"Muitas coisas, depois de feitas — para não dizer todas —, não podem ser desfeitas. Uma delas é a ação, outra é a palavra e mais uma é a fofoca, depois de partilhada."
★
Sebastian
Ando por aí desolado e sem prestar atenção em nada. O que será que eu fiz dessa vez? Por que Liza quer terminar comigo?
— Caramba, que cara de defunto é essa? — pergunta Rayan em tom de zombaria.
— Rayan, o que faz uma garota ter vontade de terminar com você?
— Comigo? Nada, porque nada que eu fizer será suficientemente ruim para alguém terminar com uma beldade igual a mim. Mas, geralmente, você tem que ter feito alguma bosta muito grande!
Me jogo no banco atrás de mim, como um ser esvaído de alma e alegria.
— Mas por quê? Algo aconteceu? Olha, a faculdade realmente cansa, mas se estiverem tendo algum desentendimento, basta pedir desculpas e talvez as coisas voltem ao normal. Aliás, desentendimentos são super normais. Não fique assim só porque ela deve ter gritado bastante com você e...
— Rayan, a Liza quer terminar comigo!
— Puta merda! O que diabos você fez?
— E eu sei lá! Até agora pouco, eu acreditava fielmente que estava tudo bem, mas... escutei ela falando com a Katrina e, minha nossa... — Esfrego as mãos no rosto, já agoniado.
— Ei, cara, isso pede uma única coisa!
— O quê? — Olho para ele como quem implora para que um estúpido finalmente tenha alguma ideia genial, pelo menos uma vez na vida.
— Precisamos dar um jeito de você reconquistar ela. — Ele fala orgulhoso, como se isso fosse grande coisa.
— Ah é? E como diabos você pretende que eu reconquiste ela?
— Uai, cara, liberta o seu lado romântico, seja fofo, carinhoso e tudo mais, igual você era no início do seu relacionamento!
— Eu ainda sou romântico, tá legal? — Falo dando ênfase no "ainda".
— Tá, tá bom, vou fingir que acredito nisso.
[...]
É verdade que, ultimamente, não tenho tido muito tempo para ser o cara mais romântico do mundo. A faculdade de gastronomia e meu emprego como garçom têm tomado muito do meu tempo, só que, obviamente, eu jamais vou admitir isso na frente daquele convencido. Mas... será que estou sendo tão péssimo a esse nível?
Caminho inerte em meus pensamentos até que tropeço na desgraça de uma pedra. Quase dou de cara no chão, mas consigo manter o equilíbrio. Olho para o chão, prestes a chutar a bendita pedra, quando vejo que ela está cercada por um campo de girassóis. Isso me lembra a Liza. Ela ama girassóis. Me agacho e arranco um deles.
Eu ainda a amo tanto... Mas quer saber? Que se lasque. Eu não preciso dela. Posso muito bem achar uma mulher muito melhor. Se ela quer terminar comigo, é porque ela não merece uma pessoa como eu. Ainda perdido em pensamentos, chego em casa e abro a porta.
— Liza, cheguei! — Aviso como sempre faço.
Entro em casa, mas, antes que eu consiga dar mais que um passo, Liza se joga bruscamente em meus braços, me envolvendo em um abraço abrupto.
— Mas o que você... — Falo ainda confuso, enquanto retribuo o abraço.
O cheiro forte e adocicado de mel que vinha de Liza me deixa desnorteado. Sinto meu corpo vibrar e queimar ao sentir o corpo dela colado ao meu. Me perco nisso sem nem me dar conta de que ela já havia se afastado. Voltando à realidade, percebo as flores amassadas. Coloco-as sobre a mesa e tranco a porta.
Liza já tinha subido para o quarto quando termino. Vou tomar um banho para começar a estudar. Se tudo der certo, consigo ir dormir lá pelas onze da noite, no máximo.
[...]
