Capítulo 2.

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Acordo com o som suave dos pássaros do lado de fora. A luz da manhã invade o quarto através das cortinas mal fechadas, iluminando o espaço de forma quase aconchegante. Tento me lembrar de onde estou por um breve segundo, antes que tudo volte à tona — Forst Moon, a pequena cidade onde tudo parece tão pacífico, mas que esconde segredos que eu preciso descobrir.

Espreguiço-me e saio da cama, calçando as botas de couro que ainda estavam no chão, do jeito que as deixei ontem à noite. Me olho no espelho e solto o ar que estava em meus pulmões. Que cena deprimente. Meu cabelo não tem como estar mais bagunçado e meu rosto entrega que não tenho um sono tranquilo a dias.
Mas hoje o dia será dedicado a conhecer a cidade, ver as pessoas, observar o ambiente. Não posso me dar ao luxo de parecer uma estranha por muito tempo. Preciso me misturar, me familiarizar com tudo e com todos. É o primeiro passo.

Depois de lavar o rosto rapidamente e prender meu cabelo em um coque, pego minha jaqueta e desço as escadas da pousada. A velha escadaria range a cada passo, como se estivesse me avisando para ser cuidadosa, para não abaixar a guarda. Ignoro a sensação e me concentro no cheiro de café recém-passado que permeia o ar. Ao atravessar o saguão, a simpática senhora da recepção, Grace, me dá um aceno caloroso, e eu retribuo com um sorriso breve.

- Bom dia, menina! Como foi a primeira noite? - pergunta parecendo realmente interessada

- Bom dia, Grace! Foi muito boa, mas ouvi algumas vozes altas durante a madrugada, acho que vinham da praça - respondo na esperança de ela saber de onde vieram os sons.

- Provavelmente era a Anne na praça. Ela costuma passar as noites de sexta na praça com os meninos amigos dela - responde enquanto serve uma xícara de café e estende para mim - Ela não é do tipo silenciosa - dá um sorrisinho para mim e vejo que não é só eu que a voz incomoda.

- Sabe onde vende tampões por aqui? - respondo soltando um riso e sendo correspondida por Grace

Tomo meu café e me despeço de Grace, seguindo para a porta de saída da pousada. A rua está tão tranquila quanto ontem. As pessoas caminham despreocupadas, algumas cumprimentando os vizinhos com sorrisos genuínos. A cidade, com suas lojas charmosas e ruas arborizadas, parece ser tirada de um postal antigo. Um lugar que poderia fazer qualquer um se sentir em casa — exceto eu, claro. Mas ainda assim, tem algo reconfortante em ver essa vida simples e previsível. Quase me faz esquecer por que estou aqui. Quase.

Eu ando por algumas quadras até que uma pequena cafeteria chama minha atenção. A placa de madeira acima da porta diz "Café da Lua", com letras elegantes e detalhadas, algo que não esperava ver em um lugar tão escondido do mundo. O cheiro que sai de dentro me atrai, e, sem pensar duas vezes, empurro a porta e entro.

O interior é acolhedor, com móveis de madeira escura, prateleiras cheias de livros antigos e uma lareira no canto, que dá à pequena sala uma atmosfera quase familiar. Algumas mesas estão ocupadas, mas a maioria vazia. No balcão, uma jovem atendente está ocupada limpando uma xícara, mas levanta os olhos assim que entro.

— Bom dia! — A voz dela é doce, quase musical. — Você deve ser nova por aqui. Nunca te vi antes.

— Sou, sim — respondo, tentando não parecer tão deslocada quanto me sinto. — Acabei de chegar à cidade, ontem a noite.

Ela sorri, e há algo genuíno na sua expressão que me faz relaxar um pouco. Ela é jovem, talvez uns vinte e poucos anos, com cabelos loiros presos em uma trança e um avental florido que combina com a estética fofa do lugar.

— Bem-vinda a Forst Moon! — diz ela com entusiasmo. — Eu sou Linda. O que posso te oferecer?

— Uma torta seria ótimo — digo, enquanto me sento em uma das cadeiras altas no balcão.

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⏰ Última atualização: Oct 14, 2024 ⏰

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