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Hoseok não mantinha o olhar sobre Valerie por mais de um segundo.

Assim que chegaram ao esconderijo, Valerie acompanhou Maria até seu quarto e esperou ela entrar no banheiro para voltar até Seokjin e procurar ajuda para seu ferimento. Normalmente, na C2 o processo de cura seria mil vezes mais rápido que os utensílios ultrapassados que Seokjin usava, mas ela não diria isso. Após esperar ele cuidar de Jimin que havia se machucado, um corte que se localizava perto da costela, e parecia ser profundo; Valerie ficou decepcionada ao ouvir Yoongi chamar Seokjin para ir até conselho. A palavra "Urgente" No fim da frase só constatou o quão era importante a presença do médico lá.

Foi por isso que Seokjin não teve escolha ao pedir Hoseok para finalizar o curativo de Valerie, já que Taehyung estava com Jimin, Maria estava dormindo, e Jungkook havia desaparecido, os outros integrantes simplesmente sumiram como fumaça durante a noite. Sobrou um Hoseok, não muito habilidoso, mas Seokjin já fizera a metade do trabalho, Hoseok praticamente precisava limpar. Valerie podia fazer isso, se não estivesse tomado uma pequena anestesia e seus braços estivessem... fracos.

Hoseok puxou o ar com força e andou até a pia procurando os gases, os curativos e o que fosse necessário para limpar o ferimento de Valerie. Uma missão simples para qualquer um. No entanto, sua preocupação era se Valerie poderia ouvir seu coração gritar.

— Seu braço por favor. — Pediu ao vê-la encarando a parede, preocupada, talvez, mas de qualquer forma, distante.

Valerie então ergueu um pouco o braço e encarou enfim Hoseok. O contato repentino e um pouco sutil tinha pressa em sua forma. O mármore já não estava tão frio e o vestido vermelho de Valerie cobria metade da pia. Sua pele se arrepiou quando Hoseok a tocou, delicado, simples e ágil. Limpava o sangue já seco que escorreu pela lateral do braço de Valerie. Nenhum dos dois ousava dizer algo, e era de certa forma um incômodo.

Hoseok prendia a respiração toda vez que se aproximava de Valerie, seu cheiro era entorpecente, ele ficava embriagado e sua mente girava em lembranças que lutava tanto para guardar. E o consumia por completo sem nem ao menos perceber.

As mãos firmes de Hoseok começou em enfaixar o braço de Valerie com o curativo, o toque, por mais rápido que fosse, era nostálgico. Ele queria segurar ela em seus braços.

Valerie o observou, seus olhos tristes, a respiração pesada e contida, suas linhas de expressão rígidas, seu lábio rosado e seu cabelo ruivo tampando sua testa. Uma cicatriz localizada perto da bochecha de Hoseok, chamou a atenção de Valerie, e sem prensar ela levou sua mão até ela; o dedo indicador esticado tocou devagar a pele de Hoseok, que parou. Tudo parou. Os dois nada disseram e Valerie notou o que fez. Hoseok olhou para Valerie em um segundo sem fim.

Eram como galaxias em combustão, um buraco negro, tao lindo, e perigoso. Hoseok se afastou um pouco e Valerie abaixou a mão desviando o olhar. Queria perguntar como ele adquiriu a cicatriz, mas a porta para o diálogo estava fechada e trancada, e quem continha a chave era Hoseok. Este que não tinha o desejo de abri-la tão cedo.

Pelo menos era o que Valerie pensava.

Ela direcionou seus pensamentos a outros fatos que lhe incomodava, o fato da missão ter sido um fracasso; o fato dela ter se machucado; o fato de Jungkook ter feito algo digno e ninguém ter notado isso. Era perturbador.

Sua cabeça repetia os "e se"

E se eles achassem os angel?

E se ela fosse condenada por traição?

E se a causa fosse por água a baixo por conta de uma afronta ao original?

Não era sua culpa, sabia disso, mas sentia como fosse sua responsabilidade. Como se ela fosse o caminho errado que eles percorriam.

Afinal, ela era um erro, uma equação sem resposta; algo que só trouxe mágoa e preocupação, nenhuma solução.

Mas o que ela devia fazer? Ir embora? Se sim, para aonde iria?

E se ela fosse, ela poderia manter contado com os angels mesmo assim? Mas não faria sentido manter contato.

