1) Apenas o começo..

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point of view: Estrela

A manhã chegou diferente. Desde o primeiro raio de luz, algo no ar parecia querer falar comigo, como se a natureza, na sua força silenciosa, quisesse me avisar de que nada seria como antes. O vento soprava denso, carregado de presságios, enquanto o mar, de onde estávamos, se revolvia em ondas violentas, como se espelhando a agitação que eu sentia por dentro. A terra do Amazonas, que se aproximava a cada quilômetro, vibrava sob os pneus do carro. O cheiro da mata úmida, do barro ancestral, parecia querer me puxar de volta. Algo estava para acontecer, e eu estava no centro de tudo.

Mas, apesar da tempestade que sentia em meu coração, mantive-me imóvel, com os olhos presos na estrada, o rosto neutro. Eu sabia porque estava ali. Havia uma promessa de sangue a ser cumprida, um destino traçado há mais de cem anos, muito antes de eu nascer. A maldição que a índia Karyon lançou sobre a família Brandons atravessou gerações, correndo como veneno pelo sangue da minha tribo, os Karuan. Um por um, os homens da família Brandons caíam misteriosamente, ano após ano, sem explicações. A vingança que meu povo jurou ainda não estava completa, mas hoje... hoje eu daria mais um passo em direção a isso.

Alberto Brandons, o homem sentado ao meu lado no carro, era minha ferramenta. Com o dobro da minha idade, sua figura corpulenta e cansada não me despertava nenhum sentimento além de nojo. Seus cabelos ralos, o bigode mal aparado, tudo nele me afastava. E, no entanto, lá estava eu, sua "namorada", a mulher que ele acreditava amar. Como um peixe preso na rede, Alberto estava completamente envolvido, encantado com cada gesto meu, cada palavra sussurrada. A realidade, porém, era muito mais fria. Eu estava aqui por uma missão, um juramento que meus pais fizeram em seu leito de morte.

Meus pais morreram há alguns anos em um acidente de carro, mas suas últimas palavras jamais me deixaram: "Nós vingue, faça a maldição se cumprir." Eram palavras que pesavam, palavras que moldaram minha infância. Desde muito nova, aprendi sobre a história da nossa tribo, a dor que os Brandons causaram, e o juramento que atravessava gerações. Para mim, não havia escolha. A cada amanhecer, lembrava a mim mesma o que me movia, o porquê de estar ao lado daquele homem que eu desprezava. Eu era a última esperança de minha família para cumprir a vingança.

O carro finalmente parou na entrada de uma grande propriedade, e a visão da enorme casa dos Brandons me trouxe de volta ao presente. Era imponente, cercada por campos vastos e árvores antigas, símbolos da riqueza e poder da família. Alberto abriu a porta do carro e desceu, ansioso.

— Ei, amor, nós já chegamos. Você não vai descer? — A voz dele tinha um tom de leveza que me enojava. Ele sorria, como se a simples visão de sua casa trouxesse conforto e segurança. Mal sabia ele o que estava por vir.

Respirei fundo, tentando acalmar o turbilhão dentro de mim, e desci do carro. O olhar de Helena, a mãe de Alberto, me encontrou assim que coloquei os pés no chão. Seu olhar era penetrante, quase como se ela pudesse enxergar através de mim. Era um olhar que me fez tremer por dentro, mas mantive a compostura. Eu tinha um papel a desempenhar, e faria isso com perfeição.

Caminhei em direção a eles com passos calculados, meus olhos varrendo o ambiente. As sobrinhas de Alberto, Verônica e Alice, logo vieram me cumprimentar. Verônica, a mais velha, tinha um sorriso leve e acolhedor. Ela se aproximou de mim e apertou minha mão, seu toque quente.

— Prazer, Estrela. Me chamo Verônica — disse ela, com uma doçura natural que me surpreendeu.

— Seja bem-vinda, Estrela — completou Alice, a mais jovem, tocando de leve em meu ombro com um sorriso sincero. — Ficamos felizes em saber que agora haverá mais uma mulher na casa. — Ela riu, e Verônica assentiu ao lado.

