Capítulo 3 - Novos caminhos

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   No dia seguinte, ao abrir seu laptop, Emilly se deparou com algo que não esperava: uma notificação de e-mail. Ao clicar, mal pôde acreditar no que lia. Uma editora havia lhe oferecido uma entrevista para um possível cargo. Uma pontada de reconhecimento passou por sua mente. "É claro...", pensou. O convite para a entrevista tinha vindo rápido demais, e talvez o sobrenome Benevides tivesse mais peso do que ela gostaria de admitir. Mesmo que estivesse buscando fazer seu próprio caminho, a sombra da influência da família parecia seguir seus passos, facilitando algumas portas.

   Por um momento, sentiu-se dividida: queria ser vista por seu talento e não pelo nome que carregava, mas, naquele instante, uma oportunidade era uma oportunidade. 

   Nos dias que antecederam a entrevista, Emilly se viu mergulhada em um turbilhão de decisões práticas. Precisava de um lugar para ficar e roupas que estivessem à altura do ambiente profissional que esperava enfrentar. Com os cinco mil euros que tinha à disposição, não havia espaço para luxos, mas ela não tinha escolha a não ser agir rapidamente.

   Após algumas pesquisas, Emilly encontrou um pequeno apartamento mobiliado em um bairro simples, mas bem localizado. Era modesto, com uma sala integrada à cozinha, um quarto e um banheiro, mas a vista da pequena janela da sala para o jardim do prédio lhe trouxe uma sensação de paz e privacidade que ela não sentia há algum tempo. Decidiu que aquele seria o seu refúgio temporário, um lugar onde poderia começar a reconstruir sua vida. Mesmo que simples, era seu espaço, e isso a reconfortava.

— Vou precisar fazer esse dinheiro render — murmurou para si mesma, enquanto preenchia os papéis do aluguel.

   Assim que se estabeleceu no apartamento, seu próximo desafio foi o guarda-roupa. As roupas que ela trouxera eram inadequadas para entrevistas formais, e os vestidos e trajes de gala que ficaram na casa dos pais não ajudariam agora. Sabendo que precisava equilibrar o custo com a aparência, foi até algumas lojas de roupas formais e fez escolhas práticas: comprou duas calças sociais, algumas blusas elegantes e um blazer que lhe conferia uma postura profissional.

   Ao voltar para o apartamento, organizou suas novas aquisições e passou a noite revendo mentalmente suas próximas ações. Sabia que estava começando do zero, mas havia algo revigorante na simplicidade de tudo aquilo. Estava livre das amarras e expectativas da família, e isso dava a ela uma sensação de controle que nunca havia experimentado.

   Na manhã da entrevista, Emilly acordou mais cedo do que o habitual. A luz suave da manhã atravessava as cortinas do apartamento, e o silêncio daquele espaço modesto parecia mais acolhedor do que qualquer mansão em que já tivesse pisado. Sentiu um misto de nervosismo e empolgação. Agora, com um apartamento próprio, um guarda-roupa adequado e a oportunidade de seguir o que realmente gostava

   Ela se olhou no espelho. Seu reflexo não era o de uma Benevides, mas de uma mulher decidida, com um brilho nos olhos que há muito não via. Ajustou o blazer uma última vez, respirou fundo e ao sair pela porta de seu novo apartamento, Emilly sentiu que estava, de fato, virando a página. Por mais simples que fosse o lugar e por mais incerto que fosse o futuro, ela havia dado os primeiros passos rumo à sua independência.

 Ao chegar ao prédio da editora, ficou impressionada com a fachada elegante e imponente. As grandes janelas espelhadas refletiam a cidade ao redor, criando uma sensação de que aquele lugar representava muito mais do que simples negócios. Ela sentiu uma pontada de nervosismo, mas se lembrou do nome que carregava e das expectativas que sempre pairaram sobre ela. "Talvez eles tenham me chamado tão rápido por causa disso", pensou.

   Subiu o elevador tentando organizar seus pensamentos e revisar mentalmente as respostas que poderia dar. Assim que as portas se abriram, foi recebida por uma recepcionista simpática, que lhe pediu que aguardasse na sala de espera. O ambiente era moderno, com tons neutros e decoração minimalista. Livros e revistas cuidadosamente dispostos nas prateleiras revelavam o peso intelectual daquele lugar. "Este é o tipo de lugar onde quero estar", pensou.

O preço da perfeiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora