Capítulo 2

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Dominic me perguntou quem era aquele homem gritando meu nome, me perguntou quem eu era, onde eu morava, o por quê de morar lá e muitas outras coisas. Eu não estava com medo dele, nem daquela situação, acredito eu que meu corpo ainda estava funcionando por pura adrenalina e por isso não tinha espaço para sentir medo. Dominic disse que me levaria até a polícia, mas eu implorei para que não fizesse isso comigo, eu sabia que a polícia não tinha o melhor dos tratamentos reservado para pessoas pobres como eu e acredito que ele viu nos meus olhos o quanto eu estava aterrorizada. Por fim, ele me levou para a casa dele. Esquisito, eu sei, mas foi a única opção pela qual eu mesma implorei.

Durante o caminho, Dominic começou a me contar sobre ele, eu perguntei quem ele era e orgulhosamente ele me respondeu "Dominic Caspian Belchior." A maneira como ele havia me respondido me fazia crer que ele devia ser alguém importante por algum motivo, mas àquilo não significava nada para mim, pois eu mesma não fazia idéia de quem ele era.

- Eu deveria saber quem você é? - Lembro de dizer em voz alta um pensamento que havia invadido minha cabeça, a reação de Dominic foi engraçada. O brilho em seus olhos desapareceu e ele parecia de fato, indignado.

- Você não faz idéia de quem eu sou?! - Dominic perguntou, certamente contrariado.

- Eu não faço idéia de quem você é. - Respondi, inocentemente. Foi impossível não escutar a gargalhada que o motorista deu.

Não muito tempo depois ele me explicou que era presidente de uma empresa de tecnologia. Ele disse que era responsável por facilitar a vida das pessoas e transformar seus maiores sonhos tecnológicos em realidade e pra ser sincera, eu não achei a menor graça no trabalho dele. Apesar de sua explicação parecer nobre, não fazia sentido para mim. Eu nem mesmo entedia o que significava ser "presidente" de algo. Minha mente infantil e leiga achava que "presidente" era o nome dado para o dono do país em que vivíamos. Naquela época Dominic estava passando por problemas que somente herdeiros passam; A pressão familiar.

Dominic não queria se casar, não queria ter que ser obrigado a passar o resto de sua vida ao lado de alguém que ele sequer conhecia e não se achava capaz ao menos tentar algo absurdo daquela maneira. De fato, era absurdo tentar obrigar Dominic a se casar com alguém que ele não conhecia, ele era um romântico incurável no limite dos seus 28 Anos. Ele estava mais interessado em como resolveria o protótipo do projeto C-37CR7 do que em caçar uma herdeira por aí.

Costumo dizer que o destino lhe entrega a oportunidade perfeita apenas quando você procura por ela. Dominic só precisava de uma coisa; Uma herdeira. Alguém que pudesse ser forjada, moldada e formada para controlar a Belchior Company e tudo o que vêm junto no pacote. Ele precisava de alguém que tivesse sede de vitórias em sua vida fodida e fracassada. Sejamos honestos, minha vida estava fadada ao fracasso, pela maneira como as coisas estavam indo, eu estava a cada dia mais perto da morte. Eu morreria por ser violentada e espancada até a morte pelo meu próprio pai ou morreria de fome. Logo, eu era tudo o que o Dominic precisava, mas, se ele não tivesse ouvido a si mesmo e aberto a porta do carro pra me salvar, ele nunca teria resolvido seu único e maior problema.

Acho que aqui, nesse momento, não seja muito difícil de imaginar o que aconteceu comigo.

Eu passei dias na casa de Dominic, uma das várias que ele tinha. No terceiro dia o pai de Dominic apareceu por lá e eu fiquei escondida no quarto de hóspedes, Dominic me explicou que o pai dele não era muito amável com pessoas mais humildes e me pediu para ficar no quarto, prontamente eu fui. Não foi muito difícil de ouvir os gritos de insultos vindo da voz grossa do pai de Dominic, Alencar Belchior, ele dizia repetidamente que Dominic já era um homem velho e que deveria se casar, falava até mesmo sobre uma jovem que conheceu recentemente e era perfeita para Dominic. Ele sempre teve um temperamento controlado, raramente vi Dominic se descontrolar de alguma maneira e naquele dia eu apenas ouvi Dominic respondê-lo. Eu ouvi algo batendo contra a parede e pela maneira como vi as roupas de Dominic amarrotadas depois, acredito que ele mesmo tenha prensado Alencar contra a parede.

- EU NÃO LIGO PARA O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA, ALENCAR! VOCÊ ESTÁ DENTRO DA MINHA CASA E DENTRO DO MEU REINO AS REGRAS SÃO DADAS POR MIM! SE VOCÊ VOLTAR A ME INFERNIZAR COM ESSAS IDÉIAS ABSURDAS E MEDIEVAIS EU NÃO RESPONDO POR MIM! - Lembro de ouvir uma das governantas da casa implorar para que Dominic soltasse o Alencar e aparentemente ele acatou ao seu pedido, Alencar foi embora logo em seguida. Dominic entrou no quarto em que eu estava poucos minutos após a discussão com seu pai, era nítido que ele ainda estava alterado e internamente eu senti medo da possibilidade dele me jogar na rua ou me levar de volta para o meu pai.

- Selyna.. Você quer comer algo? - Dominic perguntou e eu apenas assenti. Eu senti uma lágrima solitária descer pela minha bochecha e percebi que Dominic estava nitidamente perdido. - Por que está chorando? - Seu tom de voz não tinha julgamentos, apenas uma tentativa de conforto.

- Eu sinto muito pelo seu pai. Ele parece ser um homem horrível..- Lembro de ver a expressão de Dominic se tornar serena e ele apenas balançou sua cabeça, negando.

- Não precisa se preocupar comigo. Eu sei me defender de homens como ele - Quando ouvi Dominic dizer àquilo eu lembro de ter sentido desejo de ser exatamente como ele, pois eu também queria me defender do meu pai ao invés de sempre fugir.

- Eu queria ser como você. Eu desejo saber me defender de homens como o meu pai ao invés de apenas fugir... Acho que eu não vou estar viva até o dia em que eu conseguir fazer isso - O peso daquelas palavras vindo de uma garota ainda inocente realmente fizeram um estrago no coração de Dominic. Acredito que tenha sido naquele momento que Dominic pensou que poderia me ensinar a ser como ele era. E claro, uma coisa se conectou a outra. Se eu me tornasse alguém tão qualificado e inteligente quanto Dominic, eu poderia assumir tudo o que ele tinha, eu poderia ser moldada e forjada para isso pelo próprio Dominic.

- Vou ensinar você a ser como eu. Não se preocupe com nada além disso, você não irá voltar para aquela casa. Vamos? - Dominic estendeu sua mão para mim com um sorriso gentil em seus lábios e eu prontamente agarrei sua mão. Me ensinar a ser como Dominic significava ser muito mais do que eu imaginava ser, aquela frase carregava um peso que eu não fazia idéia de que seria necessário ser carregado.

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