Capítulo 1: Um Novo Começo

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O ano era 1996 e desde suas primeiras lembranças, a vida de Jess Miller nunca foi fácil, seus lindos olhos verdes que pareciam estilhaços de esmeralda como os de sua mãe, sempre carregou consigo uma melancolia que transcendia sua pouca idade. Aos 18 anos, a perda da mãe aos seis e a ausência de um pai, aprisionado pelo vício do álcool onde gastava até os últimos centavos que tinham, haviam esculpido em seu interior uma força indomável e uma sede insaciável por liberdade, seus objetivos de conquistar o mundo eram muito maiores do que a pequena cidade de Hudson poderiam lhe oferecer. Cansada de viver à sombra das ausências, Jess decidiu romper os laços que a prendiam àquela pequena cidade e embarcar em uma jornada rumo à cidade que nunca dorme: Nova York.

Entretanto a ida não foi fácil, seu pai jamais permitiria que fosse embora, já que ela era a única, conciliando com os estudos, a trabalhar na casa em boa parte para sustentar os vícios do pai, entretanto não poderia continuar vivendo naquelas condições, se recusava a isso, então em uma noite qualquer, na calada da noite, após o pai chegar de mais uma noite de bebedeira pelos bares da cidade, que com o coração apertado Jess partiu rumo ao desconhecido deixando para trás o que um dia foi sua casa, mas jamais seu lar.

Já na rodoviária o ônibus se afastava da pequena cidade, deixando para trás a poeira das estradas e as lembranças amargas de jovem senhorita Miller. A Grande Maçã, com seus arranha-céus que pareciam tocar o céu, a aguardava com uma promessa de recomeço. A adrenalina pulsava em suas veias enquanto ela descia na movimentada estação de ônibus, a multidão a envolvendo como um turbilhão.

Com uma mochila nas costas carregando seus poucos pertences e o dinheiro que havia juntado, com coração acelerado e segurando o pingente em seu pescoço, Jess se aventurou pelas ruas de Nova York. A cidade era tudo o que ela havia imaginado e muito mais. A cada esquina, uma nova descoberta, um novo desafio. A noite, com suas luzes neon e a energia contagiante, a fez se sentir viva como nunca antes. Seu primeiro mês na cidade entretanto, não foi tão glamouroso quanto sua chegada, as oportunidades para alguém da sua idade e experiência eram escassos, com sorte conseguiu emprego em uma pequena lanchonete, na região norte, localizado a periferia da cidade. Não era exatamente o que imaginava mas era um começo, estabeleceu se em uma pousada precária pois era o melhor que seu dinheiro poderia ofertar.

Em uma sexta-feira comum, com seu ritmo frenético, invadia a pequena lanchonete onde Jess trabalhava. Entre pedidos de hambúrgueres e batatas fritas, ela tentava manter um sorriso no rosto, mesmo com a exaustão. Foi nesse turbilhão de atividades que seus olhos se cruzaram com os de Edmundo.

Ele era um cliente que aparecia por ali com certa frequência, sempre pedindo o mesmo sanduíche e um café preto. Mas naquele dia, havia algo diferente em seu olhar. Edmundo não era um homem muito atraente, na faixa de seus vinte e poucos anos, com seus cabelos escuros e um sorriso que revelava dentes levemente amarelados, mas tinha um bom humor, sempre tentando puxar conversa com ela, hoje entretanto parecia mais interessado do que o habitual.

Após atender seu pedido, Jess o entregou com um sorriso tímido.

— O de sempre? – perguntou ela, tentando puxar conversa.

Edmundo sorriu levantado seu rosto do jornal que lia, seus olhos tinham um  brilho diferente do habitual.

— Sempre, princesa você sabe bem o que me agrada.

Logo em seguida uma piscada e um sorriso de lado, retornando novamente a leitura.
O decorrer do expediente se seguiu normalmente, agitado caótico entre bandejas cheias de comida, sendo levadas as pressas, pessoas conversando em ritmo frenético, sem pausa pra descanso.

No final do expediente, quando a lanchonete já estava quase vazia, Ed se aproximou de Jess, entretanto não era costume ele ficar até aquelas horas.

— Posso te fazer uma pergunta? – ele perguntou, sua voz suave e aveludada. – Por que alguém tão bonita como você, está enfiada em um buraco como esse?

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