O quarto era menor do que Jongin estava acostumado, lhe angustiava, não era claustrofóbico, mas o espaço mínimo o fazia querer pular da janela de seu quarto. Se soubesse que algum dia seus pais pensariam em cortar toda a sua mesada, teria aberto uma conta em seu nome e guardado algum dinheiro e então não precisaria estar morando em um apartamento minúsculo no subúrbio de Seul — não entendia como alguém conseguia morar naquelas condições e agora apreciava a vida que levava antes dessa "tragédia" acontecer.
O colchão não era nada confortável, as paredes tinham infiltrações e mofo, a janela não fechava direito — e isso era um enorme problema porque a noite fazia muito frio —, durante o dia o Sol batia na parede de seu quarto e o transformava em um verdadeiro inferno de tão quente. Ao lado, morava um grupo de jovens — três garotas — que eram muito barulhentas, viviam com som alto até altas horas da noite, gritavam sem parar e às vezes alguma delas trazia seu namorado para casa — Jongin não conseguia entender como quatro pessoas podiam habitar um espaço de pouco menos de vinte metros quadrados, tão pouco transar em uma provável cama de solteiro regularmente.
Constantemente acreditava que aquilo era uma espécie de prévia do que seria a sua tortura no inferno.
Nesses momentos em que sente que não aguentaria nem mais um minuto naquele lugar, pensa que deveria ter aceitado a oferta de um de seus amigos, Baekhyun, sobre morar por um tempo com ele até que conseguisse se estabilizar financeiramente, mas, infelizmente, ele tinha a garantia de que poderia se virar sozinho e agora descobriu da pior forma possível que ele não sabia se virar sozinho e que o mundo real era muito pior do que ele costumava ver.
Mas como ele poderia imaginar que aquela fosse a realidade do subúrbio de Seul? Nasceu na elite coreana, sempre teve tudo o que queria, estudou na escola mais cara do país, usava roupas de marcas até algumas semanas atrás, tinha um Audi A8 na garagem, sempre comparecia em desfiles de moda, era convidado para grandes festas em casas chiques, rodeado de amigos, podia gastar dinheiro sem se preocupar se sobraria dinheiro ao final do mês. E agora Kim Jongin, o playboy milionário, não tinha nada daquilo, até mesmo aqueles que se diziam seus amigos não mandavam uma mensagem sequer para ele.
Frustrado e completamente indisposto, se levantou do colchão de solteiro a contragosto, precisava arranjar um emprego logo, porque as contas daquele mês estavam começando a se acumular e seu dinheiro quase não dava para comprar comida. Seria complicado conseguir algo e ele tinha plena consciência disto, afinal, a taxa de geração de empregos do país tinha caído nos últimos anos e poucas pessoas queriam contratar alguém sem experiência alguma em trabalho — mas ele nunca precisou se preocupar com isso, porque sempre teve tudo o que queria.
Exausto de pensar naquela situação, Jongin se levantou de sua cama — se é que poderia chamar aquele colchão desconfortável de cama — e caminhou até o banheiro, visando lavar seu rosto, em busca de coragem para encarar aquela vida que levava. Pegou seu paletó e as suas chaves e saiu de casa, desejando que não encontrasse nenhum de seus vizinhos que quisessem conversar e o atrasassem — não que ele tivesse algum compromisso, mas quanto mais tempo passasse longe daquele lugar, melhor seria para sua saúde, tanto mental quanto física.
Talvez o universo não quisesse contribuir com ele, porque na mesma hora em que ele estava saindo de casa, uma de suas vizinhas do apartamento ao lado terminara de trancar a porta e murmurar algo para Jongin — não era exatamente um murmúrio, na verdade, ele sequer se deu ao trabalho de prestar atenção no que ela estava falando. O Kim queria descer aquelas escadas o mais rápido possível e deixar aquela garota tagarela falando sozinha, mas sabia que seria muito desrespeito e o rapaz ainda tentava manter um terço de sua integridade.
Mais um motivo para o rapaz se distanciar da garota, mas, ao contrário do que ele esperava, ela não parava de falar.
— Você não tem um emprego, eu suponho. — Jongin a encarou, se sentindo ligeiramente ofendido pela fala da garota, mesmo que ela não estivesse errada. — Tenho um amigo que procura alguém para trabalhar com ele, se tiver interesse, dá uma passada na Labyrinth, na Avenida Principal, até às quatro da tarde.
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Meus amigos lá do outro lado
FanficQuando criança, Jongin sempre teve tudo o que queria, vivia uma vida fácil a qual bastava pedir e conseguia casas, carros e até mesmo todas as mulheres que queria. De fato, nunca teve nada para reclamar na vida. Quando seus pais cansaram de bancar o...