Capitulo 8

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Gael

Matteo estava no meio do quarto, a luz suave da noite entrando pela janela e iluminando parcialmente seu rosto. Ele não disfarçava o desconforto, o olhar inquieto, cheio de pensamentos que ele não conseguia calar. E eu sabia que, como sempre, ele ia soltar aquilo que guardava, como um veneno.

— Sabe, Gael — começou, sua voz arrastada, carregada de sarcasmo —, às vezes eu me pergunto como você consegue dormir tão tranquilo numa cama como essa, sabendo o que acontece lá fora. Ou talvez você simplesmente tenha se acostumado a ignorar. Afinal, é o que os poderosos fazem, não é?

Eu fechei os olhos por um segundo, respirando fundo. Já estava acostumado com as provocações, mas naquele dia algo estava diferente. Estava mais pesado, mais afiado.

— Eu não preciso justificar nada para você, Matteo — respondi, tentando manter a calma. — Você acha que sabe tudo, mas só enxerga o que quer. Eu durmo tranquilo porque sei que estou fazendo o que posso, com o que tenho. E você? O que faz além de apontar os erros dos outros?

— O que eu faço? — Ele riu, mas o som era vazio, cheio de mágoa. — Ah, claro, porque as suas ações são tão nobres, não é? — Matteo deu um passo à frente, o rosto endurecido. — Tudo o que você faz é jogar sua bondade no rosto dos outros, esperando que eles te venerem por isso. Mas no fundo, Gael, você é só mais um egoísta.

— Egoísta? — A palavra bateu fundo. Não porque eu acreditasse nela, mas porque vinda dele, do Matteo, ela soava como uma lâmina. — Você tem coragem de me chamar de egoísta, sendo que é você quem passa a vida inteira preso no próprio ressentimento? Você não consegue ver o mundo além da sua própria dor, Matteo! Vive nisso como se fosse a única coisa que te define.

Ele me olhou, o rosto empalidecendo levemente, mas a raiva ainda queimava em seus olhos.

— Ah, e você é tão melhor, não é? — Ele deu mais um passo, a proximidade tornando tudo mais sufocante. — Você fala como se tivesse superado tudo, mas no fundo, ainda está preso naquela culpa, naquela dor. Você acha que esconde bem, mas eu vejo. Eu vejo como a morte da sua mãe ainda te corrói por dentro. Você se agarra a isso como uma forma de tentar justificar as suas escolhas... de tentar fazer com que pareça que você é o herói da história.

O golpe foi direto, brutal. Meu peito doeu como se ele tivesse me atingido fisicamente. A morte da minha mãe era uma ferida que nunca se fechava completamente, e ele sabia disso. Matteo sabia exatamente onde me ferir.

— Você não tem o direito de falar dela — sibilei, a voz falhando um pouco. — Você não tem ideia do que isso significou para mim, do que significa até hoje.

— Não tenho? — Ele deu uma risada amarga, sem humor. — Não sei o que é perder alguém? Não sei o que é sentir que todo o mundo desmoronou debaixo dos meus pés? Você acha que só porque eu não falo tanto sobre isso, eu não entendo? Gael, você é tão cego, tão focado em si mesmo, que não consegue ver a dor dos outros.

— E você acha que esconder sua dor te faz forte? — gritei, sentindo a fúria explodir de dentro de mim. — Esconder tudo, fingir que não se importa, que é imune a qualquer sentimento, não te torna mais corajoso, Matteo. Te torna vazio.

A expressão dele mudou, os olhos se apertaram como se minhas palavras o tivessem atingido em cheio. Por um segundo, pensei que ele fosse recuar, mas ao invés disso, Matteo veio para cima, a raiva em cada movimento.

— Vazio? — Ele quase cuspiu a palavra. — Se eu sou vazio, é porque aprendi a ser assim. Foi o único jeito de sobreviver nesse maldito mundo! E você, com toda a sua bondade, só se esconde atrás de suas palavras. Mas por dentro... — Ele olhou diretamente nos meus olhos, e dessa vez o ódio foi substituído por algo mais sombrio. — Por dentro, você está tão quebrado quanto eu.

O admirador de Cisnes Onde histórias criam vida. Descubra agora