Corações em Batalha

Capítulo 2

Elora Voss
Quatro Anos Antes...

— Ai, tá doendo... — resmunguei, sentindo a ardência no meu rosto enquanto meu irmão Ronan limpava minha ferida com um pano úmido. Ele tinha feito isso tantas vezes que eu já havia perdido a conta. A briga anterior deixou marcas, e a última coisa que eu queria era que ele tivesse que lidar com isso de novo.

— Quem mandou você arranjar briga pela quinta vez na semana? — ele disse, seus olhos azuis me lançando um olhar severo. Era impossível não perceber a preocupação disfarçada sob aquele tom de voz. — Vê se controla, garota!

— Que culpa eu tenho se aqueles desgraçados ficam roubando os pães que eu consigo? — retruquei, tentando manter a indignação na minha voz, mas a verdade era que a dor do meu rosto era superada pela frustração de ver aqueles mesmos meninos sempre se aproveitando dos mais fracos. Eu não podia ficar parada enquanto eles faziam o que quisessem.

Ronan suspirou, sua expressão murchando um pouco. Ele era sempre o mais responsável entre nós, o que tentava manter a calma em meio ao caos da vida nas ruas. Embora eu admirasse isso, havia momentos em que queria que ele visse o que eu via: a injustiça que não podia ser ignorada.

— Eu sei que você está certa — ele continuou, a voz mais suave agora. — Mas brigar não vai resolver nada. Precisamos ser mais espertos do que eles.

Olhei para o rosto de Ronan, seu cabelo loiro desgrenhado caindo em seu olhar determinado. Ele era mais velho, sempre me protegendo, e embora eu quisesse acreditar que poderia me defender sozinha, no fundo eu sabia que ele tinha razão.

— O que você sugere, então? — perguntei, minha voz um pouco mais calma.

Ele pensou por um momento, seus olhos se desviando para a janela empoeirada que dava para a rua movimentada. — E se nós... fizéssemos um plano? Ao invés de atacar, poderíamos distrair eles.

Franzi a testa, intrigada. — Como assim?

— Podemos aproveitar o mercado da manhã. Se você chamar a atenção deles, posso pegar alguns pães na parte de trás, onde eles não estão olhando.

Meu coração se acelerou com a ideia. Era ousada e, ao mesmo tempo, perfeita. Mas também sabia que era arriscada. — E se eles nos pegarem?

Ronan sorriu, aquele sorriso confiante que sempre me fazia sentir um pouco mais segura. — Se eles tentarem algo, eu cuido deles. Sempre estarei ao seu lado.

Senti uma onda de gratidão por ele. Mesmo com todas as dificuldades, ele sempre foi meu protetor. — Ok, vamos fazer isso.

Ronan assentiu, a determinação brilhando em seus olhos. — Certo, vamos nos preparar. E, por favor, não comece outra briga antes de eu ter chance de fazer isso funcionar.

— Prometo nada — ri, mas meu coração estava mais leve. — Vamos pegar aqueles pães!

Nós nos preparamos, uma nova esperança brotando entre nós. Essa era a vida que levávamos: um dia de cada vez, sempre enfrentando desafios, mas sempre juntos. Com um plano na manga, eu tinha certeza de que poderíamos mudar as coisas, mesmo que apenas por um dia.

Aquele dia poderia ser diferente.

Mas antes que pudéssemos sair, somos interrompidos por um estrondo. Um barulho tão alto que eu quase pensei que o céu estivesse desabando. O chão tremeu sob meus pés, e o ar ficou denso com o cheiro de terra e pânico. O som reverberou nas paredes de nossa casa, e eu me lembrei das histórias que os adultos contavam — os titãs, aqueles monstros de proporções inimagináveis.