Página XIX

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Era noite, eu e meu irmão estávamos no meu quarto. O espaço ainda era da nossa antiga casa, a bagunça se acumulava na cama e no guarda-roupa, como uma sombra do passado. A tensão entre nós era palpável; algo no sótão estava nos perturbando. Era uma criança com um rosto estranho e inquietante, parada na janela, com sua camiseta amarela. Sua mera presença era o suficiente para nos encher de terror. Tentávamos nos esconder, mas onde poderíamos ir? Ele estava sempre lá, nos observando.

Os dias passaram rapidamente, me vi de volta na casa da minha avó, como se tivesse caído em um loop temporal. Estranhamente, revivia todos os lugares da minha infância: uma localidade, uma igreja. Não havia internet nem comunicação. Laura estava ao meu lado, uma garota de cabelos castanhos cuja presença parecia personificar o medo. Algo na igreja a aterrorizava. A escuridão era completa, e a única fonte de luz era um telão. Parecia ser uma noite de cinema, mas ninguém estava sabendo o que acontecia lá fora.

Saí da sala e fui para o pátio. Apartamentos laranja e figuras estranhas vagavam pelo lugar. A noite tinha um tom verde doentio, e uma luz forte, mistura de verde e branco, queimava cada um de nós até refletir em um homem desconhecido. A única coisa visível era sua cartola. Ele parecia perdido na insanidade, e aquela luz só fazia sua percepção do mundo se desfazer. Tudo parecia um pesadelo, como se eu fosse a única pessoa ainda consciente. Então, uma mulher me olhou fixamente, e, naquele instante, eu também perdi a sanidade.

- E se isso nunca tiver sido um sonho?

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