Já fazem dois anos que eu e Liza decidimos dividir um apartamento, isto é, desde que fizemos dezoito anos. Sempre tivemos convicção de que iríamos morar juntos. Isso, além de ajudar com o dinheiro, também seria benéfico para nossa relação. Naquela época, eu nem cogitaria ouvir Liza dizer que tem vontade de terminar nosso namoro. Fico imaginando o que se passa na cabeça dela para decidir que seria uma ótima ideia falar sobre isso bem no restaurante onde eu trabalho. Bom, não era meu dia de trabalho, mas mesmo assim, ela não pensou que poderiam me chamar de última hora, como foi o caso?
Acabo de estudar, embora não me lembre de nada da matéria. Só consigo pensar na mesma coisa desde hoje de manhã. Levanto da mesa para fazer um cappuccino enquanto reviso o que escrevi.
Após ter certeza de que aprendi ao menos um pouco do que estudei, decido ir dormir. Ao arrumar a cama, percebo que estou sem cobertores. Acredito que tenha esquecido a maioria na casa de alguns amigos. Ou seja, preciso ir ao quarto de Liza pegar algum edredom emprestado. Isso me lembra quanto tempo faz que dormi junto com ela no quarto. Acho que a última vez foi no início do ano, quando estava chovendo forte demais e ela ficou com medo e me pediu para dormir lá.
Enquanto caminho até o quarto dela, solto algumas risadas fracas ao me lembrar que "armei" uma barraca de cobertores na cama para dormirmos. Antes de entrar no quarto, bato na porta. Ao ouvir um "pode entrar", respiro fundo, abro a porta e me escoro no batente. Liza me encara.
— Precisa de alguma coisa?
— Bem, estou sem edredons. Queria saber se poderia me emprestar algum.
— Ah, claro! — Ela vai até o armário e pega um edredom de gatinho, maior que ela.
— Pode deixar que eu levo, obrigado! — Falo, pegando o edredom de sua mão, após ela escorregar na parte que estava arrastando no chão e cair sentada na cama.
Dou uma última olhada nela antes de sair. Ela estava usando seu pijama favorito, um conjunto com desenhos de melancia na blusa e a calça cheia de bolinhas. Ela me dá um sorriso fino e eu saio.
Após escovar os dentes, estava indo para o meu quarto dormir, mas, ao passar pelo quarto de Elizabeth, que estava com a porta ainda aberta, vejo-a deitada, lendo. Desde que a conheço, quase sempre que ela tem tempo livre, está lendo ou escrevendo, o que admiro muito, pois Liza tem um talento nato para a escrita. Desde que a conheci, com cinco anos, ela tem evoluído bastante.
Paro em frente ao quarto, penso um pouco e decido entrar. Ela olha de soslaio para mim, e eu me aproximo da cama.
— Precisa de mais alguma coisa? — Ela pergunta sem tirar os olhos do livro.
— Não, na verdade só vim te dar boa noite...
Ela finalmente me encara, obviamente sem saber o que dizer. Eu me curvo um pouco e a abraço.
— Tenha uma boa noite, Liza. Durma bem e tenha bons sonhos. Eu te amo. — Falo e dou um beijo em sua testa.
— Boa... noite.
Ela fala timidamente, ainda meio desconcertada. Eu sorrio para ela e saio do quarto, fechando a porta. Voltando ao meu quarto, me deito e fico pensando.
No final, cheguei à conclusão que já imaginava que iria chegar. Não importa o quanto eu tente ou me esforce, Elizabeth é a única pessoa com quem me imagino sendo feliz e tendo uma família. Eu preciso dela, afinal, ela é como o ar que eu respiro desde que a conheci, ou seja, há quinze anos.
Elizabeth, você é a mulher da minha vida, e eu não vou te perder por nada. Vou me esforçar o quanto estiver ao meu alcance — e, se necessário, até o que estiver fora do meu alcance — para que você não precise terminar comigo.
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Nós ainda somos o melhor casal
RomanceElizabeth Rodrigues é uma daquelas garotas totalmente invejáveis, além de seu rostinho bonito, cachos escuros e inteligência ela carrega o fardo de um relacionamento que dura á quatro anos, isso é, desde o primeiro ano do ensino médio, até agora, co...