Pierre se espreguiçou, lentamente na cama. Usando apenas cueca e uma regata. A chave fria balançava em seu peito.
Então - afastou o lençol de suas pernas - fique imaginando quando aparecia aqui.
Adelaide piscou várias vezes, até criar coragem de abrir a boca - Eu não sabia que meu marido esquentava a cama de outros homens. De mulheres claro mas isto - apontou para o rapaz - me deixou perplexa.
Esquentar a cama - bufou - eu nunca dormi com ele, você não leu todo o livro não é?Algumas partes, começavam a fazer coerência quando me falou dessa estátua de bailarina. E seu nome, Michelle ou Pierre. Quem é você?
Ele riu, erguendo as pernas no ar - Falou como seu marido, ele passa todas as noite ali no bar. Me olhando, por isso bateu o carro.
O carro - seus olhos castanhos lacrimejaram - Desde o começo das férias isso acontece?Está chorando porque fiz seu marido ficar obcecado por mim sem intenção?Estou chorando por mim mesma. Meu pai sempre disse que eu era chorona. Talvez se eu fosse mais como você, já teria descoberto essas traições.
Pierre pegou a bailarina dando corda - Camille me contou sobre você. Como é frígida.
Ele se levantou. Arrumando a cueca na cintura - mas eu não sou ninguém antes de um bom copo d'água de manhã, odeio café.
Ele saiu, confusa Adelaide de permitiu chorar. Olhou a varanda, como um bebado sentado na calçada poderia vislumbrar o rapaz. Olhou ao redor do quarto, a cama no meio do quarto. O cheiro da sua colônia. A chave caída entre os lençóis.
não sei se você gosta de água gelada, então eu trouxe gelo.Nunca tranca a porta, não é?
Pierre levou a mão ao pescoço - deve ter enroscado no lençol, põe para mim? Não alcanço o fecho.
Levantou o cabelo morno de sono. Pierre ficou parado, incomodado como Adelaide o encarava.
Estava tudo lá, menos seu nome. Mas a forma como você piscava, seu perfume. Seus hábitos noturnos, até mesmo sua varanda, sempre de cortinas abertas.Até os rabiscos que ele fez de mim na igreja? Ricardo é voluntário na reforma. Ele me desenhou bem, saiu até na rádio o vandalismo-erótico.Foi a igreja onde nós casamos- ela disse, arrependida.Ele dei muito conteúdo para ele escrever, foi divertido sabia? Mentir para ele, Júlio César falava sobre isso. Que os homens gostam quando mentem, isso excita eles. Se parecer com eles.Esse Júlio César que tanto fala. Existe mesmo?Você se parece mais com o Ângelo que acha - riu- Ele é meu pai, bobinha. Claro que existe.
Seu queixo caiu - Seu pai?
Ele exibiu o anel - Está chocada? Não fique. Marcelo e Dante eram amigos e amantes - suspirou - de pai para noivo foi um simples passo.
Eu li essas partes, mas achava que eram delírio de bebado de meu marido."Meu marido" - bufou - diz isso ainda com tanta certeza, você nunca vai se divorciar dele não é? Pode parecer forte e fria, mas é frágil, como porcelana barata quando está sozinha. Comigo não, comigo é na vinganca.Deve ser por isso que meu marido ficou tão atrai...Você quer parar com isso! - berrou - eu não fui atrás dele, não quero nada com um velho frouxo como ele! Ele não presta e você sabe disso!
Assustada, Adelaide deixou cair sua bolsa. Pierre remexeu a chave no pescoço, enfurecido - Quantos Pierre vão ser necessários para você se tocar disso! Dez? Vinte? Meio milhão? Você ficou tanto tempo cercada de idiotas que virou uma!
