Muni Long - Hrs & Hrs

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"When you do what you do I'm empowered
You give me a superpower
Together, the world could be ours"

"Quando você faz o que faz, fico empoderada
Você me dá superpoderes
Juntos, o mundo pode ser nosso"

Faye POV

O parque estava cheio naquela manhã de domingo. Algumas pessoas acompanhadas pelos seus animais, casais de adolescentes apaixonados e casais de idosos com anos de romance vividos estampados em cada ruga. Observar nunca tinha sido o meu forte até há uns anos atrás, normalmente eu era uma mulher de ação e reação, o passado falava por mim.
Deitei-me sob o manto esticado na relva a descansar um pouco, no telemóvel tocava uma playlist de jazz e o caderno de desenhos estava ao meu lado, junto com os lápis e algumas canetas de cor que tinha trazido à última da hora. Encarando o céu azul, respirei fundo enquanto fechei os olhos por momentos e concentrei-me nos sons à minha volta. Acabei por me lembrar dos tempos de festa e maluquice da minha juventude, as bebedeiras e as mulheres, as noites perdidas em lives com os fãs até às tantas, a expôr uma versão minha que já não se enquadrava na realidade que estava a viver.

Desde que tinha fechado o contrato com a Nine, a minha vida mudara bastante, a maturidade acompanhou-me também e ajudou-me a tomar as decisões de moldar uma nova versão minha que aceitei, era inevitável.
Mantinha amizades desses anos loucos, mas poucas perceberam que a minha mudança estava a ser para melhor, então e se calhar por serem amizades que se tornaram um pouco tóxicas, acabei por decidir o que era o melhor para mim, afastando-me da convivência, mantendo o contacto formal e cordial. Montei o meu negócio antes da segunda série da Nine ser lançada, o êxito de Blank proporcionou uma adesão maior do público feminino - e masculino também - promovendo ainda mais o sucesso dos GL's tailandeses no mercado internacional. Dois anos depois do meu salão de estética ter sido inaugurado, acabei por ter de tirar férias obrigatórias, precisava urgentemente de descanso, principalmente porque estive à beira de um esgotamento, entre trabalho e gravar outra série.

Abri os olhos novamente e ergui o tronco um pouco do chão, descansando o mesmo sobre os meus cotovelos. O cheiro suave a algodão doce invadiu os meus sentidos e vi uma fila enorme de pais com os filhos à espera para comprar o doce, alguns cães a brincarem ali perto e o barulho incessante de gargalhadas infantis. Se dissessem à Faye Peraya de há uns anos atrás que hoje iria agradecer por estar semi-deitada na relva de um parque familiar na cidade, simplesmente a respirar fundo e a pintar, ela ia-vos mandar dar uma volta. No passado existia uma Faye que recusava-se a abrir o coração, deleitando-se em abrir pernas em cenas de uma noite, uma Faye que preferia a agitação ao sossego, que vivia para agradar os outros esquecendo-se de si.
Essa Faye tinha ficado no passado, morreu no momento que entrei no casting de Blank, transformou-se quando vi bochechas coradas, um sorriso deslumbrante e olhos castanhos puxadinhos que me mostraram o universo.
Uma nova versão minha nasceu quando lábios rosados tocaram os meus, tímidos, durante o workshop das love scenes. Aprendi o que era o sentido de fazer amor quando um corpo nu estremeceu contra o meu num orgasmo de uma noite depois de ter feito ramyeon em minha casa, aprendi o que era amor recíproco quando chorava, perdida no meu luto, aprendi a acreditar num futuro a dois quando fiz a promessa de não ir a lado nenhum se ela ficasse a meu lado. A nova versão afincou-se no meu íntimo quando, após o contrato da Nine ter findado, reconheci o namoro publicamente e não esperei para colocar o anel no seu dedo e consequentemente o meu coração nas mãos delicadas mas que seguravam-me cada vez que me sentia cair.
Passei a ter uma maturidade que desejara nos meus tempos loucos, tudo o que manifestara numa vida, tinha-se materializado sem que eu esperasse.

Abri um sorriso quando duas mãos taparam os meus olhos e um corpo colou-se nas minhas costas, novamente o cheiro a algodão doce tomou o meu olfato.
Deitei o meu corpo por completo, ouvindo a gargalhada que soava e senti o peso de quem me tapou a vista por cima de mim.
"Adivinha quem é?", a voz travessa não deixou margem para dúvida, e com os meus olhos tapados, encontrei o ponto fraco no abdómen do meu alvo, fazendo cócegas e rindo também ao ouvir a melodia doce da gargalhada que se seguiu.
A minha visão, agora descoberta, encontrou bochechas coradas e um sorriso traquina mas feliz, os mesmos olhos castanhos puxadinhos numa versão mini da minha esposa.
"Mamã, assim não vale! Maaaaae, ajuda!", o pequeno clamou, e senti, finalmente, um par de braços em volta da minha cintura e curvas modelaram-se nas minhas costas, uma respiração no meu ouvido que ainda me causava arrepios e um roçar de lábios na minha bochecha.
"Ele tem o teu sorriso, sabias?", o meu corpo relaxou automaticamente ao sentir o dela, afrouxando a tortura ao nosso pequeno milagre.
"Ele pediu-te ajuda e tu elogias-me? Tsc, tsc."
Vimos o nosso filho escapar numa corrida à nossa frente, ainda a gargalhar.
"Parece que resultou, não foi?", a frase proferida tinha tom brincalhão e virei um pouco o rosto para encarar a minha esposa.
"Quando chegarmos a casa, eu mostro-te o quanto amo receber elogios teus.", recebi um arquear de sobrancelhas e a visivel mudança da tonalidade dos olhos castanhos que eu amava, beijei-a, um toque suave e não aprofundado devido ao sitio onde estávamos, contentámo-nos em ver o nosso filho brincar com as outras crianças.
Olhei novamente para os céus, agradecendo ao universo as mudanças que tinham acontecido, eu era uma Faye completa com Yoko, o nosso amor transbordou e deu-nos o nosso filho.

Quem me dera que a vida fosse domingos passados com cheiro de algodão doce e relva debaixo do corpo.

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Boas leituras maltinha
Vale relembrar que estas one shots são AU's :)

Baseada numa playlist - ONESHOTS - FayeYokoOnde histórias criam vida. Descubra agora