Capítulo 8 - O planeta Mércurio

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— ☼ Aurora ☼ — 

O despertador tocava freneticamente, e meu corpo parecia feito de chumbo, tão pesado que mal conseguia me mexer. Acabei de acordar e já estava exausta, irritada.

— Porra de alarme chato... — resmunguei, pegando o celular ao lado do criado-mudo e deslizando para cancelar o barulho irritante. A tela marcava 5:00 da manhã, e estava lotada de notificações da minha mãe.

Mãe: Aurora!

Mãe: Cadê você?! Não avisou nada!

Mãe: Espero que você tenha um bom motivo para me ignorar, mocinha.

Mãe: Porque se você não estiver morta agora, EU MESMA VOU TE MATAR!

Eu mal conseguia me lembrar de muita coisa depois do choque de ver Luna nos braços daquele garoto na loja de presentes. Mas, de uma coisa eu tinha certeza: não voltei para casa e definitivamente não comprei os ovos que minha mãe havia pedido.

— Ah... minha cabeça... — Levei a mão à testa, sentindo uma dor de cabeça terrível, do tipo que só uma ressaca bem forte proporciona. Eu definitivamente exagerei na noite passada. Ao olhar para o teto, deitada naquele colchão, algo me fez perceber que aquele quarto me era muito familiar.

Droga, Aurora. Droga.

Pensei comigo mesma, já sabendo muito bem onde estava e de quem era aquele quarto. Virei meu rosto lentamente para o lado e, ali, vi mechas e mais mechas loiras espalhadas pelo colchão. Janaina estava adormecida, enrolada no cobertor de seda.

O que diabos aconteceu?

Sentei-me na cama, um pouco tonta, com aquela dor de cabeça pulsante. Janaina permanecia imóvel, exausta. Era minha chance de sair sem ter que falar nada, e sendo honesta, eu realmente não queria dizer nada.

Meus olhos começaram a buscar por minhas roupas. Consegui identificar minha regata verde-musgo na beirada da cama, e o restante... estava no chão. Espalhadas... pelo chão...

Cara, eu sinceramente preciso melhorar.

Levantei-me em silêncio, e Janaina sequer se mexeu, apenas suspirou um pouco mais forte com o movimento. Na ponta dos pés, fui recolhendo minhas roupas e juntando tudo — uma verdadeira salada de peças misturadas entre as minhas e as dela. Aproveitei que a porta do banheiro estava aberta e decidi me trocar lá, o mais discretamente possível.

Eu realmente não queria acordar Janaina.

Ao me olhar no espelho, percebi que minha cara estava um desastre. Meu cabelo ruivo estava completamente bagunçado, com o rímel escorrido pelos olhos. Parecia que eu havia voltado para a minha adolescência, quando eu e Íris passamos por aquela terrível fase gótica. Apesar da situação ser um pouco engraçada, no fundo, me sentia abatida. Talvez fosse o excesso de bebida da noite anterior, ou talvez fosse o fato de ter passado a noite com Janaina. Mas, sinceramente, só de lembrar da cena que presenciei, uma pontada dolorosa atingia meu peito.

As pessoas dizem que relacionamentos são complicados.

Mas, às vezes, esquecem de como algo sem definição pode ser ainda mais confuso.

Fico me perguntando se tenho o direito de estar triste, se posso questionar.

Me perguntando se posso sentir que algo foi tirado de mim... sendo que esse algo sequer era meu.

O Eclipse entre nós duas | SáficoOnde histórias criam vida. Descubra agora