Você seduziu meu filho? - engoliu em seco - por isso inventou Michelle?Não precisei, ele me achou. Vocês são sedentos como cães no cio por amor. Iria gostar do meu pai, ele sabe satisfazer todos os nossos desejos como um bom francês.Essa casa, sua história. Seu nome. Tudo que me fala eu sei que é real, mas não acredito em nada que fala.Tem medo do que não compreende. Isso te assusta.Você muda até o tom da sua voz - Adelaide quase disse isso como um elogio, se não houvesse lágrimas no seu rosto - Lá em casa era outro. Mas aqui eu vejo você, diferente.Claro, Michelle e Pierre são duas pessoas opostas. Camille me deu ideia pra esse nome, como uma forma de homenagear Marcelo. Ela também me contou do acidente do seu pai.
Adelaide recolheu a bolsa, com o coração na mão - Que história é essa? Do que está falando agora?
Ele se deitou ao lado da bailarina - seu pai não caiu das escadas, bobinha. E você sabe disse, você o empurrou.
De repete ele começou a gargalhar, cobrindo a boca - Você e Ângelo formam uma boa dupla de assassinos. Por isso não larga dele?
Atordoada, ela saiu às pressas do sobrado. Entrou no seu carro cantando pneu. Ricardo olhou para a fumaça deixada. Viu uma nota de dinheiro amassada no seu pé.
Olhou para a varanda e viu Pierre fumando um cigarro - Tem cerveja?
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Wow, a mulher dele veio aqui?VeioE ele escreveu um livro sobre você?EscreveuE ela matou o pai?Deu para ser papagaio agora?
Ele se sentou no baú - É muito para absorver. E agora o que fará?
Ela me deixou de péssimo humor, pensei em voltar a dormir mas nao conseguiria.
Ricardo teve uma ideia - Que tal irmos ao teatro?
Pierre sorriu - boa ideia, Juca tem um camarote. Qual peça está em cartaz?
Era Uma Vez Anos 50 - limpou a garganta - um amigo me recomendou.Parece ser libertino - riu - vou me vestir.
Se levantou indo em direção ao guarda roupa- vire de costas.
Revirou os olhos, olhou para sua varanda. Vendo seu pai varrer a calçada. Ontem ele quase apanhou de cinto por ter pulado da varanda seminu, sua mãe quase desmaiou o vendo sem camisa.
-Pode virar.
Ricardo sorriu -Nunca tinha te visto de calças antes.
Gostou? É jeans francês.
No teatro se encontraram com Henrique, os convidou para subir a seu camarote. Sob as baixa luzes, Ricardo e Pierre seguravam aos mãos. Vendo a data dos ingressos que caíram do bolso de mais velho, que Pierre se deu conta.
"Meu pai chega em dois dias."
Cutucou Ricardo - me promete uma coisa?
Ele acentiu.
Que em Agosto, você vai embora da cidade e me levar junto.Iria para São Paulo? E sua casa?A gente compra tudo novo.
Na escuridão, Pierre pode ver o sorriso do mais velho - Então, vamos ser mais que amigos?
Me pede em casamento. Agora - sussurrou.
Ricardo tateou os bolsos desesperado. Achou uma tampinha de refrigerante no chão e mordeu, abrindo ela. Rodou no seu dente e fez um anel irregular.
Encaixou no dedo do menor, retirado a aliança e jogando ela na plateia. Gostaria de ter tido coragem de beija-lo. Mas guardou esse sentimento.
Vamos comprar as passagens amanhã cedo. Tenho um apartamento em SP.
Pierre sorriu, pensando nessa aventura. Mas isso nunca chegaria a acontecer. Ricardo nunca chegou ao aeroporto e Pierre nunca terminou de fazer suas malas.
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A Varanda de Pierre
General FictionObssessoes, crimes passionais e sexo Um bonito e intrigante garoto na década de 50 se muda para uma casa que ocorreu um crime passional entre dois homens. Chamando a atenção de um pai de família adultero que fica obcecado pelo rapaz, Pierre, noivo d...