Capítulo 5 (Vol.2): Desperdício.

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A prefeitura de Aomori, onde a cidade com o mesmo nome fica localizada, é famosa por alguns motivos. O principal deles é a quantidade desproporcional de neve que a cidade de pouco mais de 280 mil habitantes recebe todo inverno. Do nível de ser a maior do planeta. Felizmente ainda faltam alguns meses até que isso seja um problema que eu tenha que me preocupar.

O outro motivo, esse visível até mesmo durante o verão que ainda vivemos, são maçãs. Maçãs de várias formas, sabores e tamanhos. Em forma de brinquedos, souvenirs e até na moda da região, usadas em receitas que provavelmente não deveriam ser.

Eu estava no centro da cidade, no meu último sábado das férias de verão, observando no horizonte a construção triangular do prédio do centro de informações a turistas da prefeitura. Se o intuito era ser diferente do resto da arquitetura da cidade, o sucesso foi retumbante.

"Yukihiro!"

Ao ter meu nome chamado, virei vagarosamente no sentido a estação de trem. Sakura estava ofegante após uma desnecessária corrida.

"Perdoe o atraso, acabei não sabendo o que ves-."

Ela se interrompeu, mas já havia falado o suficiente para eu entender o motivo. E o tempo que ela usou escolhendo sua vestimenta foi bem gasto.

"Não tem problema, e está linda. No fim você soube o que vestir!"

Eu realmente preciso parar de fazer isso, ela ficou imóvel por alguns segundos, ruborizada, antes de agradecer. Olhei no meu smartphone, não tínhamos combinado nada, mas meu intuito era fazer a tarde proveitosa.

"Tem algum lugar específico que gostaria de ir?"

Sakura observou os arredores, e fixou seu olhar numa loja do outro lado da rua onde estávamos. A livraria seria, de fato, um bom ponto de início, visto que também estava pensando em comprar algumas coisas lá.

"Eu encomendei alguns livros e preciso retirá-los."

"Certo, também quero dar uma olhada numa coisa ou outra. Vamos começar por lá."

Esperando o sinal de pedestres abrir, aproveitei para puxar assunto.

"Você gosta de ler, Sakura?"

"Sim, talvez até um pouco demais..."

"É um bom hobby de se ter."

"Você gosta?"

Atravessamos a rua, antes de eu responder.

"Gosto sim, eu meio que precisei gostar, no fim das contas minha mãe é uma escritora. Sendo sincero, foi a forma que achei para me conectar com ela."

A única forma que tive, por anos. 

"Entendo... Eu li alguns livros da sua mãe."

"E o que achou?"

Eu fiquei genuinamente curioso, já vi meu pai ser elogiado pessoalmente algumas vezes, mas seria a primeira vez com a minha mãe.

"Ela é... Intensa, e digo isso num bom sentido! Ela sabe muito bem escrever sobre relacionamentos e pessoas!

Por mais alguns minutos ela explicou a grandeza de Ako Nakamura, e eu deixei uma pequena risada escapar.

"O que foi?"

"Duas coisas, primeiramente, legal ver você entusiasmada com algo assim, e segundo, minha mãe escrever bem sobre relacionamentos interpessoais, eu concordo... Só é difícil de acreditar."

Sakura me observou inocente e com dúvida. Ela então finalmente entendeu onde eu queria chegar; a mulher divorciada e com o filho que por anos não soube lidar, era capaz de escrever sobre o relacionamento de pessoas com maestria.

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