Interlúdio 1 (Vol.1): A coisa mais importante.

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O restante da viagem passou como um sonho de verão, tocado na velocidade 2x. Eu não sei se me diverti, não sei se fingi que me diverti. Visitamos o aquário pela manhã do penúltimo dia. Provavelmente vou me lembrar quando observar atentamente as inúmeras fotos tiradas. O mergulho também passou de forma similar.

72 horas depois de partirmos, estávamos novamente em Aomori, a viagem de volta foi silenciosa, diferente da ida. Inocentemente achei que nada mudaria, mas pelo menos no momento, minhas interações com Ayane não passavam da cordialidade básica. Talvez depois do retorno às aulas as coisas voltassem ao normal, mas no fim das contas, o que era o normal entre eu e a presidente?

"Yuki!"

Minha mãe me chamando me tirou dos meus pensamentos corrosivos. Ela sorria, e estava acompanhada dos pais de Ayane que a algum tempo não via.

"Aproveitaram?"

"Sim!"

Ayane se antecipou, e respondeu, talvez tentando livrar-me do incômodo.

"Vamos fazer isso mais vezes Yuki!"

"Vamos..."

"Vou estar bem ocupada nas próximas semanas, mas se precisar de qualquer coisa é só me ligar."

Nossos pais nos observavam, aparentemente esperando alguma coisa que não aconteceu, não percebi desapontamento, apenas surpresa. Com um breve aceno me despedi de Ayane que conversava com os pais animadamente sobre os souvenirs comprados na viagem, em pouco tempo as silhuetas da família desapareceram de vista.

Comecei a caminhar com minha mãe com destino ao táxi que nos esperava.

"Ah, eu também comprei souvenirs para vocês."

"Obrigada, filho... Está tudo bem?"

Não posso preocupa-la com uma bobagem dessas, ela tem coisas mais importantes para lidar no momento.

"Apenas cansado. E seu livro?"

Ela me observou mais uma vez, aparentemente não satisfeita com minha resposta.

"Bem, já mandei o primeiro draft para meu editor e vou fazer mais algumas revisões hoje. Vamos indo, tome um banho, jante e vá descansar."

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Já passava das 19:30 quando chegamos em casa. Minha mãe me ajudou a desfazer as malas, e parecia feliz com o presente. Era o primeiro que recebia de mim em anos, afinal. A reação me deixou feliz, mas não o bastante para esconder a dúvida que eu provavelmente estampava em minha cara.

Comecei a subir a escada em direção ao meu quarto, quando novamente fui interrompido por minha mãe. Dessa vez sua preocupação estava evidente, o que eu queria que não acontecesse, aconteceu.

"Yuki, vou perguntar mais uma vez, está tudo bem?"

Por anos eu nunca tive ninguém em casa com tempo para me ouvir, os momentos passados com meu pai, eu evitava causar ou trazer qualquer problema. Não começaria agora a ser um estorvo para ambos, quando tinham coisas mais importantes para lidar.

"Estou, não se preocupe. Vou tomar me-"

"Yuki!!!"

Dei um passo involuntário para trás, ao ouvir a subida de tom de voz de minha mãe. Fazia uma década que não a ouvia. Ela se aproximou após perceber minha reação, e colocou as duas mãos em meus ombros, me forçando a olhá-la diretamente.

"Eu sei que isso soa insanidade vindo da mulher que se afastou da família como me afastei, eu sei que nunca fui a mãe que você precisou nesses anos tão importantes. Mas para o que vale o momento, eu estou aqui, agora!"

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