito.

Ensinou Ricardo a tragar. Como segurar o cigarro e qual marca comprar. Acender com fósforo melhorava o gosto do tabaco, e soprar pelas narinas fazia suas roupas não federem.

Eu quero ser médico.Meu pai era médico.Que tipo de médico?Pediatra. Morreu e me deixou uma pequena fortuna. Quando morrer eu deixo ela para você Mas e seus filhos? Não pretende ter Dante?Odeio crianças - cuspiu - mas gosto de sua companhia, me faz sentir menos solitário.A companhia do Marcelo não te agrada?Muita coisa nele vem me desagradando, suas ideias de revista. Suas ideologias baratas e previsões sem conexão. Ele quer ir para o estrangeiro, acredita? Ser professor.Ele é um bom professor.Professor de literatura- zombou- falei que não lhe dava uma moeda furada por essa ideia.Tem medo dele ir embora e nunca mais voltar

A Varanda de PierreOnde histórias criam vida. Descubra agora