Mais um dia de trabalho, ela chega procurando alguém. Disfarça, sorri, conta piadas, mas seu pensamento está em outro lugar, onde ele estará?
Resolve então ir ao almoxarifado pegar alguns materiais e quando abre a porta, percebe que não está sozinha. Lá está ele, com aqueles olhos encantadores e uma cara de cansado e triste que a incomoda. Percebe que ele estava de saída, mas quando a vê decide ficar.
Ela, constrangida com aquela presença que há um tempo tira o seu sono, ele indiferente à perturbação que a consome.
Começam a conversar sobre o trabalho, o cansaço da rotina e outras banalidades. Ela veste a personagem da amiga simpática e feliz, ouve seu desabafo com atenção, mas em alguns momentos os olhos a traem, pois percebe-se encarando aqueles olhos, mirando aquela boca. Rapidamente, desvia o olhar rezando para que ele não perceba o desejo que a domina.
Ele começa a falar de intimidades, sente-se a vontade pra revelar os sentimentos mais profundos. Ela ouve atenta. Até o momento que ele desabafa que não está mais sozinho. Ela tenta disfarçar o desapontamento, a frustração, sentimentos totalmente inapropriados para aquela mulher. Mas, no coração não se manda.
Continuaram aquela conversa por quase uma hora, falaram da família, da organização do almoxarifado, das coisas que poderiam fazer para deixar o ambiente mais agradável. Enquanto andavam, ela só pensava em como ele poderia surpreendê-la com um beijo, um toque. Pensava em abraçá-lo, em dizer coisas no seu ouvido, em sentir suas mãos sobre sua pele. Mas, nada aconteceu. Em um certo momento ele simplesmente se despediu e saiu, enquanto ela ficava ali com o rosto corado e os pensamentos em polvorosa. Triste por perceber que não era correspondida, que não havia chance de algo acontecer. Aliviada por não ser correspondida, por perceber que nada iria acontecer.
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Mulher no mundo
Storie breviExperiências de escrita de contos sobre variadas experiências de uma mulher no mundo.