| 𝚃𝚑𝚎 𝚃𝚛𝚞𝚎 𝚂𝚊𝚟𝚒𝚘𝚛 | 𝙵𝚊𝚗𝚏𝚒𝚌 𝙱𝚃𝚂

Extra 04

James era o irmão do meio em sua família. Seu pai, um contador bem-sucedido, ostentava uma vida de abundância, enquanto sua mãe dedicava seus dias ao cuidado da casa, da cozinha e, acima de tudo, ao amor pelos filhos — pelo menos, pelos dois filhos que ela realmente amava.

Entre os irmãos, James era o mais magro e se via constantemente preso a uma busca insaciável pela aprovação dos pais. O irmão mais velho era o prodígio da família, exalando perfeição em tudo o que fazia, enquanto os pais o veneravam como se fosse a própria encarnação da excelência. Já o irmão mais novo, frágil e doce, era o centro de todos os mimos da mãe. E ali, entre esses extremos, estava James — solitário, inquieto, sempre à margem.

Aos quinze anos, decidiu se juntar aos Wings, impulsionado por uma briga insignificante com o pai. Naquele momento, toda a frustração acumulada transbordou, mas o pai parecia impassível, como se as palavras de James fossem nada mais que o som distante de uma tempestade que não o atingiria.

No dia de seu décimo oitavo aniversário, foi integrado à equipe de Zart. Conhecido por seu comportamento irreverente e desafiador, James não era um mistério para ninguém. Contudo, algo inesperado aconteceu quando conheceu uma garota "nerd" e baixinha, com uma atitude destemida, que não baixava a cabeça para ninguém.

A dinâmica entre eles era, no mínimo, curiosa. James, sempre animado e expressivo, enchia o ambiente com sua energia contagiante, falando sem parar, gesticulando com entusiasmo, como se cada palavra tivesse vida própria. Samy, por outro lado, era o completo oposto. Silenciosa e apática, ela preferia observar mais do que falar, seus olhos atentos captando cada detalhe enquanto permanecia envolta em uma quietude quase desconcertante. A diferença entre eles criava um contraste fascinante, como se James e Samy existissem em mundos paralelos.

De alguma forma, James acabou se tornando amigo de Samy. Valerie sempre mantinha uma postura reservada, sem dar muita abertura para que se aproximassem, então, apesar de serem amigos, a ligação entre James e Valerie nunca foi tão profunda quanto a que ele desenvolveu com Samy. A garota não ligava muito para as regras e, com o tempo, James foi desvendando cada linha que compunha a história dela. Samy era um prodígio, de alguma forma possuía muito dinheiro e era atraída por ações que desafiavam o sistema. Durante esse período, James começou a questionar os Originais; ele nunca havia se perguntado por que os Angels se esforçavam tanto para mudar as colônias, mas ao observar como Samy agia, passou a ter uma nova visão sobre o regime que os Originais impunham.

Quando Samy saiu do isolamento, após dias de interrogatório, James sentiu um alívio imenso. No início, ele quis fazer algo para tirá-la de lá, mas sabia que isso arriscaria tudo. Então, ele esperou, mais do que podia suportar, e quando Samy finalmente saiu, estava mais magra e pálida. Por mais que James a tenha questionado, ela não revelou o que Zart havia feito. Naquela mesma noite, os dois fugiram. James não hesitou nem por um instante; ele queria estar ao lado de Samy, não importava onde.

A chegada ao local onde a maleta de Samy estava foi um tanto conturbada, com uma tensão no ar que parecia não querer se dissipar. Valerie demorou um pouco para aparecer, e o tempo até então parecia se arrastar. Quando ela finalmente surgiu, a equipe, embora desconfiada, ofereceu abrigo e comida, além de analisar a saúde de Samy e James, o que foi um grande alívio para ambos.

Enquanto os dias se passavam, James percebeu algo diferente em Valerie. Ela parecia mais leve, menos robótica, quase feliz. Essa mudança em seu comportamento chamou a atenção de James, que se perguntou o que poderia ter acontecido para transformar alguém que antes era tão fechada e mecânica.

Foi então que James notou algo mais. Não era apenas a equipe reunida naquele loft apertado, mas também o ruivo de semblante sempre mal-humorado, Jung Hoseok. O mesmo Hoseok que havia feito Valerie virar as costas para tudo e fugir para a Colônia Três. Ele claramente parecia desprezar a maioria ao seu redor, raramente esboçava um sorriso, mas bastava Valerie dizer algo para que um sorriso discreto surgisse em seu rosto. E Valerie, por sua vez, agia de forma diferente quando estava perto dele.