Eu sempre fui.

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Pov: Agatha Harkness
Eu estava exausta.

Como se não bastassem os três anos em que aquela bruxa me manteve aprisionada em uma cidadezinha, fingindo ser apenas uma vizinha fofoqueira. Agora aqui estou eu, trilhando o Caminho das Bruxas, em busca de poder. Como se fosse uma jovem bruxa de novo.

Bom, não que eu precisasse disso. O poder sempre veio até mim, mesmo quando eu não o queria. Talvez esse seja o meu verdadeiro fardo...

E, para piorar, eu ainda teria que suportar a presença dela? Eu tentei evitar isso - rasguei (e engoli) aquele maldito papel com um coração preto rabiscado e fugi, como venho fugindo dela há séculos.

Mas, aqui estou eu de novo, paralisada, enquanto ouço seus passos se aproximarem. Não que fosse necessário ouvi-los. O perfume de Rio permanece nela, mesmo misturado à terra e ao suor. Hortelã e dama-da-noite parecem exalar de sua pele. Como se aquele aroma tivesse se entranhado em mim, mesmo depois de tanto tempo longe...

Eu ouvi suas palavras - ela declarando seu amor, me chamando de sua cicatriz. Cada frase atravessou meu corpo como chamas, incendiando e reacendendo tudo que um dia já queimou por ela. Rio sempre me causou essa sensação: fogo no seu auge, devastador.

Cada palavra que escapava de seus lábios me fazia querer fugir. Fugir da tentação, do sentimento, do rancor. Fugir dela. Mas ela está aqui, se aproximando, trazendo com ela esse maldito cheiro.

Eu senti quando seus dedos tocaram a pele das minhas costas, mas era como se todo o meu corpo já estivesse ansiando por aquilo. Como se eu sentisse falta do seu toque da mesma forma que alguém sente falta de outra pessoa.

Como se cada célula minha precisasse dela para se manter estável, como se todo o meu ser clamasse por sua presença.

Com um único toque, ela me despertou de algo do qual eu acreditava ter fugido.

Droga.

Pov: Rio Vidal
Eu precisava ir atrás dela.

Eu precisava senti-la se desfazendo por mim. Precisava saber que ainda causava efeito nela.
Com meu olhar.
Com a minha presença.
Precisava sentir que ainda tinha poder sobre ela.

Meus dedos deslizaram por entre os cabelos de Agatha, dançando em suas costas. Eu a senti estremecer, pedir por mais em um gemido quase inaudível.

Ela se virou para mim, os olhos implorando por mais, desejando mais. Suas mãos encontraram meus cabelos, e quando ela me abraçou, foi como voltar para casa.

Agatha se afastou e prendeu seu olhar no meu, como se eu pudesse ver os astros refletidos em seus olhos. Ela desceu o olhar para minha boca, um pedido silencioso de permissão.

Eu mordi os lábios, tentando resistir, mas era impossível ignorar o efeito que ela ainda tinha sobre mim.

- Agatha - Eu disse, com a voz rouca, lutando contra mim mesma por autocontrole.

- Hm? - Ela mal conseguiu responder, com esforço visível ao se afastar.

- O garoto não é seu.

O olhar dela me despedaçou. Como há anos, quando ela - nós - perdeu Nicholas. Foi como feri-la de novo, com precisão cirúrgica.

- Eu... Eu precisava te dizer. Não pode se perder em uma fantasia. Ele não é o Nicho...

- Não!

- Agatha...

- Não fale o nome dele!

- Agatha, me escuta.

- Não, você não pode.

I Can't Remember To Forget You ࿐ AgatharioOnde histórias criam vida. Descubra agora