Ep 2:Entre Pressões e Olhares

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Luana estava sentada na pequena arquibancada do ginásio, observando o fim do treino de vôlei das meninas. O som da bola batendo no chão ecoava, misturado às risadas e conversas das jogadoras. Era sempre assim no final do treino, o clima descontraído, e ela gostava de ver a energia delas. Seu olhar vagou pelas atletas até parar em Rosamaria, que conversava animadamente com algumas colegas, rindo de algo que uma delas dissera. Sem querer, Luana sorriu ao ver aquela cena, mas logo desviou o olhar. Era hora de ir.

Ela se levantou, esticando os braços após o tempo sentado, e desceu os degraus da arquibancada em direção à saída. Seu pai estava lá, esperando por ela com aquele jeito tranquilo de sempre.

— E aí, pai? — disse Luana, sorrindo ao se aproximar.

— Tudo bem, filha? — Ele retribuiu o sorriso e a abraçou brevemente. — Vi que você tava ali só de olho, hein?

— Pois é, né. Gosto de assistir aos treinos das meninas, ajuda a relaxar — ela respondeu, ajeitando a mochila no ombro.

— Bom, falando nisso... O que acha de almoçar com a gente? Eu e as meninas estamos indo agora pro refeitório.

Luana hesitou por um segundo, mas logo aceitou a ideia. Não tinha nada melhor para fazer e, além disso, estava faminta.

— Claro, vamos nessa. Já tô morrendo de fome mesmo.

Os dois começaram a caminhar pelo corredor do ginásio, e logo o pai dela lançou um olhar meio pensativo, como se estivesse buscando as palavras certas para dizer algo. Luana já conhecia aquele olhar. Sempre que ele ficava desse jeito, vinha uma conversa meio complicada pela frente.

— Filha, sabe... eu tava pensando... — Ele pigarreou, um pouco desconfortável. — Acho que já tá na hora de você ter uma namorada.

Luana parou por um segundo, encarando o pai com uma expressão confusa. Não era a primeira vez que ele puxava esse assunto, mas ainda assim, pegava-a desprevenida.

— Hm, como assim, pai? — ela perguntou, embora já imaginasse a resposta.

— Sei lá, filha... Desde que você tinha 19 anos, eu pergunto isso. Sei que você é lésbica e tudo mais, e... é só que eu nunca te vejo com ninguém, sabe? — Ele a olhou com uma mistura de carinho e preocupação. — Meu sonho é te ver com alguém que te faça feliz. Às vezes, fico pensando se você não tá se fechando demais.

Ela suspirou, tentando disfarçar o incômodo. Não era como se ela estivesse evitando ter alguém, mas as coisas simplesmente não aconteciam com tanta facilidade quanto o pai parecia imaginar.

— Pai, eu entendo sua preocupação, de verdade... — disse ela, com um tom leve, mas firme. — Só que essas coisas não funcionam assim. Eu vou encontrar alguém na hora certa, não precisa ficar me pressionando.

Ele assentiu, mas Luana ainda notava um leve traço de preocupação nos olhos dele. Mesmo assim, ele deixou o assunto de lado, e os dois seguiram para o refeitório.

Ao chegarem, o lugar já estava bem movimentado, com várias jogadoras sentadas nas mesas. Luana e o pai pegaram suas bandejas e se sentaram próximos de algumas atletas, em uma mesa mais ao fundo. Ela estava prestes a dar a primeira garfada na comida quando sentiu o celular vibrar no bolso. Era uma mensagem de sua amiga Bia Zaneratto.

"E aí, cabaça... cadê tu?"

Ela riu discretamente antes de responder:

"Oi resto de aborto, tô aqui no CDV. Vim ver o treino das meninas."

Logo Bia respondeu, e as duas começaram a trocar mensagens. A conversa era cheia de piadinhas e provocações, típicas da amizade delas. Estava tão focada no celular que nem percebeu quando Gabi e Julia Bergmann se sentaram ao seu lado.

— Nossa, tá concentrada aí, hein? — disse Gabi, com um sorriso travesso.

Luana se sobressaltou, guardando o celular rapidamente.

— Ah, foi mal! — respondeu, rindo. — Tava falando com a Bia, ela não me deixa em paz.

— Nem a gente vai deixar — brincou Julia, pegando um pedaço da comida de Luana. — A gente sentou aqui pra fazer você socializar um pouco, não pra ficar no celular.

— Tá bom, tá bom — Luana riu, levantando as mãos como quem se rende. — O que vocês tão aprontando?

A conversa entre elas fluiu naturalmente, cheia de risadas e comentários sobre o treino, os próximos jogos e a vida fora do esporte. Gabi e Julia eram o tipo de pessoas que sempre faziam Luana se sentir à vontade, mesmo nos momentos mais casuais.

Enquanto as risadas continuavam, Luana deixou seu olhar vagar pelo refeitório novamente, e, sem querer, seus olhos pousaram em Rosamaria. Ela estava na mesa à frente, sorrindo e conversando animadamente com outras jogadoras. Havia algo naquele sorriso que prendia a atenção de Luana, e antes que percebesse, estava encarando Rosa por mais tempo do que o normal.

Como se sentisse o olhar, Rosa também olhou para Luana, e por alguns segundos, as duas ficaram apenas se observando, como se o tempo tivesse parado ao redor. Havia algo naquele momento, uma conexão silenciosa, que fez Luana sentir um leve frio na barriga.

— Luana? — A voz do pai a trouxe de volta à realidade.

— Oi? — ela piscou, voltando sua atenção para ele.

— Tá longe, hein? — ele brincou. — Eu tava falando e você nem aí.

— Ah, foi mal, pai. Tava só... distraída. — Luana tentou disfarçar, mas a imagem de Rosamaria ainda estava nítida em sua mente.

Logo depois, o almoço continuou com mais conversas descontraídas, mas aquele momento entre ela e Rosa permanecia na cabeça de Luana. Por mais que tentasse ignorar, a sensação de que havia algo diferente ali era difícil de afastar.

Depois de um tempo, Luana checou o relógio e percebeu que já estava na hora de voltar para o hotel. A equipe alviverde tinha um treino de academia na parte da tarde, e ela não podia se atrasar.

— Gente, eu vou ter que ir. Temos treino daqui a pouco e eu já tô meio em cima do horário — disse ela, se levantando da mesa.

— Ah, já? — perguntou Gabi, com uma expressão de falsa decepção. — Tá sempre fugindo da gente, Luana!

— Pois é, tô sempre na correria. Mas prometo que volto assim que puder — respondeu ela, rindo.

Ela se despediu de todas, abraçando Gabi e Julia rapidamente. Quando chegou ao pai, ele a puxou para um abraço apertado, deixando um beijo suave na testa dela.

— Se cuida, filha. E lembra do que eu falei, tá? — disse ele, com um sorriso carinhoso.

— Pode deixar, pai. Vou pensar no assunto — respondeu ela, com um sorriso leve.

Por fim, Luana virou-se para Rosamaria. O abraço entre elas foi rápido, mas o suficiente para ela sentir o coração acelerar um pouco mais do que o normal. Enquanto se afastava, olhou uma última vez para Rosa, que a observava com um sorriso discreto. Luana retribuiu o sorriso antes de sair do refeitório, sentindo o olhar de Rosa em suas costas.

Caminhando de volta para o hotel, Luana se sentia estranhamente dividida. A conversa com o pai, o momento com Rosa... Tudo parecia estar se misturando em sua cabeça. Ela sacudiu os ombros, tentando afastar aqueles pensamentos. Por enquanto, o foco era o treino.

— Preciso de uma boa corrida pra clarear a mente — murmurou para si mesma, enquanto se aproximava do hotel, pronta para encarar o resto do dia.

Fake love|Rosamaria Montibeller Onde histórias criam vida. Descubra agora