Sua cabeça doía, e ela sabia o porquê. Sua mente estava danificada, ela podia ainda se chamar Valerie, mas não era mais a mesma, isso a decepcionava.

— Respire. — Valerie parou de pensar quando ouviu a voz de Hoseok tão perto. — Esta segurando a respiração, respira.

E Valerie soltou o ar, não que estava segurando a respiração, não propositalmente.

— Você costumava fugir quando as coisas davam errado, sempre tomando a responsabilidade para si, como se fosse resolver toda a situação. Se essa parte ainda for igual, não precisa se culpar por algo que você não cometeu.

Hoseok terminou de enfaixar o braço de Valerie e encarou ela novamente. Tinha tantas respostas na ponta da língua, tantas historias a serem contadas, mas ele não conseguia dizer nada.

— OK — Foi a única coisa que Valerie conseguiu pronunciar.

Hoseok lavou as mãos na pia e jogou algumas coisas no lixo, enxugou as mãos na barra do paletó preto. Surpreendentemente ele levou a mão até o cabelo solto de Valerie e tirou alguns vidros que estavam sobre alguns fios, parecia um carinho simples. Ele encarou seus olhos profundos e curiosos e disse baixo em um sussurro imerso.

— Não fuja. — Valerie prendeu a respiração de novo, como se o ato fosse por um fim naquele momento um tanto... necessário.

Logo Hoseok saiu, deixando a confusão na mente de Valerie. Mas não foi o pedido que assustou Valerie, por mais surpresa que tenha ficado, o que chamou sua atenção foi como sua mente gritava e seu peito dançava em ardência. Respire, ela se lembrou, Respire Valerie.

Ela se levantou e se virou para o espelho, seu cabelo estava uma bagunça e suas mãos continham algumas feridas. Sua mente então Piscou e a única coisa que conseguiu pensar foi no nome de uma pessoa. Maria.

Valerie se direcionou a saída daquele cômodo e andou depressa. precisava de um banho urgentemente, seus pés estavam sujos e ela não fazia ideia de onde seus saltos foram parar, o que era a única coisa boa gerada daquele evento catastrófico. Ela correu pela sala, ignorando o restante da equipe, na verdade, fingindo ignorar. Porque era notável que todos estavam decepcionados e talvez irados com tudo que aconteceu. Mas ela realmente precisava trocar de roupa pelo menos.

Passou pelo corredor tentando não tropeçar no vestido e entrou em seu quarto fechando porta. Procurou no meio das roupas jogadas pelo cômodo algo que ainda poderia se vestir. Prendeu o cabelo e trocou de roupa o mais rápido possível, ainda descalços saiu do quarto ajeitando a camisa um pouco grande demais e andou em direção ao quarto de Maria.

Bateu uma, duas e três vezes, então ela abriu. O cabelo curto pingava pelo banho recém-tomado e ela vestia um camisão quase maior que ela; e um shorts jeans preto. Seus olhos estavam vermelhos e Valerie soube assim que a viu que não estava bem.

— Entre. — Disse dando espaço para que Valerie entrasse, e assim fez.

Para sua surpresa, ou nem tanto, Jungkook estava sentado no chão distante da cama de Maria, perto do que poderia ser uma escrivaninha. A decoração do quarto era bem mais interessante que a de Valerie, era mais original, com pôsteres na parece e desenhos em quase toda parte. Jungkook encarou Valerie sem esboçar nenhuma reação ou dizer nada. Maria se jogou na cama, de barriga para baixo ela escondeu o rosto no travesseiro. Valerie por alguns minutos ficou sem saber o que fazer. Parada no meio daquele quarto, sentindo dever fazer algo, mas o quê?

Ela então se sentou ao lado da cama de Maria, e encarou a garota, Valerie levou sua mão até o cabelo de Maria, acariciou em um carinho simples. Era o que podia fazer, seu peito gritava que ela devia estar ali, devia apoiar e ser um pilar para que Maria não caísse. Por algum motivo ela sentia precisar fazer aquilo. Maria fungou baixinho e Valerie deitou sua cabeça no colchão sem cessar o carinho. E assim permaneceu até que Maria pegasse no sono. 

Hiatus :( |  𝚃𝚑𝚎 𝚃𝚛𝚞𝚎 𝚂𝚊𝚟𝚒𝚘𝚛  |  𝙵𝚊𝚗𝚏𝚒𝚌 𝙱𝚃𝚂Onde histórias criam vida. Descubra agora