Respondi com um sorriso polido, mantendo a aparência de alguém que estava feliz por estar ali, quando na verdade, tudo dentro de mim gritava para me afastar.

O dia foi passando devagar, quase como um sonho do qual eu não conseguia acordar. Sentada no sofá da sala principal, observei a interação entre Alberto e sua família. Eles riam, conversavam, pareciam tão unidos. As sobrinhas estavam imersas em suas músicas, enquanto Helena e Alberto mantinham uma conversa animada. Por um breve momento, quase senti culpa. Eu estava prestes a destruir aquilo. Aquela harmonia, aquela vida que eles haviam construído... logo, tudo desmoronaria. E seria por minha causa.

Mas eu não podia me permitir vacilar. Esse não era o meu fardo. Eu era apenas o veículo para algo muito maior, uma vingança que não era minha, mas do meu povo. Engoli a culpa, forçando-a para o fundo da minha mente, onde não poderia me perturbar. Foi quando Verônica se aproximou novamente, com seu sorriso gentil.

— Você está tão quieta, aconteceu algo? — Ela sentou-se ao meu lado, olhando para mim com ternura.

— Não, querida. Está tudo bem — respondi, forçando um sorriso. — Eu costumo ser mais calada quando não conheço as pessoas direito.

Ela assentiu, parecendo entender, e se afastou, voltando para o lado de Alice. Mas antes que eu pudesse voltar aos meus pensamentos, senti a presença de Alberto ao meu lado. Ele se sentou e passou a mão levemente no meu rosto, com um toque que me causava repulsa.

— Amor, você está bem? — perguntou ele, com uma preocupação que quase parecia genuína.

— Sim, amor. — Respondi com um sorriso pequeno. — Só estou cansada da viagem.

Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, sua atenção foi desviada. A porta da casa se abriu, e o ambiente mudou instantaneamente. Um silêncio pesado caiu sobre a sala. Levi, o filho de Alberto, entrou. Eles não se viam há muitos anos, e a tensão entre pai e filho era palpável. Levi tinha uma presença forte, sua postura rígida e o olhar severo, cheio de mágoa. Ele parecia carregar um peso invisível, algo muito mais profundo do que as palavras trocadas poderiam expressar.

Alberto se levantou rapidamente, um misto de surpresa e emoção em seu rosto.

— Filho… quanto tempo — disse ele, com a voz embargada. Tentou abraçar Levi, mas o jovem manteve-se frio.

— Pai — respondeu Levi, sua voz cheia de um ressentimento que parecia não ter fim.

Eu assistia a tudo em silêncio, tentando decifrar aquele homem. Levi era diferente. Não era como Alberto, tão fácil de manipular. Havia algo nele que me deixava inquieta. Ele parecia ver mais do que as pessoas à sua volta, e eu sabia que precisaria ser muito mais cuidadosa com ele.

Alberto, tentando aliviar o clima, virou-se para mim.

— Levi, quero te apresentar alguém. Esta é Estrela. — Ele sorriu, sem suspeitar de nada.

Me levantei e caminhei até Levi, estendendo a mão.

— Me chamo Estrela — disse, firme, mas mantendo a gentileza.

Levi demorou alguns segundos para me responder. Ele me estudou de cima a baixo, como se estivesse tentando enxergar através de mim, como se pudesse sentir que eu não era quem parecia ser. Finalmente, ele apertou minha mão, firme, seu olhar fixo no meu.

— Prazer, Estrela. Levi.

E foi naquele momento que eu soube: a história, a verdadeira história, estava apenas começando.


Olá, autora aquii

Muito obrigada por ler até o fim deste primeiro capítulo. Espero que você tenha se envolvido na história de Estrela, Levi e a família Brandons. Estamos apenas no começo de uma trama cheia de mistérios, vingança e revelações surpreendentes. Prepare-se, porque o que vem a seguir é ainda mais intenso!

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⏰ Última atualização: Oct 12 ⏰

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