Hoje

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Chegou no trabalho apressada. Seus olhos buscavam outros olhos com desespero e urgência.  Hoje ela tiraria a prova de tudo. Era loucura de sua cabeça,  sonho, devaneio ou era a mais pura verdade o que via naqueles sorrisos e trocas de olhares.
Cumprimentou a todos com impaciência, pois o objeto de admiração e desejo não estava presente. Guardou suas coisas e saiu percorrendo todos os espaços na ânsia de encontrá-lo. Seu coração batia acelerado. Seu rosto suado, já sentia a blusa colar no seu corpo, precisava se recompor.
Passou no banheiro para retocar a maquiagem, lavar as mãos, acalmar-se, mas o sonho que tivera na noite passada voltou ao seu pensamento. Ele beijando seu rosto,  sua boca, seu corpo... Arrepiou-se toda e acordou daquele devaneio com pressa de resolver aquela situação. Precisava seguir a vida. Aquele sentimento a estava mortificando. Precisava tirar a limpo, assim seria mais fácil seguir. Temia entregar-se, falar seu nome à noite, sem querer... Saiu do banheiro agora a passos lentos, pensando no encontro que teria em breve, no que diria e como  resolveria aquela situação.
Passava pelas pessoas do escritório como se vagasse sem rumo até que lá no fundo do corredor próximo ao elevador o avistou. Uma onda de calor percorreu seu corpo. Ficou estática por alguns segundos e então resolver agir. Apressou-se e quando sentia que poderia abordá-lo, a porta do elevador abriu. Ela, no ímpeto,  entrou apressada.
Quando percebeu que ele a olhava com um misto de susto e curiosidade, intimidou-se. Sua face corou imediatamente,  como era de costume. Cumprimentou-o e ficou em silêncio tentando elaborar o que diria pois tudo que tinha ensaiado antes fugira de sua mente.
Os segundos pareciam horas e quando ergueu o olhar, percebeu assustada que ele havia apertado o botão para que o elevador parasse. Ele então aproximou-se dela como um gato, olhando fixamente em seus olhos. Ela não conseguia se mover, nem dizer sequer uma palavra. Ele colocou as mãos em seu pescoço e ela sentiu aquele toque queimá-la por inteiro. Aproximou sua boca da dela e ela só conseguia sentir o hálito perfumado de menta que ele exalava. Quando ele tocou seus lábios foi como se uma explosão acontecesse em seu corpo. O beijo começou delicado, cuidadoso, mas aos poucos foi se mostrando exigente, e ela não pensava em nada, somente naquele beijo e na dança de corpos e línguas que acontecia naquele elevador. Sentia o cheiro especiado e amadeirado do perfume que exalava daquele corpo que agora podia tocar. Beijava aquela boca carnuda que a distraía nas conversas que tinham.
Quando percebeu que aquele beijo poderia levá-los a algo mais sério e picante, começou a afastar-se. Olhou profundamente naqueles olhos que eram a perdição de sua vida e, apesar de não querer sair dali, de desejar profundamente continuar tudo aquilo, apertou o botão para que o elevador seguisse seu caminho. Quando a porta abriu, olhou mais uma vez para aquela boca, aqueles olhos e disse: Obrigada. E saiu deixando pra trás todo aquele desejo que estava sufocado, aprisionado dentro dela. E decidiu seguir sua vida, voltar para sua rotina, como se nada tivesse acontecido. 

Mulher no mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora