Mansão

31 5 0
                                    

Pov.'s Roseli 

O ar parece tão frio, tudo parece estar tão frio que apenas sinto vontade de me encolher e dormir para sempre, apenas quero ficar quieta, mas o frio não para de me fazer tremer e bater os dentes. Meu coração parece assustado assim como meu corpo, tudo me deixa com medo, eu realmente odeio isso.

Pessoas me dão medo, me dá muito medo. O modo como me olham, como se eu devesse algo ou quando me olham com malícia. O modo como as pessoas são cruéis gratuitamente. O modo como podem matar sem motivos. O modo como todos parecem tão cruéis me assusta, seus motivos me assustam, tudo me assusta e eu só quero me isolar quieta.

Por favor, apenas me deixem quieta.

Eu não consigo parar, não consigo controlar a ansiedade que invade meu peito a cada ataque de pânico que me surge, o modo como mal consigo falar ou pensar corretamente, mesmo tentando relevar tudo isso. Estava congelando, a neve devia estar mais densa.

Quando abri meus olhos, finalmente, pude notar que estava deitada novamente naquela enorme cama com lençóis pretos e decoração tão escura que a pouca luz do sol entrando pelas cortinas me fazia questionar. Olhei em volta procurando por algum sinal de que tinha alguém ali, mas não tinha mais ninguém. Me levantando da cama e caminhando até a porta, está que abri olhando o enorme corredor afora, cheio de quadros pendurados, com molduras belíssimas e uma decoração que me fazia tremer. Sinto vontade de fugir daqui, de sair correndo e pular na neve, que mesmo que meu corpo congele eu ficaria finalmente livre de tudo e todos. Eu caminhei, caminhei cautelosamente pelo enorme corredor, sentindo a camisola em meu corpo, longa que tocava a ponta dos meus pés arrastar no chão, ela era grande demais para mim e eu prefiro acreditar que alguma empregada quem trocou minhas vestes molhadas. Desci as escadas na ponta dos pés, mantendo meus sentidos explícitos e aguçados a procura de fugir a qualquer mínimo som, e quando finalmente avistei a porta pude notar que não tinha mais ninguém ali, eu estava sozinha. 

Aonde ele estava?sonhei tudo aquilo?será que alucinei é, na verdade, fui eu quem fiz tudo sozinha?

Não importa, nunca importou e nem vai importar. Abri a porta com todas as minhas forças, a madeira pesada de Carvalho da enorme porta me fez resmungar a empurrando, então estava aberta, a enorme porta do castelo estava aberta deixando o vento frio bater com força em meu corpo. Corri, corri tão rápido pela neve que pensei sentir meus pés queimarem pelo gelo frio que tocava a minha sola. Corri tão rápido que o ar de meus pulmões saia pelos lábios vermelhos, lufadas de ar fortes fazendo uma pequena nuvem de respiração devido ao frio, mas eu não ligo, só precisava continuar correndo e correndo o mais rápido possível para que chegasse a algum lugar e eu sei que fui burra ao sair assim, mas eu posto que você também sairia. 

Sei que qualquer um com amor a sua vida também tentaria fugir e se salvar, porque não importa o quanto ele seja cruel e sanguinário, meu único medo era outro. Afinal, ele ainda era um homem e eu não confio em homem nenhum NUNCA MAIS

O vento frio batia em minha pele pálida, me fazia tremer sentindo falta de ar e dor em meus pés descalços, foi questão de tempo até cair no meio da neve em algum lugar daquela enorme floresta fria e com cheiro de Carvalho molhado. Meus pés doem, minha barriga não para quieta de fome, eu sinto que vou morrer congelada, mas mesmo assim continuo tentando me levantar, mesmo que a neve seja tão densa e acumulada a este ponto que meus pés se afundar nela e eu sinto que posso me afogar. Eu não quero falecer, eu não quero casar, eu não quero nada disso. Eu só quero viver feliz, me deixem ser feliz, me deixem quieta e me deixem escolher oque quero fazer!

Apenas me deixem escolher.

— ME DEIXA EM PAZ! — Gritei como se finalmente falasse tudo que estava trancado a sete chaves em meu peito. Sei quando duas mãos quentes seguraram o meu corpo com cuidado, me tirando da neve e então pegando minhas pernas, me carregando no colo. Levantei meu olhar vendo suguru coberto de neve assim como eu, seus cabelos estavam presos em um coque que o deixava lindo, seu rosto pálido estava levemente vermelho pelo grande frio, suas vestes eram todas pretas, uma blusa social preta e uma calça alfaiataria preta. Minha única reação foi começar a me debater e socar o peito dele com toda minha força, essa que já não era muita pelo meu estado.

— ME SOLTA! ME LARGA! ME LARGAAA -gritei começando a chorar de medo, o que ele vai fazer comigo?eu não quero isso, eu não quero.

— Eu não vou te machucar. — Suguru repetiu a mesma fala de ontem anoite 

— VAI SIM!VOCÊ… VOCÊ ME MORDEU E AGORA TENTA ALGO MAIS! — Gritei me soltando dele e caindo, contudo, na neve. Suguru parecia preocupado, sua expressão era triste e de certa dor ao meu olhar, como se minhas atitudes e pensamentos sobre ele o machucasse tanto quanto uma estaca enfiada em seu peito.

— Eu não quero fazer nada disso com você. — Rebateu minhas falas com calma, ele nunca alterava a voz comigo por mais que eu estivesse berrando com ele. — Eu nunca faria nada sem sua permissão. Eu não pretendo te machucar e muito menos fazer qualquer coisa que esteja passando em sua mente. Sou um monstro terrível, eu sei, mas eu não sou esse tipo de monstro.

Aquelas palavras, a sinceridade em seus olhos e tom, o modo como parecia doloroso a ele e como ele estava sendo verdadeiro me fizeram paralisar.

— Você pode não lembrar, mas prometo que nunca na minha vida vou te machucar — ditou calmo tocando suavemente meu rosto, suguru beijou a minha testa e eu estremeci com o arrepio que surgiu em meu corpo. Ofeguei levemente com frio, sentindo meus dedos da mão doloridos assim como os dos pés. 

— Promete? — Fui idiota, eu sei que fui, mas mesmo assim perguntei.

— Sim. — Confirmou 

Eu não quero confiar, mas que escolha tenho?eu não pensei quando saí na neve igual uma idiota burra, mas eu não tenho mais casa. Eu não tenho mais noivo, família, nunca tive amigos e parentes, eu estou sozinha em um vasto oceano aonde ele é um barco gentil me oferecendo sua mão. Eu aceitarei, aceitarei porque o conheço, confiarei porque o modo como ele me olhava de longe todo dia que visitava meu noivo, todo olhar… nunca foi de malícia, mas sempre de carinho e admiração. Confiarei porque você nunca me olhou como um objeto, eu aceitarei porque é você. Mas ainda saiba, eu posso enfiar uma estaca em seu coração.

O abracei quando senti meu corpo ser retirado do chão frio, me pegando no colo como uma noiva, uma noiva de camisola e lágrimas quentes no rosto. Uma noiva que tentou jogar uma pedra nele, uma noiva que tinha os cabelos cacheados totalmente bagunçados e longos.

Voltei com ele para aquele castelo, e eu decidi que não me veria como uma vítima, oh como coitada, mas sim como dona dele.

Se você gosta tanto assim de mim, se você é a única coisa que posso pegar agora, então você será meu. Eu nunca mais terei um dono, eu serei a dona.

Quem faz a nossa paz e felicidade somos nós mesmos. Usar as oportunidades dadas ao seu favor, usar aquilo que lhe oferecem para aprimorar o que já tem, é assim que o mundo funciona e agora eu me recuso a ficar por baixo novamente. 

Quero ser a dona do monstro do castelo.

Cold blood (Suguru getou)Onde histórias criam vida. Descubra agora