capítulo 1- o sorriso dos silenciados

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Lá está de novo, acordando daquele mesmo sonho infernal, ao qual segurava em suas mãos um coração e um intestino, o sangue caia por seus braços e escorria por suas roupas negras. Ao seus pés esta imagem do advogado Lucas, agora sem vida, com seus olhos castanhos revirados e seu cadáver dissecado, rompido ao meio por uma lâmina grande e dilacerante. O problema é que esse sonho não tem fim, não tem como escapar do destino que é a vida real.
Dante Alexander, o "Ceifador de almas", com seus olhos penetrantes e intensos, observava os órgãos em suas mãos, ele solta um suspiro de leve e cansado, e logo sai daquele porão fedorento e mofado. Subia as escadas calmamente e ao chegar no final, deu de cara com Milla, uma mulher alta e cabelos ruivos escuros, bastante intimidante e fria. Tudo era culpa desta mulher, a mesma que lhe deu a luz, fez questão de o transformar em quem ele era agora.
- Aqui está o seu presente.- Ele diz grosseiramente, entregando os membros do cadáver para ela. Então ele se vira para sair daquela casa, a qual ele nem considerava mais um lar.

Voltou para o seu apartamento e mudou suas roupas, queimando elas por causa do sangue de outra pessoa.
Deitou-se na banheira quente e abafada.

"25 de dezembro de 2001, quando eu tinha 7 anos, lembro-me de ter pedido apenas um carro de brinquedo para o papai Noel. Talvez se eu tivesse pedido por algo diferente...se eu soubesse...sobre Milla, eu teria mudado essa história? Eu nunca teria que...fazer, né? Me tira daqui Deus. Me tira, tira minha vida. Me leva também, substitua o sangue daqueles que não merecem e leve a minha, a única que realmente tem de ir. Me tira daqui, me tira. Me tira." Afogou o pensamento, consequentemente o seu corpo. Jurando aos céus que se não o matassem, ele iria ceifar a alma e amaldiçoar Deus. Olhou para suas mãos, que estavam limpas e com rugas.
" O que eu estou fazendo...o que é isso que eu estou sentindo? Esse cheiro, como se eu por inteiro fosse apenas uma carniça? Tem como sentir o cheiro das emoções?"
Todavia, como em todas as outras vezes, ele tentou afastar esse pensamento amargo; não é que ele esteja fugindo de seu destino, mas o pensamento de nunca tentar fugir, o deixava assustado. Fugir? Sua mente vagava para desistir, e se esse fosse a sua única opção? E se ele vivesse para ser a morte e assim morrer agonizando, para pagar por seus pecados?

Agora em seu terno elegante e sob medida, andou com as mãos nos bolsos da calça até chegar na boate que sempre ia depois de todo trabalho. A música eletrônica e o barulho distorcido e abstrato, distraiam sua cabeça de tudo. As pessoas falando ao seu redor eram bem melhores do que o vazio do seu apartamento. A bebida era o seu vício, o maldito motivo que conseguia por um milésimo de segundo jogar pelo penhasco todo o mau que sentia do fundo de seu peito, que a cada momento surgia como um grito, cada vez mais alto e ainda assim baixo.
Sentou em um dos sofás de seda e recostou no assento, caindo a cabeça para trás e respirando aliviado. Seus olhos de esmeraldas se fecharam, porém rapidamente se abriram quando escutou uma voz vinda da sua frente, a voz de um garoto.

- Hm, licença. Você está sentado na minha mesa.- sua voz era suave, mas um pouco tremida , talvez devido a timidez dele.

O menino tinha cabelos encaracolados e pretos e olhos castanhos. Suas roupas eram uma camiseta longa e um short preto curto, que desaparecia na camisa. Mas o que mais chamou a atenção foi a sua máscara. Em que mundo, uma pessoa iria para uma balada de máscara? Era o que ele pensava.
Seus olhos visualizaram cada detalhe daquela pessoa.

- Ah. Eu não percebi. Lamento por isso.- Sua voz era bem grave, ele realmente não queria ter sido interrompido.

- Não se preocupe, pode ficar aí se quiser, eu não vou me importar com companhia.

- Você vai mesmo se sentar ao lado de um estranho?

- Eu não tenho mais nada para fazer mesmo, minha irmã está lá na pista com outra pessoa. Então não vai ser um incômodo eu ficar aqui com você.- ele diz sentando ao lado do mais alto.

Douce NuitOnde histórias criam vida. Descubra agora