Incurável

Página XVIII

Era uma noite carregada de tensão e desconfiança, onde nada parecia seguro, pessoas perseguiam-me por algum motivo, e meu desejo era apenas ficar em segurança. Em meio a uma lembrança nebulosa, você surgiu com uma karambite e ajudou-me a escapar por uma janela de vidro; lembro do sentimento, do medo, da angústia, mas em uma fração de segundos, estava salva, procurando um local para esconder-me.

Ao entrar em um cômodo - que segundos depois percebi ser um banheiro - sinto o medo percorrendo pelas minhas veias, me encontro pressionando a porta para bloquear a passagem de qualquer um, no mesmo instante, percebo a destruição de todo o local, o lodo que infestou o chão e as parede rabiscadas. Algum amigo ocupava a banheira, e a tensão em seu rosto era evidente. Percebo gritos, justamente com um empurrão em direção a porta, a tensão aumenta, até que percebo sua silhueta pela fresta, não consigo lembrar o seu rosto, mas a sua pele morena, a camiseta branca que vestia e um sorriso fascinante conseguiria deixar uma lembrança em quem te conhecesse.

Quando saímos do local, vamos de encontro a outras pessoas, que como nós, também estavam escondidas e fugindo; você diz que precisa sair e me pede para ir junto, a partir desse momento, todas as lembranças ficam confusas, lembro-me de guardar algo em uma bolsa, e por alguma razão, precisar de outra.

Quando saímos para as ruas, o simples toque do meu braço no seu era elétrico, quase como um choque térmico, eu me via ansiando sua presença com uma intensidade que não conseguia explicar. Meu corpo precisava de uma proximidade com o seu, como se fosse a única coisa que pudesse me trazer alguma paz. Havia uma conexão silenciosa, um fio invisível que entrelaçava nossas almas. Consegui perceber que tudo era um sonho, mas não consegui - e não queria - acordar, permaneci imóvel e de olhos fechados, até você sumir completamente por uma névoa, antes do sol nascer.

- Espero que nossos caminhos se cruzem novamente.